sexta-feira, dezembro 22, 2006

Feliz Natal

Estarei ausente para uma breve pausa de Natal
Prometo regressar em breve, com novidades, nomeadamente da sucesso que foi o TAG em Exeter. Também o recente relatório da OCDE e o novo modelo de governação para o Ensino Superior, serão temas para novos posts.
Até lá Feliz Natal, e se não nos virmos antes Feliz Ano Novo.

domingo, dezembro 10, 2006

Memoria



Fonte: Wikipedia

"Había aprendido sin esfuerzo el inglés, el francés, el portugués, el latín. Sospecho, sin embargo, que no era muy capaz de pensar. Pensar es olvidar diferencias, es generalizar, abstraer. En el abarrotado mundo de Funes no había sino detalles, casi inmediatos."

Jorge Luis Borges, Funes el Memorioso

As tipologias, esses finos detalhes da memória que não chegam a nada. E que dizer das generalizações que delas saiem...

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Não Discutir II - Não ter medo



Manifestação da oposição democrática (1958)
Fonte: You Tube

Perante todo o clima que existe hoje em Portugal vejo o regresso do medo. Testemunhei-o directamente enquanto delegado sindical. Perante o cenário de despedimentos as pessoas preferem tapar os ouvidos, fechar os olhos, tapar a boca. Como se uma arma estivesse apontada à sua cabeça e a sua única reacção fosse encolher-se muito e de olhos fechados pensar "Oxalá não doa muito".
O comportamento é ridículo por duas razões, primeiro porque que eu saiba ainda vivemos numa democracia, segundo porque da mesma experiência depreendi que o medo era absolutamente infundado e devia-se a uma razão estrutural que vem do tempo destas imagens. Um país com medo é um país medíocre. Nesse mesmo país medíocre os sindicatos são vistos como algo parecido ao modo como o regime salazarista via a oposição democrática: arruaceiros.
Este é sem dúvida um país fechado que as pessoas com medo não querem abrir. Não querem abrir porque temem que venha quem é melhor, quem saiba mais, quem possa fragilizar o seu poder…
À medida que as Universidades iam fechando as suas admissões, alguns dos que tinham qualidade foram encontrando espaço noutras instituições. O azar de uns foi a sorte de outros. O sítio onde trabalho possui uma história assim. Lentamente foi-se construindo um departamento com gente capaz, com potencial e qualidade (neste momento quase todos defenderão a sua tese de doutoramento ainda este ano). Aconteceu o mesmo com as empresas de arqueologia, muitas formadas por pessoas extremamente capazes e de enorme potencial.
Ouvi dizer que na FLUP os alunos manifestaram-se contra as reformas de Bolonha por este vir a ser o fim da arqueologia por lá. Para quem conhece o esforço que a escola do Porto desenvolveu para montar um projecto sério, isto parece incrível.
O que antevejo como cenário para a arqueologia no Ensino Superior não parece nada de bom. Sentados no seu lugar confortável muitos nunca ligaram à importância das redes europeias, à contratação de gente inovadora, etc etc. Quanto muito importaram-se por conseguir mais poder. Outros com vontade viram-se manietados pelo lastro. Agora...

domingo, dezembro 03, 2006

Advento

Estava a chegar a casa, após a minha volta-reflexão habitual dos Domingos quando perto da minha porta me deparo com o cenário: Um pai natal preso por uma corda à entrada de uma loja.
Nâo sei o que levou aquele Pai Natal a tomar tal medida drástica de por fim à sua vida. O seu suícidio pode até ser a prova para alguns de que de facto existiu.
Não sei se é um fenómeno exclusivo de Portugal ou se o Pai Natal está a suicidar-se um pouco por todo o mundo.
Será o sinal face à crise económica? Será por causa do sentido que toma este mundo? Será devido ao Iraque e ao Médio Oriente? Achará ele que foi enganado pelos meninos a quem deu prendas por se portarem bem em tempos e que agora se demonstram ser uns sacanas sem escrupulos ávidos por questões mundanas? Terá ele sentido que falhou?
Não sabemos, mas esperamos pelo anuncio da Vodafone deste ano. Talvez tudo faça parte de mais um happening publicitário.
Ou talvez o Pai Natal, depois de ter enveredado por uma vida de excessos conduzida pela fama, tenha entrado em depressão, e após se ver dependente de Paroxetina, tenha finalmente decidido a acabar com tudo, de modo público como denuncia do que o levou a tal acto.
No meio de todo o reboliço que se tornou este mundo excessivo, parece-me que surge a oportunidade para o menino Jesus. Afinal começa a parecer que apenas ele nos pode salvar do que matou o Pai Natal.

quinta-feira, novembro 30, 2006

Não discutir



Discurso comemorativo dos 10 anos do 28 de Maio.
Fonte: You Tube

A tradição de Não Discutir vem de longe na sociedade portuguesa. O hábito de dialogar, confrontar, discutir não possui raízes. Basta ir por exemplo a um qualquer congresso e ver o que se passa por lá.
Por vezes até mesmo entre amigos é difícil ter reuniões em que as pessoas contribuam com algo efectivo. A noção de interlocutor não existe.
Isto também faz com que as pessoas não saibam discutir. Muitas vezes confunde-se o discutir assuntos com provocações pessoais, ataques e naturalmente que tudo acaba por degenerar num conflito pessoal, quando a conflituosidade se remonta ao plano das ideias.
Assim em Portugal estamos muito pouco habituados a que o comportamento dos intervenientes seja sério ao longo de todo o debate, com a apresentação de ideias claras. Ainda menos habituados estamos a que essas ideias tenham de facto estudos por detrás, sendo apoiadas, centrando-se o discurso sobre as vantagens e desvantagens dos modelos propostos.
O programa Prós e Contras da semana passada foi disso exemplo. O debate demonstrou que os seus organizadores não estiveram à altura, mostrando-se a moderadora (Fátima Campos Ferreira) pouco preparada e abusivamente tendenciosa.
Um debate não é um espectáculo de circo, mas quando a organização pretende ter público parece estranho que o silencie, sobretudo com o argumento da falta de tempo. A própria escolha do elenco do debate se mostrou ruinosa. Foram excluídos os representantes dos Politécnicos, quer em termos de representantes dos alunos, quer de direcções, os sindicatos… enfim.
A escolha do elenco mostrou também que o debate tinha um propósito e que as feridas causadas pela governamentalização do projecto MIT, Carnegie Mellon ainda não se encontram saradas (os excluídos têm esse enorme hábito de não se conformarem, como se demonstrou pelo comportamento de alguns reitores).
Só num país em que não há debate é que um programa como "Prós e contra" pode ser considerado como um momento alto de televisão. Se acham que serviu para um debate sério sobre o Ensino Superior...
Isto não significa que os seus intervenientes não sejam sérios e que não tenham ideias. António Nóvoa, Mariano Gago, Adriano Moreira e muitos outros são pessoas com calibre intelectual, mas não é apenas isso que faz com que as suas ideias sejam boas. A qualidade vem da qualidade das propostas e não apenas da postura (esta devia ser o denominador mínimo comum).

Achei muito interessante como passou a ideia de que apesar do aumento do número de alunos, apesar da diferença para o nosso vizinho do lado, continuamos a ter necessidade de emagrecer o Ensino Superior.
Mais interessante ainda achei o modo como passou a ideia anteriormente difundida por Alberto Amaral (antigo reitor da Universidade do Porto) de uma agenda escondida em Bolonha, que levaria as Universidades para o Norte da Europa ficando o Sul reduzido à formação de técnicos. Nem o mais liberal dos empresários se lembraria de tal mas a resposta à mensagem foi o silêncio.
O argumento mudou. Já não é o deficit, já não é a relação oferta-procura, é estratégico: possuir uma Universidade entre as melhores da Europa. Ou seja tudo o que existe será sacrificado para que possamos ter uma instituição decente, uma instituição de nível europeu, possuidora de capacidade financeira e de recursos humanos que ombreiem com a mítica Cambridge e Oxford. O PCP com o seu comunicado apenas ajudou à festa (como se hoje -e sempre- a elite não fosse formada por Universidades de status).
A ideia da instituição portuguesa de elite começa a surgir no horizonte e todos naquele debate sabem-no e a maioria defende-o (só quem não sabe é que não percebeu que a zanga entre Adriano Moreira e o Ministro tem a ver com o CNAVES e não tem nada a ver com este modelo, que Adriano validou sábiamente ao falar da necessidade estratégica e que o que António Novoa pretende é que a Universidade de Lisboa se torne nessa mítica Cambridge portuguesa).

No discurso do "Não discutimos" Salazar demonstra que foi graças a esse príncipio que se edificou um determinado Portugal. Esse Portugal é infelizmente parte do problema do Portugal de hoje, mas onde termina a "Pesada Herança" é tema de uma longa discussão.
Só alguém que desconheça o que é o Ensino Superior em Portugal e o seu percurso ao longo de séculos (relembro que a Universidade de Coimbra é das mais antigas da Europa e a frase de Antero de Quental de que ela só daria luz no dia em que fosse consumida pelas chamas) poderá pensar que a solução se encontra com a magia de um propósito comum. Esse propósito comum, mobilizador da Nação... bem ouçam o vídeo.
Como todos sabemos esta centralização irá dar lugar apenas a que uma dada elite que possui o poder num conjunto muito restrito de instituições (fundamentalmente uma: a Universidade Técnica de Lisboa e o seu Instituto Superior Técnico) se possa posicionar para ficar com este bonito bolo. Só alguém que não entende o impacto económico e social que têm as várias instituições de ensino superior por todo o país é que pode pensar que centralizar é positivo.
O tempo do "Não Discutimos" parece estar de volta e até os personagens parecem ser estranhamente os mesmos.

(continua)

quarta-feira, novembro 29, 2006

O mundo a partir de casa (Kabyle)



Foto a partir do interior de uma casa Kabyle
Fonte: George Eastman House Photography Collections Online

"The house, an opu operatum, lends itself as such to a deciphering, but only to a decyphering which does not forget that the "book" from which the children learn their vision of the world is read by the body, in and through the movements and displacements which make the space within which they are enacted as much as they are made by it."

Bourdieu, Pierre (1977 [1972]) Outline of a Theory of Practice. Stanford: Stanford University Press, pág. 90

sábado, novembro 25, 2006

Axiomes ou notions communes (Descartes)



Fonte: Wikipedia

"AXIOMES.
ou NOTIONS COMMUNES.

I. Il n'y a aucune chose existante de laquelle ou ne puisse demander quelle est la cause pourquoi elle existe: car cela même se peut demander de Dieu; non qu'il ait besoin d'aucune cause pour exister, mais parce que l'immensité même de sa nature est la cause ou la raison pour laquelle il n'a besoin d'aucune cause pour exister.

II. Le temps présent ne dépend point de celui qui l'a immédiatement précédé; c'est pourquoi il n'est pas besoin d'une moindre cause pour conserver une chose, que pour la produire la première lois.

III. Aucune chose, ni aucune perfection de cette chose actuellement existante, ne peut avoir le néant, ou une chose non existante, pour la cause de son existence.

IV. Toute la réalité ou perfection qui est dans une chose, se rencontre formellement ou éminemment dans sa cause première et totale.

V. D'où il suit aussi que la réalité objective de nos idées requiert une cause dans laquelle cette même réalité soit contenue, non pas simplement objectivement, mais formellement ou éminemment. Et il faut remarquer que cet axiome doit si nécessairement être admis, que de lui seul dépend la connoissance de toutes les choses, tant sensibles qu'insensibles; car d'où savons-nous, par exemple, que le ciel existe? est-ce parce que nous le voyons? mais cette vision ne touche point l'esprit, sinon en tant qu'elle est une idée, une idée, dis-je, inhérente en l'esprit même, et non pas une image dépeinte en la fantaisie; et, à l'occasion de cette idée, nous ne pouvons pas juger que le ciel existe, si ce n'est que nous supposions que toute idée doit avoir une cause de sa réalité objective qui soit réellement existante; laquelle cause nous jugeons que c'est le ciel même, et ainsi des autres.

VI. Il y a divers degrés de réalité, c'est-à-dire d'entité ou de perfection: car la substance a plus de réalité que l'accident ou le mode, et la substance infinie que la finie; c'est pourquoi aussi il y a plus de réalité objective dans l'idée de la substance que dans celle de l'accident, et dans l'idée de la substance infinie que dans l'idée de la substance finie.

VII. La volonté se porte volontairement et librement, car cela est de son essence, mais néanmoins infailliblement au bien qui lui est clairement connu: c'est pourquoi, si elle vient à connoître quelques perfections qu'elle n'ait pas, elle se les donnera aussitôt, si elles sont en sa puissance; car elle connaîtra que ce lui est un plus grand bien de les avoir que de ne les avoir pas.

VIII. Ce qui peut faire le plus, ou le plus difficile, peut aussi faire le moins, ou le plus facile.

IX. C'est une chose plus grande et plus difficile de créer ou conserver une substance, que de créer ou conserver ses attributs ou propriétés; mais ce n'est pas une chose plus grande, ou plus difficile, de créer une chose que de la conserver, ainsi qu'il a déjà été dit.

X. Dans l'idée ou le concept de chaque chose, l'existence y est contenue, parce que nous ne pouvons rien concevoir que sous la forme d'une chose qui existe; mais avec cette différence, que, dans le concept d'une chose limitée, l'existence possible ou contingente est seulement contenue, et dans le concept d'un être souverainement parfait, la parfaite et nécessaire y est comprise."

Descartes, René (2004 [1637]) Discours sur la méthode. Project Gutenberg
Fonte: Project Gutenberg

terça-feira, novembro 21, 2006

All novelty is but oblivion

"Solomon saith, There is no new thing upon the earth. So that as Plato had an imagination, That all knowledge was but remembrance; so Solomon giveth his sentence, That all novelty is but oblivion. Whereby you may see, that the river of Lethe runneth as well above ground as below. There is an abstruse astrologer that saith, If it were not for two things that are constant (the one is, that the fixed stars ever stand a like distance one from another, and never come nearer together, nor go further asunder; the other, that the diurnal motion perpetually keepeth time), no individual would last one moment. Certain it is, that the matter is in a perpetual flux, and never at a stay."

Francis Bacon, Essays, Essay LVIII

domingo, novembro 19, 2006

El gato negro (el instante y el tiempo)



Fonte: Poemas de trazer por casa e outras estórias

"Pidió una taza de café, la endulzó lentamente, la probó (ese placer le había sido vedado en la clínica) y pensó, mientras alisaba el negro pelaje, que aquel contacto era ilusorio y que estaban como separados por un cristal, porque el hombre vive en el tiempo, en la sucesión, y el mágico animal, en la actualidad, en la eternidad del instante."

Jorge Luis Borges, El Sur

E hoje? Viveremos no instante? No tempo sucessivo? Passado, Presente, Futuro...
O tempo...

sábado, novembro 18, 2006

Things we talk and things we know

"There are but few things about which we speak properly--and many more about which we speak improperly--though we understand one another's meaning."

Santo Agostinho, Confessions, Book 11, Chapter XX

As palavras são tão precisas quanto nós. Por isso creio que é essencial ter sempre à mão um dicionário de Etimologia. Compreender o étimo é também de um certo modo compreender a ideia. É um passo para sabermos dizer o que queremos.
De um modo Autêntico, a opinião dos outros é o oceano que nos rodeia, em que nadamos sabendo que é para nós essencial vir ao de cima, cabeça à tona.
Por vezes vêm vagas que nos arrastam, algumas levantam-nos metros acima, outras afundam-nos, sendo que quase que nos afogam. Ser Autêntico é saber navegar.
A capacidade de ser está em nós próprios e é isso que temos de descobrir.
Saber falar apropriadamente é saber respeitar a natureza da própria linguagem. Não se tratam apenas de regras de gramática, ou de ortografia. É o navegar para a compreensão das coisas, ir ao encontro dos seus significados, eles existem assim que nós os revelarmos.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Actualizações

Um blog que não se actualiza pode rapidamente morrer.
Por razões pessoais não me tem sido possível escrever novos posts.
Conto poder voltar a fazê-lo muito em breve.

domingo, novembro 05, 2006

O passado foi lá atrás? (Parte II)

Tenho por outro lado um amigo, pós-moderno, que não admite outra coisa senão que o passado nunca existiu, que não passa de uma projecção do presente.
Esse mesmo amigo diferencia entre quem escava bem e escava mal. Eu já lhe expliquei mil vezes que se ele faz essa distinção é porque acha que existe uma materialidade passada que pode ser bem ou mal revelada. Mas ele insiste que não, que toda a escavação mais não é do que a projecção do arqueólogo, que não existe tal coisa como a materialidade passada e eu continuo a perguntar-lhe que se é assim, se tudo é afinal sujeito, o que é que faz com que um sujeito seja melhor ou pior do que o outro. Afinal se tudo não passa de opinião...
Alguns irão afirmar que não é a opinião, é o método. Para estes para quem a técnica é tudo (a arqueologia tecnológica, pois o seu cerne é a ciência da técnica) a verdade acaba por em última análise estar no objecto. Porque acreditam piamente que com o método adequado tudo se revela na sua verdade objectiva. Não adianta explicar que o método condiciona o modo como a realidade se revela. Que a técnica em si é a forma de revelar, tal como o meio é a mensagem.
Mas voltemos ao discurso pós-moderno sobre o passado. Ele deve de certeza chocar quem entra na Universidade a cada ano. Penso que a maioría das pessoas embarcam na arqueologia com a ideia de ir descobrir o passado. Por essa mesma razão acho piada às variadas reacções de quando se lhe é dito que o passado nunca existiu.
Imagino o dia em que o discurso atinja finalmente o turismo: "Este sítio foi agora reconstruído, sendo absolutamente uma coisa do presente, sendo um trabalho de arqueologia porque se inspira na ideia de um passado, que não é mais do que a projecção do nosso presente" (lembra um sketch humorístico).
Na estadia em Inglaterra confrontei o Julian Thomas com esta ideia e este tipo de discurso (supostamente o Julian é pós-moderno e afirma-se como tal). Afinal o que é que ele acreditava que era o passado, apenas presente?
Ele negou categóricamente este tipo de discurso. Tanto ele como os demais membros do Stonehenge Riversida project com que falei (note-se que não falei com o Chris Tilley, mas ainda hei de falar) não deixavam de afirmar que existiu um passado. E que o esforço da arqueologia devia ser sempre tentar ir ao encontro desse mesmo passado, ainda que seja uma missão que sabemos ser impossível.
Fiquei menos espantado com esta resposta do que com o facto de eles afirmarem que certas estruturas eram de facto uma casa, MESMO, daquelas com lareira e tudo (afinal nem tudo é interpretação???).
Pessoalmente (e não se esqueçam que "pessoa" não significa individuo, mas sim alguém no mundo) acredito que o tempo é feito de passado, presente e futuro, sendo que cada momento é a reunião destes elementos.
Cada momento contém em si o passado, o presente e o futuro. O passado não foi só lá atrás, ele ainda é e será. Vai vivendo conosco e transformando-se, sendo que é muito mais materialidade do que narrativa.
O problema das narrativas é o mesmo problema dos discursos, no fundo é um problema da linguagem que deriva da semântica. Não sei até que ponto é que a arqueologia poderia viver sem a narrativa, ou qual o tipo de narrativa possível. Não é fácil contar histórias e menos ainda viver numa ciência que nasceu da necessidade de existir uma. Sei que quando tirarmos à arqueologia o seu sentido de Arche ela irá ficar descaracterizada. Mas ao mesmo tempo o modo como esse sentido tem sido aplicado parece extrordináriamente falso, inautêntico.
Talvez podessemos seguir a sugestão de Tim Ingold:

"But we should resist the temptation to assume that since stories are stories they are, in some sense, unreal or untrue, for this is to suppose that the only real reality, or true truth, is one in which we, as living, experiencing beings, can have no part at all. Telling a story, as I observed in Chapter Three (p. 56), is not like unfurling a tapestry to cover up the world, it is rather a way of guiding the attention of listeners or readers into it. A person who can 'tell' is one who is perceptually attuned to picking up information in the environment that others, less skilled in the tasks "

(2000, pág. 190)

Existirá de facto um passado autêntico e inautêntico? Eu penso que sim, mas isso não significa que esteja em desacordo absoluto com esta ideia de Ingold. A diferença fundamental está entre um passado vivido e um passado imposto por outros.

Referências:
Ingold, Tim (2000) The Perception of the Environment: Essays on Livelihood, Dwelling & Skill. London:Routledge

sábado, novembro 04, 2006

O passado foi lá atrás? (Parte I)



Fonte: Transporta

"A carga pronta metida nos contentores
Adeus aos meus amores que me vou
P'ra outro mundo
É uma escolha que se faz
O passado foi lá atrás
"

Xutos e Pontapés: Contentores

Neste momento estou a escrever uma parte da tese que tem haver com o tempo e a temporalidade em Castelo Velho. As ramificações do tema são imensas. O que é a relação entre passado, presente e futuro? Será que estes termos existem exactamente assim?
Mas não é bem esse o tema que queria explorar aqui (afinal convém que uma tese seja fundamentalmente inédita :) ).
A ideia que me fez escrever este post é outra e prende-se da relação da arqueologia com o passado. Afinal o prefixo "Arche" remonta exactamente para esse sentido remoto: a origem.
Por essa mesma razão a arqueologia é a narrativa que responderia um pouco à questão "quem somos?" e muito à "de onde vimos?". E é a partir daqui que se construiu todo um edifício que vai até à menina Dikita, que aparece sorridente como um bebé humano na capa da National Geographic. Ela é a origem de todas as crianças humanas, segundo reza a peça.
Por vezes esta busca pelo passado assume contornos que claramente já são de outro tempo como o recente email que surgiu no Archport (3/11)2006) relativo à origem dos britânicos.
Mais de 100 anos depois do Evolucionismo e apesar de toda a crítica, ainda há quem procure trilhas genéticas, semi-lineares, que desembocam muito perto de raças (para alguns lê-se povos, mas isso não tira em nada o racismo presente). Descobrir as origens é uma missão desempenhada com afinco e abnegação (abnegação que leva a que não se assumam, nem se questionem determinados problemas). Afinal na linha do tempo se A vem antes de B e este vem antes de C, então A está na origem de C.
E depois entram mitos como os Celtas e as suas origens, que remontam ao Paleolítico e a genética, estudo certificados por linguistas que são depois integrados em pretensões mais ou menos nacionalistas (façam uma busca por Francesco Benozzo e vejam já agora também a veiculação por parte dos media galego da notícia de um estudo deste senhor de que a Galiza era o berço do povo Celta no Paleolítico, notícia essa que foi depois difundida por listas de emails, foruns, etc).
Afinal agora sim sabemos, os antepassados da D. Lorena Rodriguez Perez residente em A Rua, Ourense, era Celta, logo ela também o é por afinidade sanguínea (afinal os seus olhos verdes não traíam essa descendência).
Existe uma paixão por estes mitos de origem, certificado com a qualidade de estudos científicos. Os primeiros povoadores da aldeia mais remota, da cidade mais antiga, datados com uma precisão de C14.
Para mim nunca deixou de ser curioso o modo como nos lugares que conheço os antepassados são conhecidos como os antigos. Eles são uma espécie de entidade ausente e presente. Não são completamente o avô e a avó. São os antigos, os do antigamente, que podem ser os de há 100 anos (diziam os antigos que isso...) como dos de há 4.000 (ah! isso foram os antigos que construíram). A escala do tempo não existe. É simplesmente um passado presente.
Existe o tempo dos mouros que cobre tudo o que é muito antigo, mas não há propriamente datas nem anos.
Lembra-me do caso de um colega do tempo de Coimbra, que numa prospecção tentava explicar ao dono da propriedade que se tratava de um povoado do Bronze Final, algo à volta de 750 a.C. O senhor olhava para ele e logo exclamou "Ah, isso então foi antes de Jesus Cristo! É mesmo antigo!". O meu colega não percebeu que o tempo para este senhor não era o mesmo que para ele. Afinal o tempo, mesmo que medido no mesmo calendário, pode ser muito diferente.

sexta-feira, novembro 03, 2006

segunda-feira, outubro 30, 2006

Sindicatos satisfeitos com mestrado obrigatório para professores IV

Fiquei absolutamente espantado com um comentário no outro dia no Desassossegos, sobre a questão de que não se iria exigir mais qualificação porque não se iriam mexer com direitos adquiridos.
Sou uma pessoa que aqui tem sempre demonstrado a ideia de defesa de direitos e como no estado actual das coisas se mascara fim de direitos básicos com fim de privilégios, mas há que ter em atenção certas coisas. Jamais a não qualificação pode ser encarada como um direito. E se alguém ficam incomodado com esta afirmação convém que leia o post até ao fim.
O direito de um trabalhador é à qualificação e é por essa mesma razão que qualquer Sindicato (e vejam a notícia) adere logo e sem reservas a tudo quanto possa significar a melhoria das condições dos trabalhadores. Nesse sentido está em absoluto a defender os seus direitos.
Agora lógicamente que o apelo à qualificação não pode ser feito pelo condicionamento a piores condições de trabalho, ou à precarização do emprego. Tem de ser justamente o contrário. E neste processo compete às próprias entidades empresariais e aos gestores como um todo, implementarem estratégias de qualificação nos seus locais de trabalho. Ao estarem a qualificar os seus assalariados, as empresas estão a investir na melhoria da sua qualidade e dos seus recursos humanos. Isto tem de ser feito com incentivos positivos (avaliação e atribuição de mérito, progressão na carreira) e não no sentido negativo (despedimento, inibição de actividade).
Lógicamente que num mundo de baixos salários, visto como única solução para a prática de um produto de baixo custo (um elemento de competitividade essencial mas não único), torna-se quase impossível implementar isto. Mas quem disse que vencer a batalha pela qualidade era fácil?
Veja-se por exemplo os produtos informáticos. O consumidor nem sempre compra o baixo custo. Existem diversas gamas, destinadas a mercados diferentes. E esta ideia é válida do hardware ao software (afinal quantas pessoas é que optam pelo Linux em detrimento do MacOS X?), passando pela electrónica (câmaras vídeo, fotografia digital), até aos electrodomésticos.
O mercado do Património não é nem pode ser diferente. Este país não pode ficar refém da mediocridade. Muito é exigido às empresas, mas no mundo de mercado são de facto elas que podem marcar a diferença, afinal são elas o suposto motor da economia.
As empresas de arqueologia não podem ficar a continuar a olhar para as Universidades como torres de marfim onde supostamente se desenvolve a verdadeira investigação. Se elas próprias sabem que não é assim convém que não legitimem este tipo de discurso (certas contestações assumem a forma de legitimação). São elas no seu dia-a-dia que podem marcar a diferença pela qualidade do seu trabalho (algumas compreenderam isto desde a primeira hora, outras irão compreender mais tarde ao mais cedo). São elas que podem possuir um quadro de pessoal técnico altamente especializados, gente categorizada que desenvolveu teses de mestrado e doutoramento sobre determinados assuntos. Nesse dia as empresas estarão prontas a serem elas a marcar a agenda. É para isso que têm de trabalhar.
Esperar que um empreiteiro ou um engenheiro civil compreendam isto é quimérico. Mas em todos os países existe sempre quem tem vistas curtas e olhe apenas para o seu bolso e quem saiba sempre reconhecer um bom trabalho.
Se as empresas continuarem presas a um mercado mediocre que exige a mediocridade, nunca sairão dessa mesma lama (quem disse que o mercado era bom e que exigia sempre qualidade?). Por essa mesma razão é que acho que neste caso convinha que as instituições de ensino superior assumissem também um outro papel, intervindo para que se possa ajudar à existência de trabalhos de qualidade. Condenar apenas as empresas e ficar a ver é bonito para "treinador de bancada".

domingo, outubro 29, 2006

Sindicatos satisfeitos com mestrado obrigatório para novos professores III

É óbvio que Bolonha vai trazer mais pessoas de volta ao Ensino Superior. Para alguns isso é negativo. Bom há sempre quem acredite que a formação foi feita uma vez na vida e agora tudo se resume a trabalhar, porque ali "no campo" é que está a escola toda.
Para quem tem bom-senso sabe que qualificar é um verbo que está sempre na ordem do dia. Na maioria das profissões a re-qualificação passa por frequentar novos cursos, insistindo sempre na formação (conheço poucos enfermeiros que achem que a escola está toda ali, no serviço de urgências e que na prática é que se aprende).
Mais uma vez a própria distinção entre teoria e prática manifesta-se como ridícula. Já imaginaram um enfermeiro que recusa um curso de suporte avançado de vida, porque afirma que é só teoria (e alguma vez um curso destes podia ser exclusivamente teórico)?

A arqueologia é apenas mais uma área como muitas outras que sofre do problema da qualificação não ser valorisada. Enquanto se insistir na dicotomia empresas/universidades não se vai muito longe. Pior ainda é quando as empresas se aproximam das Universidades supostamente para lhes ensinar o que devem fazer, ou vice-versa. Há uma diferença entre monólogo e diálogo, entre estabelecer condições à partida, ou estar aberto a trabalhar negociando uma solução. Infelizmente numa sociedade classista, o poder... torna-se tudo (sendo obstáculo a que se faça seja o que for).

Mas devemo-nos cada um de nós perguntar porque nos estamos a qualificar. O termo em si significa que nos tornamos melhores pessoas, com mais qualidades. Qualificar é possuir mais competências. É estarmos actualizados.
Neste país isso pode não significar mais trabalho, ou uma melhoria salarial, mas nós não nos podemos deixar afundar na mediocridade apenas pelo mercado, ou pelo país em que vivemos (assim "nunca sairemos da cepa torta").

Vou dar um caso muito concreto. Na visita a Inglaterra contactei com um ambiente de escavação muito diferente do que temos por aqui. As técnicas são algo diferentes, o modo de encarar o sítio, entre muitas coisas. Para mim, apesar de não ter nenhum diploma da minha estadia, aquela experiência valeu muito. Quem pensa que isso passou apenas por contactar com fichas de contexto diferentes, ou com duas estações totais a trabalhar sempre, está muito enganado. É a experiência como um todo, desde a escavação às conversas no Pub, passando pelo alojamento nas tendas e nos jantares na tenda grande. A Experiência!!!! (isto é apenas um enfâse fenomenológico, que espero que me perdoem).
Mas não é só em Inglaterra que acontece isso. O meu contacto com os meus colegas de Tomar também me abriu as portas com um outro modo de fazer arqueologia (a Ana Rosa continua a ensinar-me muita muita coisa). Todos os dias aqui deparo-me com experiências novas, numa troca rica de experiências. Por essa mesma razão as disciplinas que lecciono estão numa constante actualização. Aprendo imenso com os alunos, que muitas vezes encaro como colegas que apenas oriento. A diferença que me leva a orientá-los reside apenas num ponto: a qualificação. Não sou o sol que ilumina com o saber. Sou alguém que ajuda a aprender e nessa tarefa aprende também. Aí é que está o truque.

(continua)

sábado, outubro 28, 2006

Sindicatos satisfeitos com mestrado obrigatório para novos professores II



Fonte: UNIDERP

A grande questão que o novo quadro coloca prende-se com o problema de passar haver dois sistemas: pré-Bolonha e pós-Bolonha. Penso que tal como no caso do sistema dos bacharelatos, rapidamente passará a haver uma exigência do mercado de um grau superior. Alguém se lembra por exemplo de que em Portugal os enfermeiros eram bachareis? Os cursos de complemente multiplicaram-se apesar de não existir nenhuma norma que obrigasse à obtenção do grau de licenciado. Aliás existem ainda alguns enfermeiros que estão bem longe da idade da reforma e que são apenas bachareis (a licenciatura surgiu à coisa de 10 anos, primeiro com os ESE, depois...)
Os cursos de complemento foram uma boa fonte de financiamento para as Escolas de Enfermagem que hoje se multiplicaram (se há coisa que não acredito é de profissionais em excesso - à conta disto Espanha tornou-se exportadora de mão-de-obra qualificada, essa emigração trouxe-lhe divisas e novas oportunidades e se pensam que a maioria dos profissionais de Saúde espanhóis vieram para Portugal, façam uma visitinha a um hospital no Reino Unido).
O modelo dos cursos de complemento é no entanto um exemplo do que em Portugal a aposta na qualificação pode-se transformar num desastre. Em vez de trazerem um valor acrescentado, tornaram-se apenas numa fonte de financiamento para a Escolas de Enfermagem, que se limitavam a passar diplomas para profissionais que frequentavam estes cursos na ânsia de terem melhorias salariais e progressões na carreira.
Não houve qualquer exigência de melhor qualidade, nem de alunos nem de professores, nem das escolas. Todos trabalhavam na lógica da carreira e não da qualificação.
Demonstram assim que boas ideias chocam com um príncipio básico que é díficil de se implementar em Portugal: cidadania!


(continua)

sexta-feira, outubro 27, 2006

Sindicatos satisfeitos com mestrado obrigatório para novos professores

"Sindicatos satisfeitos com mestrado obrigatório para novos professores
27.10.2006 - 14h33 Lusa

Os sindicatos do sector da educação mostraram-se hoje satisfeitos com a proposta do Governo que obriga os candidatos a professores a terem um mestrado de acordo com as novas regras do Processo de Bolonha.

"Para melhorar a qualidade do ensino há a necessidade efectiva de tornar os cursos em mestrados à luz de Bolonha", disse à Lusa Carlos Chagas, da Federação Nacional do Ensino e Investigação (Fenei).

Em declarações à Rádio Renascença, o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, disse que o Ministério vai alterar as regras para a habilitação à docência, obrigando os novos professores a ter de tirar o mestrado segundo as regras de Bolonha, como adianta a edição de hoje do PÚBLICO."

Fonte: Publico online citando a Lusa

Todos sabiamos que mais tarde ou mais cedo isto vai ser aplicado a maioria das áreas, da enfermagem às engenharias, passando pela arqueologia.
Como todos também sabiamos a questão de Bolonha vai acabar por se assumir numa espéce de retorno ao modelo de bacharelato/licenciado, transformados em licenciado/mestre. A designação do grau em Inglaterra (afinal um dos países modelo da reforma) já continha em si isso mesmo: Bachelor's. O grau seguinte? Master. Coincidências? É óbvio que não.
Já agora vejam o artigo na Wikipedia (em inglês) que contém já informação sobre o processo de Bolonha.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Cursos não financiados



Fonte: MCTES/DGES

Como muito se falou sobre cursos a mais e sobre a questão do financiamento do Ensino Superior coloco aqui a lista dos cursos que não vão ter financiamento neste ano lectivo.
Uma das áreas mais afectadas é sem dúvida a Geografia. A Geologia também não escapa.
Sobretudo creio que mostra bem que os principais problemas da quebra dos alunos pouco teve haver com oscilações demograficas, tendo sobretudo haver com a introdução da nota mínima (veja-se o caso das ciências ditas exactas). Novamente parece-me que esta medida da nota mínima foi sobretudo um exercício demagógico que não veio a melhorar a qualidade do Ensino.
Sobre esta mesma qualidade tenho uma experiência muito interessante com alunos que entram com médias inferiores à dos anos anteriores. Sobre esse assunto conto falar em breve.

domingo, outubro 22, 2006

Time, things, gesture



Van Gogh (1888) Par de botas com cordões
Fonte: Snoqualmie

"Thus Dasein is (unlike God) finite, in the midst of beings which it allows to be themselves, and thus encounters rather than creates."

Inwood, M. (2000) Heidegger: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press, pág. 94

Ser é revelar.
Não se trata de cobrir o mundo com uma manta de conhecimento, ou ir ao encontro da essência do objecto.
Revelar o material: eis a essência do nosso gesto e da própria arqueologia. Techne e Poiesis trazendo para a frente, tornando evidente.

P.S. Este par de botas serve de inspiração ao texto de Heidegger "Origem da Obra de Arte".

Things

"Thus Dasein is (unlike God) finite, in the midst of beings which it allows to be themselves, and thus encounters rather than creates."

Inwood, M. (2000) Heidegger: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press, pág. 94

quarta-feira, outubro 18, 2006

AuthenticTime



Otto Nagel, 1928, Arbeitsloser
Fonte: Gemäldesammlung nach Themen der Lehrplän

"Indeed, according to Heidegger, in our everyday we only have an inauthentic
understanding of possibilities and thus time. We live in the belief that what we cannot do now we can do tomorrow; we thus live as if time were infinite. However, this expresses nothing other than a recoil from an authentic understanding of time. The open-endedness of our everyday possibilities is made possible only by the radically closed and certain ‘possibility’ of death as the horizon of finite existence."

ALWEISS, L. (2002) "Heidegger and the concept of time" History of human sciences Vol. 15 N.3

Viver na angustia do tempo autêntico é talvez a maior fonte do stress actual - é a chave da ansiedade.

Hope



Parte III da entrevista de Bill Clinton à Fox
Fonte: Youtube

Tenho para mim que quando os E.U.A. espirram a Europa constipa-se, sobretudo em termos de políticas.
Parece-me demasiada coincidência a viragem da Europa para uma política monetarista ao mesmo tempo que os Repubicanos assumem o poder e pretendem afirmar a sua vitória na Guerra Fria.
Nada me tira da cabeça que o domínio do discurso neo-liberal, que possui hoje uma penetração nos media sem precedentes, está relacionado com essa mesma vitória.
Já ninguém ouve falar dos méritos da social-democracia escandinava, ou alemã.
Não pretendo com isto aderir a uma teoria da conspiração. Acho simplesmente que a administração norte-americana soube passar muito bem a sua mensagem, vendendo o seu produto.
Esta "vitória" provoca desequilíbrios vários. Por essa mesma razão não posso deixar de recordar com alguma nostalgia os tempos em que Clinton governava a Casa Branca. Em que os escândalos a existir prendiam-se mais com a "arma" do presidente, do que com as armas da nação. Escândalos mais de folhetim barato, com laivos de puritanismo.
É por isso que a entrevista à Fox News de Clinton mostra-o na sua melhor forma. O "Come back kid" faz jus à sua alcunha.
O regresso de Gore mostra também que os democratas estão de volta e pretendem marcar a agenda. Temas como o ambiente, as desigualdades e tantos outros, estão de volta para marcar a agenda (já repararan como o défice veio a ofuscar tudo, branqueando mais do que qualquer outra manobra política? Inocente?).
Eu continuo a ter uma inefável afinidade com os democratas americanos, em especial com muitas das propostas da administração Clinton. A sua ligação com as propostas de Kennedy trazem ao de cima o melhor que este partido soube produzir.
Das várias partes desta entrevista escolhi não a mais sensacional, onde Clinton se pega directamente com clara linha editorial republicana da Fox, mas aquela em que ele demonstra como as suas propostas estão a vingar e como não é preciso estar na presidência para marcar a agenda. Cliton continua a querer transformar o mundo, utilizando para isso o grande capital. Ele não vende um modelo de sociedade, nem muito menos a impõe. O seu modelo não se baseia no negócio do petroleo, ou na ideia do self made men. Ele simplesmente quer ajudar a que se possa viva melhor. Na sua forma mais simples.
Faz-me sem dúvida voltar a acreditar naquele lugar chamado Hope.

terça-feira, outubro 17, 2006

Uma geração qualificada



Foto de grupo de alunos formados em Ciências Biológicas da Universidade de Singapura
Fonte: Departamento de Ciências Biologicas, Universidade Nacional de Singapura

O artigo é de Julho, mas vem a propósito. O seu titulo é : "Gerir uma escola do ensino superior em Época de crise"
É um retrato extremamente lúcido pela voz de um Director de uma Escola Superior.
É da autoria de Manuela Vaz Velho e pertence à página do João Vasconcelos Costa, que apesar de ter opiniões com as quais eu não concordo é sem dúvida uma pessoa que segue de perto a realidade do Ensino Superior em Portugal.
Após este artigo é fácil concordar com a sua autora: A convivência diária com a realidade do Ensino Superior é sem dúvida de tirar o sono.
Eis um extracto:

"É difícil gerir uma instituição nestes tempos e desta maneira, e o mais fácil é descartarmo-nos das peças mais frágeis, que são os docentes com contratos a termo há vários anos, os chamados equiparados; estes são a maioria, pelo menos na minha escola, porque o alargamento do quadro do pessoal docente, há muito pedido, nunca mais chega. E será difícil que chegue agora, quando o número de alunos tem vindo a diminuir. Por isso, todos os anos, à medida que os alunos diminuem, vamos tentando manter a instituição à custa da saída destes docentes. Muitos destes são agora doutorados, o que implicou um enorme investimento pessoal e institucional, e a maior parte deles só está vocacionada para exercer actividades de docência e investigação, sendo difícil conseguirem trabalho fora destas áreas. Mas também quantas empresas portuguesas podem absorver com dignidade estes quadros academicamente tão qualificados?

O pior de tudo é que não há subsídio de desemprego para investigadores e docentes do ensino superior. Este direito que assiste a qualquer trabalhador fora da administração pública, e que já é considerado para os docentes dos ensinos básico e secundário, não chegou ainda ao ensino superior. Os docentes nesta situação de desemprego involuntário não têm, como qualquer outro trabalhador, esta garantia mínima de viverem com dignidade enquanto procuram um novo trabalho. Para um gestor pós-moderno, frio e eficiente, é tudo uma questão de números e se os docentes são supérfluos, provavelmente o facto de terem ou não subsídio de desemprego não lhe afecta o sono, mas para uma docente como eu ou qualquer outro docente que faça parte da direcção de uma escola do ensino superior, já não é assim. Há um ano atrás foi fácil fazer as contas e, face ao défice orçamental e à previsão da diminuição do número de alunos, colocarmos no plano de actividades da escola, para o corrente ano, o número de ETIs a reduzir, mas quando se aproxima a data da não renovação dos contratos, estes ETIs tornam-se pessoas, são colegas com os quais convivemos durante anos, e é cada vez mais difícil conciliarmos o sono."

Fonte: Reformar a Educação Superior

A solução do momento para este problema são os contratos renováveis por 5 meses. Algo que já foi aplicado em vários Politécnicos e que brevemente vai chegar a Tomar.
É a flexibilização do mercado laboral à moda do Ensino Superior. Isto em teoria (e penso que em breve na prática) permite inclusive poupar um mês de salários (Agosto). No ano seguinte o contrato começa mais cedo e deve possuir uma duração de seis meses, prorroga-se por mais 5 e assim andamos.
Acho que não preciso de me pronunciar sobre a legalidade de tudo isto.
Da parte das direcções de Escola o argumento é que assim evitam despedimentos. Creio que é uma espécie de antecâmara até que a pessoa saia. Não acredito que ninguém são mentalmente queira viver assim. Um contrato de seis meses renovável na iniciativa privada, ainda que pior remunerado é mais atractivo. Alguns irão emigrar uma vez que as suas qualificações não fazem sentido num país como o nosso. Eles foram formados para ser algo que já não é possível: docentes qualificados no Ensino Superior.
Há uma geração que se perdeu com o défice.
Quem entrou a tempo na carreira, ainda que pior qualificado, vai ficar por lá. Alguns farão doutoramentos expresso de três anos e assim contribuíram para que determinados cursos não fechem.
O passo a seguir parece ser o das fusões entre Politécnicos e de Politécnicos e Universidades. Não sei até que ponto alguns conseguiram subsistir sozinhos com dez licenciaturas, numa estrutura que antes teve 30 ou mais.
Quando tudo isto terminar o Ensino Superior ficou muito mais leve. Deixou de ser um peso para o Estado.
Finalmente os impostos irão baixar. O custo... uma geração qualificada.

Nota: Este é o cenário antes da entrada do próximo Quadro Comunitário de Apoio. Não sei porquê tenho o pressentimento que a dita aposta na formação vai levar a uma explosão de pequenos cursos de formação por todo o lado. O que aconteceu com os dinheiros do Fundo Social Europeu vai ser uma brincadeira de garotos comparados com o que se aproxima. Para esta vaga de desempregados qualificados isto vai representar a oportunidade de sobreviverem. E assim andaremos cantando e rindo.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Pessimismo III

Queria poder continuar a falar do gesto mas... a minha caixa de correio tende a trazer notícias destas:


"Para Luciano de Almeida não é preciso fazer avaliações para determinar quem deve sair. No Correio da Manhã de 3 de Outubro, em peça intitulada "Desemprego para mil" diz que, obviamente, vão sair os mais jovens e mais qualificados: "A esmagadora maioria dos docentes é jovem, tem formação académica e forte capacidade de adaptação ".

Por isso em alguns Politécnicos, felizmente não em todos, estão a ir para a rua mestres e doutores, designadamente os formados com apoio do PRODEP. Enquanto se abrem concursos de provas públicas para colocar no quadro meros licenciados.

É assim que toda uma geração terá trabalhado em vão. O ensino superior português não terá futuro se a sua reestruturação se fizer à custa do pessoal docente mais jovem e mais qualificado. "

Fonte: Email do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup)

São coisas destas que nos fazem trabalhar a dobrar. Em Tomar, o Sindicato vai ter uma reunião com a Presidência de modo a poder discutir a situação. Estou em crer que ambos partem do mesmo objectivo: um corpo docente qualificado e com boas condições de trabalho. Infelizmente os casos que me têm chegado (enquanto delegado sindical) não são o melhor indicador da partilha desta política. A ver vamos onde é que isto dará. Tinha grandes esperanças nesta nova direcção.

Mas nem tudo é mau.
Os números desta 2ª fase de candidaturas levaram a um crescimento do número de alunos no Ensino Superior
Na área da arqueologia estou mais do que seguro da estratégia: um corpo docente altamente qualificado (uma esmagadora maioria doutorado ou em fase de conclusão de doutoramento), dinâmico e com ligações ao que de melhor se faz na Europa (porque para ser bom temos de por a fasquia alto).
As condições que conseguimos oferecer aos alunos darão de certeza frutos. A nossa ligação de anos com redes europeias, reforçada hoje em dia com os nossos contactos no Brasil e noutros locais da América do Sul, é a garantia de que os nossos alunos trabalham a uma escala diferente, podendo usufruir de uma série de apoios e bolsas. O mundo em que vivemos há muito que não se restringe a este pequeno rectângulo.
A nossa formação foi pensada já numa estratégia de 3 ciclos em que oferecemos Licenciatura + Mestrado + Doutoramento, estes dois últimos em consonância com a rede europeia de arqueologia, com graus conferidos pelas Universidades com quem temos parcerias aqui em Portugal e lá fora (ambas e não uma ou outra, o que se traduz num diploma com maiores valências).
Continuamos a remar contra a maré, contra corporativismos que defendem que a qualidade advem da restrição para que tudo fique na mesma. Para nós ela advem da qualificação. É essa a nossa luta, a de um grupo aberto e decidido a remar contra a maré.

domingo, outubro 15, 2006

Tecnologia, Técnica, Gesto



Fonte: Desenho por Johannes Mos, ilustrações de Owen, Linda (2006) Distorting the Past: Gender and the Division of Labor in the European Upper Paleolithic. Tübingen Publications in Prehistory

"One of the great mistakes of recent anthropology - what Reynolds (1993:410) calls 'the great tool-use fallacy' - has been to insist upon a separation between the domains of technical and social activity, a separation that has blinded us to the fact that one of the outstanding features of human technical practices lies in their embeddedness in the current of sociality. "

Ingold, T. 2000 pág. 195

sábado, outubro 14, 2006

Pessimismo Superior II

No post anterior relativo ao Ensino Superior referi a questão da utilização da noção de privilegiado como argumento base para as actuais reformas.
Para que se pense novamente sobre quem é privilegiado deixo o link para um interessante post no "POLIKÊ", com o titulo "O Quarto 101 do «MInistério dos ESCOLHIDOS por "outros" e BENEFICIADOS por nós»".
Já que é fim-de-semana, aproveitem bem para pensar sobre os benefícios e beneficiados com determinados argumentos.
Já agora deixo também o link ao artigo do Pedro Lourtie que saiu no Diario Económico desta semana. Ele expressa bem a visão do MCTES (ao que não será alheio o facto de ser alguém com responsabilidades na área e de ser membro do Instituto Superior Técnico).
Pensem sobre quem resulta beneficiado com a concentração: todos ou alguns?
Começamos por fechar cursos, a seguir concentram-se escolas... o argumento é sempre o mesmo: não há dinheiro para tudo. Viram os valores do acordo com o MIT???
Este caminho conduzirá mesmo à qualidade, ou ao reforço de poder de uma oligarquia?
Já agora pensem por exemplo na área da arqueologia... mais qualidade?

Archaeopedia

Já falei algumas vezes do Metamedia at Stanford.
Ele multiplica-se numa serie de projectos.
Um deles é a Archaeopedia, uma enciclopédia wiki de arqueologia.
Fica o link.

quinta-feira, outubro 12, 2006

E-learning (Optimismo)

Deixo aqui o exemplo da plataforma de E-learning que temos a funcionar no Politécnico de Tomar.
Deixei aberto em período experimental o acesso a visitantes às disciplinas de:
- Materiais Arqueológicos e Etnográficos
- Introdução à Gestão do Território e do Património Cultural.
(Não esquecer de quando pedido o login, pressionar o botão "Entrar como visitante")
Os conteúdos vão aparecendo progressivamente ao longo do ano lectivo.
Neste momento como estamos no começo ainda não está dísponivel muita coisa (para não dispersar).
Bom proveito!!

Pessimismo Superior

"A ausência de propostas realistas é disfarçada com uns laivos de exigência moral: restaure-se a autoridade na sala de aula, proclame-se que só se aprende com esforço e peça-se sangue, suor e lágrimas. A partir daí, tudo se torna fácil: os professores serão óptimos e os alunos excelentes, saberão decorar como coreanos e inovar como finlandeses, respeitarão a autoridade como em Singapura e usarão capital de risco como nos EUA."

Rui Tavares, Publico 7/10/2006, dísponivel online no blog Pobre e mal Agradecido

Mais uma vez na sua crónica o Rui Tavares foi certeiro. Expôs aquilo que é de facto um fado nacional, que é o pessimismo e negativismo subjeacente às propostas reformistas. O princípio é simples: Tudo está mal, tudo tem de ser mudade. Acho que a frase estará próxima do popular "Isto vai ter de levar uma grande volta". A qualidade das propostas é medida pela dimensão da volta. Quanto maior, melhor.
Nunca nada está bem, porque nunca esteve.

Ontem estive uma reunião sindical no Politécnico de Tomar. Está bom de ver a situação que a reforma no Ensino Superior colocou uma grande quantidade de pessoas. São pessoas e não números, ou qualquer entidade abstracta. Pessoas que têm vidas, filhos, contas para pagar, responsabilidades como qualquer de nós. Para a maioria (esmagadora maioria) o final do seu contrato não representa só o desemprego. Representa também a inexistência de qualquer fonte de subsistência no momento imediatamente a seguir ao final do contrato. Não têm direito a qualquer subsídio de desemprego, vivendo na mais absoluta precariedade.
Eu não sei se têm consciência do que é ser despedido. É já de si uma situação difícil onde somos deparados com um falhanço, que encaramos como nosso. Perguntamo-nos o que fizemos de errado. Passamos a uma situação em que tentamos recuperar, procurando outras soluções. O subsídio de desemprego é a almofada que nos separa de uma situação social de desepero.
Estas pessoas não têm almofadas. Chocam com a realidade em que de um momento para o outro não têm qualquer fonte de subsistência.
E perante esta situação dramática choca-me um comportamento nacional que é o puxar para baixo. Faz-me sempre lembrar aquele sketch do Gato Fedorento em que duas velhas concorrem para ver qual a que tem a maior doença. No caso, existe sempre que venha dizer que também ele está numa situação precária, como muitos, que "é a vida", "habituem-se". Aliás o sketch exacto porque expõe o ridículo deste comportamento é o do filme "A vida de Brian" em que Brian na prisão e à beira de ser crucificado é chamado de privilegiado por um outro prisioneiro mais velho que está na cela ao lado.

O ataque à classe docente está a ser desencadeada utilizando esta imagem do privilegiado. Numa sociedade com baixa qualificação, os docentes são ainda vistos com o mesmo ódio de classe com que se olhava perante o Sr. Doutor, no tempo do salazarismo. Nesse tempo a posição representava a ligação com o regime e logo o privilégio. O próprio desprezo com que a classe privilegiada pelo regime olhava para o resto da população ajudou a establecer o classismo. Esse mesmo classismo continua a ser um dos maiores problemas da sociedade portuguesa. Não creio que o discurso do privilegiado ajude a por fim a este problema, bem pelo contrário.
Num post anterior referi como me parece incrível que hoje o ataque aos direitos fundamentais se mascare de luta pela liberdade e igualdade visando o fim do privilégio. O modo como se usa o termo é...

Sem dúvida quando se quer reformar do zero é para esse mesmo zero que avançamos.
No Ensino Superior não é bem para zero. É para um. Quem está atento sabe que o protocolo com o MIT represente exactamente esse um. Privilegiado????

P.S. Mais uma nota. No preciso momento em que escrevo este post a RTP1 passa a notícia da greve nacional. Primeira reportagem: os alunos não tiveram aulas, os pais a trabalhar...
A razão da greve não interessa. Os problemas que ela causa é que são notícia. Mensagem clara "Quem trabalha é que é prejudicado pelas greves". Inocente????

quarta-feira, outubro 11, 2006

Little Britain


Fonte You Tube.

Para acabar com a sequência sobre Inglaterra, nada melhor do que a excelente criação de Matt Lucas e David Walliams: Little Britain.
É de facto o puro génio do humor britânico, algo que eles sabem fazer como ninguém: gozar consigo próprios.
See you in December Britain!

segunda-feira, outubro 09, 2006

Stonehenge: Making Space


Fonte: You Tube

Stonehenge reflecte um centro da Britanidade.
Nos finais dos anos 80 e durante os anos 90, o sítio foi também um foco de tensões que inspiraram um dos mais interessantes livros de Barbara Bender (1998).
Houve uma clara confrontação (que envolveu uma enorme força policial) entre o sistema e a sua visão vs a chamada multiculturalidade (pela data, o vídeo demonstra como esta última acabou por vencer).
Perceber esta confrontação, as suas ligações políticas, o seu contexto, é também perceber grande parte do confronto entre o que foi apelidade de arqueologia processual vs arqueologia pós-processual.
Creio que hoje já começamos a ter distância suficiente para analisar tudo isto.
Do meu ponto de vista esta confrontação teve o seu tempo e hoje assistimos mais ao nascimento de uma diversidade de ideias que dificilmente pode ser enquadrada numa única linha.
Creio mesmo que a "dwelling perspective" é algo que começa a afastar-se de qualquer pós- como um todo. A sua ligação com a fenomenologia abre caminho a um discurso que sabe ultrapassar a dicotomia sujeito/objecto, nomeadamente através dos conceitos de Ontico e Ontologico.
Infelizmente vejo que no futuro muitos irão legitimar o poder da sua visão pelo seu conhecimento de Heidegger (considerando-se supostamente superior aos demais). Para esses gostaria de lembrar que Heidegger é também a apologia da possibilidade, sendo que se houve algo que claramente ganhamos da pós-modernidade foi o sabermos que nenhuma visão se deve impor sobre outra.
Saber crítica sem impor é uma prova de inteligência. Sabermos viver em comum é um prova de maturidade.
De Stonehenge podemos neste caso tirar uma grande lição.

BENDER, B. (1998) Stonehenge: Making Space. Oxford: Berg Publishers

domingo, outubro 08, 2006

Archaeology Today



Já agora um "insight" ao que foi uma certa arqueologia britânica num passado recente.
Não é dos melhores sketchs dos Monty, mas tem um sentido crítico mordaz... notem bem o chamado BBC English do personagem do John Gleese, ele reflecte algo de que a arqueologia britânica se emancipou.

Contract Archaeology

Prosseguindo na ligação com o mundo da "Contract Archaeology" britânica, ficam aqui alguns links de interesse:

Brithish Archaeological Jobs Resource
A Newsletter do BAJR: The Digger (ver com especial interesse a última notícia relativa à revendicação de melhores salários)
O Intitute of Field Archaeologists algo semelhante à nossa Associação de Profissionais de Arqueologia (aconselha-se a visita aos códigos de conduta, bem como aos guias de trabalho de campo)
O Council for British Archaeology
A Rescue - The British Archaeological Trust

Nem tudo é perfeito. Lá como cá existem problemas vários e a Inglaterra está longe de ser o Paraiso.
Falta de facto uma obra crítica de fundo sobre o panorama da arqueologia contratual inglesa, existindo de qualquer modo relatórios quer da tutela, quer das associações com vista a ilustrarem o cenário.
Exemplo disso é a obra: Hunter, J, e Ralston, I (eds) 1997 Archaeological resource management in the UK. Sutton:IFA
Fica a informação sobre uma realidade (algo) diferente.

sábado, outubro 07, 2006

Tempo

"For what is time? Who can easily and briefly explain it? Who can even comprehend it in thought or put the answer into words? Yet is it not true that in conversation we refer to nothing more familiarly or knowingly than time? And surely we understand it when we speak of it; we understand it also when we hear another speak of it.

What, then, is time? If no one asks me, I know what it is. If I wish to explain it to him who asks me, I do not know. Yet I say with confidence that I know that if nothing passed away, there would be no past time; and if nothing were still coming, there would be no future time; and if there were nothing at all, there would be no present time.

But, then, how is it that there are the two times, past and future, when even the past is now no longer and the future is now not yet? But if the present were always present, and did not pass into past time, it obviously would not be time but eternity. If, then, time present--if it be time--comes into existence only because it passes into time past, how can we say that even this is, since the cause of its being is that it will cease to be? Thus, can we not truly say that time is only as it tends toward nonbeing?"

Santo Agostinho de Hipona, Confissões, Livro 11 cap. XIV. (Traduzido e editado por Outler, A.C, 1994)

Qual a imagem que podíamos atribuir ao tempo?

O Tempo é algo que está profundamente ligado à arqueologia. A noção que aplicamos de tempo afecta profundamente o nosso trabalho.
O exemplo mais fácil é a distinção entre datação absoluta e relativa.
O próprio modo como se trabalha com qualquer destes tipos de datação (e o saber trabalhar com as datações) condiciona o modo como chegamos a determinados resultados.
Todos sabemos que a periodização e o sistema das Três Idades conduziram a uma visão redutora do passado que condicionou a arqueologia moderna, conduzindo-a numa narrativa evolucionista, numa linha que desembocava na civilização.
As perguntas que eram feitas em Pré-história tinham haver com "a Origem de".
Ao mesmo tempo os períodos eram vistos como entidades quase estanques, encerrando-se as pessoas em cercas de tempo, pulando-se de etapa em etapa. Ontem fui Neolítico, hoje Calcolítico, amanhã...
Pensar o Tempo como uma linha tem muito que se lhe diga.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Pratical Archaeology


Fonte: You Tube

Um exemplo de uma empresa de arqueologia inglesa: A Wessex Archaeology.
No caso temos um video relativo ao um pequeno curso de arqueologia (chamo a atenção para a idade dos participantes).
Novamente vemos como a arqueologia empresarial pode ser diferente.
Da recente visita a Inglaterra e da conversa com os colegas ingleses, eles destacaram como a originalidade do trabalho das Unidades de Arqueologia era parte do segredo do seu sucesso.
Muitas delas estão ligadas aos departamentos universitários (o que não é pecado.
Há exemplos de uma boa interacção que resulta proficua, como na Oxford Archaeology Unit. Também se deve dizer que muitas vezes essa ligação não passa do papel, sendo que um bom departamento não gera uma boa unidade e vice-versa.
Agora o conceito em si é que é muito diferente. O que é uma unidade de arqueologia? Para que serve?
A própria ideia do que é um colaborador na empresa e o que dele se pretende (ao nível da qualificação) é muito diferente.
É a tal coisa, trata-se de uma realidade diferente. Mas... aprende-se muito.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Acts of Discovery



Fonte: Arkeo

Está dísponivel online o livro de Matt Edgeworth: Acts of Discovery:An Ethnography of Archaeological Practice.
Basta seguirem o link para terem acesso ao livro.
Já agora aproveitem para dar uma vista de olhos ao que o grupo de Stantford (ligado ao Michael Shanks) anda a fazer.
É sem dúvida uma arqueologia muito diferente do que estamos habituados por cá (alguns mais do que outros).

Já agora uma nota em inglês sobre quem é o Matt Edgeworth.

"Matt Edgeworth directs and manages archaeological projects in a commercial environment. He is currently working freelance for archaeological units in the United Kingdom. His doctorate in Archaeology and Social Anthropology was obtained from the University of Durham, and he is the author of numerous excavation reports and urban surveys. The account of his ethnography of an archaeological excavation in England was recently published as 'Acts of Discovery' (BAR, Archaeopress 2003)"
Fonte: Altamirapress

Pobres e mal agradecidos

As crónicas de Rui Tavares no Publico são um dos meus momentos favoritos da semana. Elas são publicadas ao Sábado e eram uma das minhas razões principais para comprar o jornal, juntamente com o suplemento Mil Folhas.
Todas as semanas tem sido interessante ver como na mesma página duas colunas divergem. Do lado direito o inevitável, do outro lado o desmascarar dessa suposta inevitabilidade.
Algo profundamente ideológico que mostra bem as diferenças, até pela qualidade da informação de base e pelo modo como essa informação é exposta (ver a Helena Matos falar sobre a realidade espanhola deixa qualquer um de cabelos em pé).
Infelizmente recentemente o Publico decidiu reorganizar os seus suplementos. Ao Sábado ficou uma razão menos para comprar o jornal, o Mil Folhas passou para a sexta, ao que se veio a juntar o aumento de preço, num claro caso em que mais (Inimigo Publico, Fugas, Xis) é menos.
Descobri recentemente que as crónicas do Rui Tavares estão livremente disponíveis na Internet no seu blog “Pobre e mal agradecido”. Deixo aqui o link porque são de facto oxigénio perante a asfixia.
No mesmo blog aconselho a recente tradução de um texto de Ralf Dahrendorf sobre o “Novo Autoritarismo”. Dá que pensar e ainda bem que ainda existem coisas que dão de pensar. (Pensar mesmo! Se alguém vir o subtítulo da revista Xis e o conteúdo da mesma, percebe que pensar é um verbo… muito abrangente).
Não acredito nas supostas inevitabilidade que nos estão a vender. Acho que estão muito próximas das ideias do século XIX da inevitabilidade de um estado positivo.
Já sabemos que alguém nos andou a mentir e que essa mentira serviu para um ataque às liberdades e garantias universais.
A paranóia tornou-se justificada pela guerra no Iraque e temo que a mentira continue, tal como o ataque aos direitos, liberdades e garantias (veja-se como passam a ser designados como privilégios).
Neste sentido em que as coisas vão (direitos como privilégios) identifico-me com o Rui Tavares: somos pobres e mal agradecidos.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Conservação

"Conservation is anything but that: it is a very active and deliberate process of materialization; it ‘conserves’ nothing but ‘produces’ everything, as we can learn from Bruno Latour's work."
BUCHLI, VITOR (2002) The Material Culture Reader. New York: Berg Publishers, pág. 14.

Vejam já agora as regras relativas ao POC.
Creio que sem dúvida que o problema essencial está nesta diferença de visão sobre o prefixo arche em arquitectura e arqueologia.
Para uns é imposição, para outros é origem.
O Património como construção é um assunto que acho que merece um profundo debate. Uma "building perspective" face a uma "dwelling perspective".

quinta-feira, setembro 28, 2006

Questions From A Worker Who Reads


Pieter Brugel, 1553, A Torre de Babel
Fonte: http://www.w3.org/Talks/1999/0830-tutorial-unicode-mjd/slide107-0.html

Questions From A Worker Who Reads

By Bertolt Brecht

Who built the seven towers of Thebes?
The books are filled with names of kings.
Was it kings who hauled the craggy blocks of stone? And Babylon, so many times destroyed,
Who built the city up each time? In which of Lima’s houses,
That city glittering with gold, lived those who built it?
In the evening when the Chinese wall was finished
Where did the masons go? Imperial Rome
Is full of arcs of triumph. Who reared them up? Over whom
Did the Caesars triumph? Byzantium lives in song,
Were all her dwellings palaces? and even in Atlantis of the legend
The night the sea rushed in,
The drowning men still bellowed for their slaves.
Young Alexander plundered India.
He alone?
Caesar beat the Gauls.
Was there not even a cook in his army?
Philip of Spain wept as his fleet
Was sunk and destroyed. Were there no other tears?
Frederick the Great triumphed in the Seven Years War. Who
Triumphed with him?
Each page a victory,
At whose expense the victory ball?
Every ten years a great man, Who paid the piper?
So many particulars.
So many questions.

Fonte:Rethinkingschools.org

quarta-feira, setembro 27, 2006

O Sindicato

Na discussão que prossegue no archport (que acho extremamente interessante, independentemente da qualidade dos textos ou dos argumentos esgrimidos, pois ilustra o estado em que estamos) começam a surgir várias queixas sobre o modo como os trabalhadores são tratados pelas empresas, ganhando forma a ideia de um sindicato.
Acho uma excelente ideia. Muito melhor do que a ideia de uma “Ordem” ao melhor estilo corporativo, que no fundo serve, como todas as ordens, para proteger uma série de interesses instalados, promovendo o controle, ou seja o poder de uns.
Para os mais preocupados com a questão da existência de “autorizações de trabalho”, ou “carteiras profissionais”, relembro por exemplo o funcionamento do Sindicato dos Jornalistas.
Uma das coisas que mais me impressiona na fúria controladora da Ordem é a sua vontade de sobreposição ao Estado de Direito. Por exemplo as Ordens sobrepõem-se ao direito do Estado de validar cursos. O que se passa nas Engenharias é paradigmático.
Parece-me que a ideia do Sindicato de Arqueologia é extremamente interessante. Diria “Avante”, mas poderia ser mal interpretado politicamente. Assim, que força com isso. Avancem.

South of England plains

 
As planicies do sul de Inglaterra vão ficar guardadas na minha memória. Andar por aqueles campos é simplesmente maravilhoso. A imagem de uma árvore só no meio da planicie é um "deja vu" recorrente.
Estes campos não são um palimpsesto. São uma paisagem plena de vida e de temporalidades que se cruzam. A revisão crítica da aplicação deste conceito é uma necessidade imperiosa. Ela fará parte dos próximos textos que iremos desenvolver.
Há mesmo muito sumo nesta terra. O que fomos lá beber vai servir de alimento durante algum tempo. Em Dezembro lá estaremos de novo para o TAG.

West Kennet long barrow

 
Eis no horizonte West Kennet long barrow. Para mim foi o ponto alto desta viagem. É sem dúvida um monumento espetacular, por várias razões.
A conversa com o Julan Thomas à saída do monumento foi extremamente interessante. Nela foram abordadas questões sobre o Neolítico em Inglaterra.
A deposição dos ossos, a sua manipulação, a circulação, o encerramento destes monumentos, a sua ligação, é um assunto extremamente rico. Basta ler o "Understanding the Neolithic".
Neste sítio as coisas ganham ainda mais dimensão. Posted by Picasa

Salisbury Hill

 
Salisbury Hill destaca-se assim, saindo da planicie.
O maior monte artificial pré-histórico da Europa. Uma veradeira pirâmide ou zigurate, feita em cré ("chalk").
Impressionante. Posted by Picasa

Avebury - the village

 
A aldeia continua no centro de Avebury. As histórias neste local são extremamente ricas.
Uma das coisas que mais aprecio em arqueologia é poder apreciar estas histórias. Desde o folclore local, as lendas, os medos, até às histórias de escavações passadas, o "storytelling" (perdoem o anglicanismo) é para mim parte integrante da beleza da arqueologia. Posted by Picasa

Avebury Avenue - Figures on stone


Esta representação vem de um outro blog.
Dá mesmo que pensar, nomeadamente sobre a tal questão dos materiais pereciveis.
Há também a questão do vandalismo (a tinta demorou bastante tempo a desaparecer).
Muito interessante.

Avebury - Avenue stone

  Posted by Picasa

Avebury - Avenue

 
Foto da Avenue em Avebury.
Foi sugerido por alguém, que as pedras talvez fossem figuras antropomorficas, sendo algumas representações de elementos femininos e outras masculinos. Posted by Picasa

Reality and Dream

"Reality, Lacan once suggested, is merely a prop on which we lean our dreams (as cited in Crang 1994)"

in BENDER, B. (1998) Stonehenge: Making Space. Oxford: Berg Publishers

segunda-feira, setembro 25, 2006

O "road show"


Fonte: http://www.vishnujana.com/Road%20Show2.htm

Fazemos aqui uma pausa no relato da visita a Inglaterra para abordar um assunto despertado pelo programa Grande Reportagem, emitida pela SIC ontem, relativo ao desemprego entre os doutorados.

A reportagem foi muito bem elaborada, com depoimentos de elementos de varias áreas.
Foi claro que o desemprego nos doutorados não é exclusivo da área da Letras, ou das Humanidades.
Dos casos apresentados não deixei de fixar dois pelo seu especial significado: um doutorado em Engenharia Química e uma doutorada em Engenharia Têxtil.
Em ambos os casos existia uma aplicabilidade dos seus trabalhos na inovação industrial. Esse facto não foi no entanto o suficiente para evitar o seu despedimento. Posteriormente, nenhuma firma contratou estes desempregados altamente qualificados e com experiência.
O testemunho da doutorada em Engenharia Textil é impressionante. Está disposta a executar qualquer trabalho, não qualificado, de modo a assegurar o seu sustento e o da sua filha de 2 anos. A não qualificação acabou por seu o seu destino apesar do longo percurso académico. Creio mesmo que é o futuro a que grande parte desta geração está destinada.
Muitos falaram em emigrar e não estamos a falar da Ucrânia, Moldávia, ou qualquer outro país de leste, cuja mão-de-obra altamente qualificada, tem de sobreviver a qualquer preço. Estamos a falar de portugueses, muitos dos quais tiveram o contributo do Estado com uma bolsa que pagou em parte a sua formação. Dinheiro que os contribuintes portugueses pagaram, para apostar numa via de inovação e desenvolvimento. Uma via de futuro, pensada num cenário de Europa Ocidental.

Esta mesma via foi proposta nas últimas eleições pelo partido agora no poder: apostar na inovação tecnológica e cientifica como factor de desenvolvimento. O "choque tecnológico" foi manchete, bem como as visitas à Finlandia.
Passado ano e meio após as eleições o tema é sobretudo a redução do défice orçamental e o saneamento das contas publicas.
As Universidades e os Institutos Politécnicos, os Laboratórios do Estado, todos estão na mira da redução da despesa, utilizando-se os mais variados argumentos. Essencialmente: O Estado não pode esbanjar os seu recursos e estes devem ser aplicados em investigação de elite. É um argumento falaccioso, mas não é essa falacia que queremos abordar aqui.
Há no entanto que fazer justiça e atribuir mérito quando o há. O Ministério da Ciência e Tecnologia tem actualmente um programa de inserção de doutorados nas empresas. Vamos ver como vão correr as coisas. Sinceramente as minhas esperanças são reduzidas, mas o governo acertou na medida, procurando estimular a inovação com este programa.

Nesta mesma semana assistimos às manchetes com a iniciativa "Compromisso Portugal". A palavra de ordem foi algo como: "menos Estado, menos impostos".
Convido os leitores a lerem com os seus próprios olhos as propostas desta iniciativa . Alguma semelhança com determinadas pontos do governo socialista (como o ensino do inglês) não creio serem mera coincidência.
No ensino a aposta é na "secundarização", ou seja, o ensino profissionalizante, a melhoria do ensino secundário, etc.
Sobre o ensino superior temos em primeiro lugar a questão do financiamento (utilizador/pagador), surgindo depois uma referência sumária à necessidade de ligar Universidades e Empresas.
Cito (e notem que se trata apenas deste último ponto referente à ligação):

"As escolas e universidades públicas devem ser
incentivadas a procurar outras fontes de
financiamento para além das do Estado, sendo-lhes
nesse caso atribuída verba adicional por este
calculada com base numa percentagem das receitas
externas adicionais obtidas.
Deve estimular-se as escolas e universidades do Estado
a realizarem pelo menos uma vez por ano “road show”
junto das principais empresas e instituições da região
onde se inserem, apresentando os seus projectos e
obtendo opiniões sobre as necessidades existentes."

A parceria é então: procurar dinheiro e fazer um "road show".
Penso que se tornou claro qual o modelo de desenvolvimento que o empresariado português afecto a esta iniciativa preconiza.
Não existe inovação como factor de desenvolvimento. A qualificação (e por arrasto a qualidade) não está aqui presente. O modelo é o mesmo de sempre. Aos baixos salários acrescentou-se os baixos impostos como factor de redução dos custos de produção.
A inovação, a qualificação não são atributos ligados a este tecido empresarial português. A sua imagem do que é a Universidade é expressa na sua caricata proposta: um “road show”. É esta a sua ideia de parceria e desenvolvimento
Espero que o governo socialista perceba finalmente quem são estes seus amigos, que tanto querem ajudar na redução do défice, que querem a reforma do “welfare state” (expressão que consta no dito programa da iniciativa) e que querem também o inglês nas escolas (certamente para ajudar todos a compreenderem melhor certas “tags” aqui aplicadas).
A iniciativa baseava-se, segundo dizem alguns media, na frase de J F. Kenedy “Não perguntem o que a América pode fazer por vós, perguntem-se o que vocês podem fazer pela América”.
Se o seu objectivo era responder ao desafio “Não perguntem o que Portugal pode fazer por vocês, perguntem-se o que vocês podem fazer pelo Portugal” erraram completamente. Os senhores empresários quiseram dizer ao Estado o que ele podia fazer por eles (e logo por todos, segundo o seu ponto de vista). Demonstraram que de facto o que estão a fazer pelo país resume-se a pedir que o Estado “emagreça” para que possam pagar menos impostos e assim a economia possa crescer. “Business as usual”.
.
O que é que se proposeram eles próprios a fazer? Qual o seu compromisso com Portugal? A pergunta torna-se retórica ao ler o documento.

A visita do Presidente da Republica a Espanha pretende mostrar uma imagem de um Portugal dinâmico, virado para a inovação e para o desenvolvimento.
O paradoxo, irónico e mais uma vez caricato, é Portugal querer mostrar esta imagem ao país da União Europeia que tem apresentado as melhores taxas de crescimento e um verdadeiro desenvolvimento. O segredo… toda a Europa já o sabe: inovação e aposta na qualificação superior.

Parece-me que neste nosso “road show” existe apenas alguém que acaba a encenar para (e a enganar-se a)... si mesmo.
Infelizmemente o mundo é implacavel perante este nosso espetáculo. Perante tudo isto afirma:
- Obrigado. Next!

Resta saber em que localidade este nosso "road show" irá atacar de seguida.
Não haverá outra maneira?

Stonehenge - Para a posteridade

 
Para a posteridade fica a foto. Posted by Picasa

domingo, setembro 24, 2006

Avebury - next

 
A seguir temos Avebury. E depois... West Kennet long barrow.
Este último foi sem dúvida, para mim, o momento alto desta viagem. A conversa com o Julian Thomas à entrada deste monumento foi sem dúvida muito interessante. Posted by Picasa

Stonehenge - Cursus III

 
Foto do circulo de Stonehenge visto a partir do Cursus. Posted by Picasa

Stonehenge - Cursos II

 
Esta é a paisagem do Cursus.
O lugar que será escavado no próximo ano situa-se no sítio onde a foto está a ser tirada. Posted by Picasa

sábado, setembro 23, 2006

Stonehenge - Cursus

 
Reproduzimos aqui o painel explicativo do Cursus, um enorme recinto que deve o seu nome ao facto de ter sido inicialmente interpretado como um Hipodromo.
Percorrer este expaço é sem dúvida impressionante. Em volta existe todo um cenário rural, com algumas vacas a pastar bucolicamente.
Para mim serviu para um passeio introspectivo. O cenário é absolutamente ideal.
Lembrei-me dos passeios do Chris Tilley. Fazem sem dúvida sentido. Posted by Picasa

Stonehenge - Heel stone

 
A "Heel stone" encontra-se junto à "Avenue" que desce a encosta, virando depois para o rio Avon. Nesta direcção ao fundo (embora não perceptivel na foto) temos o famoso "Cursus".
Parece que será nestes dois locais que se irá escavar no próximo ano. Uma equipa escavará um dos extremos do "Cursus" e outra escavará na "Avenue", bem próximo ao circulo de Stonehenge.
Pela próximidade da escavação ao parque de estacionamento dos visitantes, será de esperar que a escavação seja amplamente visitada. Já em Durrington Walls assim aconteceu. Existia inclusive um folhete explicativo da escavação. Os visitantes contam-se em milhares por campanhas.
Esta integração da escavação com a visita é um ponto que já há muito pensavamos em Castanheiro do Vento. O contacto com a realidade inglesa veio fortalecer esta vontade. Neste momento dependemos apenas do financiamento para tornar o desejo realidade. Posted by Picasa

Stonehenge - Ladscape II

 
Para ilustrar ainda melhor o post anterior veja-se na imagem a famosa "Heel stone" vendo-se por detrás, à direita, um dos muitos "barrows" que rodeiam o monumento.
A "Heel stone" é sobretudo famoso pelo seu alinhamento com o nascer do sol no solisticio de Verão.
Uma rápida pesquisa no Google ilustra não só o muito que se continua a escrever sobre o sítio, como a verdadeira enchente que se dá todos os anos, nos dias de solísticio (Verão e Inverno). Posted by Picasa