terça-feira, novembro 13, 2007

DCC++ (Exhibition)

Dos meus amigos da Altart (Cluj, Romenia)




The AltArt exhibition at Culturescapes speaks about the evolution of romanian digital society. It presents the DC++ phenomenon in Romania arguing that while the administration's efforts to meet EU standards stumbled in social evolutionism, the combination of technological development and illiteracy in permission culture "beamed up" the romanian internet generation to face the very issues of contemporary virtual social space - e.g. producing remix culture or playing gift economies. This is framed - specific to the romanian context - by a romantic manner in tackling self-representation or telling private from public space - as illustrated by the selected collection of cultural artefacts collected from public DC++ hubs.

More on the exhibition: http://bareshare.blogspot.com/.

sábado, setembro 01, 2007

Lived archaeology

"Archaeology , in so far as it is a science, is a science which must be extended into the living an must indeed itself be lived if it is to partake a proper vitality."

pg. 17

Wheeler, M. (1954) Achaeology from the Earth, Middlesex: Penguin books

domingo, junho 17, 2007

Á deriva?

Durante algum tempo segui à distância a questão da descoberta de um barco e o tesouro que teria sido descoberto pela empresa Odissey perto de Gibraltar.
Tenho sempre alguma atenção quando se trata deste tipo de discussões mediáticas. Sei bem como são os media e como a avalanche pode causar mais problemas do que soluções.
O próprio clima de "descoberta" não ajuda.
Esta notícia fez com que mais uma vez se falasse sobre as famosas empresas privadas de "caça ao tesouro" que exploram os sete mares. É um tema problemático, sobretudo num país como o nosso em que a crise levou a uma completa reformulação no modo como a Administração gere o Património.
Em Espanha todo o caso gerou uma enorme polémica, a Portugal chegaram os ecos da história. E se ele estivesse em águas portuguesas? Não se tratava de um cenário completamente impossível. Ele aliás foi levantado quando se afirmou que o navio não se encontrava em águas espanholas.
O recente desmantelamento de uma série de instituições em Portugal na área do Património é preocupante. Ele resultou de vicissitudes várias em que somos todos pródigos. Vou voltar um pouco atrás na história.
A criação de um organismo e Portugal que tutelasse o património arqueológico deriva de toda a problemática do Côa. Mas isso não aconteceu apenas devido à mediatização do Côa e à mudança de políticas que o governo Guterres tentava criar. Há um problema de fundo que era expresso naquilo que era o programa da Comissão Instaladora. Esse problema era (e ainda hoje é) o facto de não se conhecer o que existe em termos de Património arqueológico a nível nacional. A estratégia de inventariação do então IPPAAR estava comprometida por falta de meios, de vontade política, e de muitas outras razões. Uma das principais premissas do IPA seria a de fazer face perante o problema.
Vou passar por cima de toda a novela que marcou a história curta do IPA. Também não quero entrar aqui em polémicas sobre o IGESPAR. A minha preocupação fundamental é a de saber como o Estado português está a agir na área do Património. Aquilo que se pede num país com poucos recursos é que exista o básico. No caso penso que o navio bate no fundo quando o património se encontra a saque. Aí é quando o Estado falha completamente.
Entre uma estratégia que garantisse a investigação e outra que garantisse a inventariação (o que não é inconciliável) a política do Património em Portugal debate-se sempre com um problema essencial, que é a falta de verbas e a canalização das mesmas para este ou aquele lugar.
Para além da espuma dos dias (das polémicas mais ou menos mediáticas, com afirmações mais ou menos ao sabor das correntes) fica uma postura de Estado sobre o que é essencial em determinadas áreas. A Ministra da Cultura espanhola agiu bem quando tentou salvaguardar os direitos do Estado espanhol. Em Portugal o Estado português agirá bem se obtiver as mesmas garantias (não tem de imitar, tem é de salvaguardar).
Naturalmente que não se fazem omeletes sem ovos. Sem especialistas em determinadas matérias Portugal vive na dramática situação de seguir a corrente. Somos a periferia da Espanha que se foi apetrechando de meios (a nacionalidade e o Património em Espanha...). Esta história serve de exemplo. O Estado espanhol seguia de perto a actividade desta empresa, etc etc.

Há ainda uma questão para a qual penso que importa reflectir, que é na questão "Polémica". A polémica é também uma participação cívica. Ela surge sob a forma de um activismo mais ou menos esclarecido. No meio dela existe claro a confusão da opinião. A emissão da opinião torna complicado que se abordem determinados temas. Afinal as opiniões valem o que valem. Mas castrar a opinião seria ainda pior.
Certas polémicas assumem-se como verdadeiros linchamentos públicos. Penso que isso revela uma questão dialéctica relativa à transformação das relações de poder. Para perceber isso tínhamos de voltar atrás a Hegel. Penso que esse retorno à leitura de Hegel vai acontecer mais cedo ou mais tarde.

O facto de nos interessarmos por determinados assuntos não nos pode tornar autistas face ao mundo. Penso sempre na distinção do Heidegger entre Autêntico e Inautêntico. Apesar de queremos alcançar o "pensar" (a tarefa do pensar) a verdade é que estamos sempre a cair no dia-a-dia. Tropeçamos nele sempre. Mas é também da nossa responsabilidade aproveitar as deixas que o dia-a-dia nos trás. Afinal ele também pode ser um enorme argumento para que se possa pensar.

sexta-feira, junho 15, 2007

Zdeněk Burian



Ainda Zdeněk Burian
Fonte: http://www.zdenekburian.com

Zdeněk Burian



Cresci como quase todos educado pelas ilustrações do checo Zdeněk Burian. A minha imaginação está repleta destes desenhos que ilustram ainda hoje livros e enciclopédias.

quinta-feira, junho 07, 2007

Technology - Dreadmill/Necromedia



Acho que vale a pena juntar à discussão: Dreadmill project and Necromedia.
Acompanhem a performance (vem depois da introdução inicial com imagens).
Voltamos claro a Heidegger. Na performace relembra-se a ligação do Gestell com Skeleton (o esqueleto).
Acho que estamos a abrir caminho para uma boa discussão. Alguém quer entrar?

quarta-feira, junho 06, 2007

O arriscar de se fazer um podcast


powered by ODEO

No início digo várias vezes blog quando quero dizer podcast. Mas com a voz e com a tecnologia que estou a utilizar não se podem emendar palavras como num texto. Ou se refaz tudo, ou está tudo lá. Como uma emissão de rádio em directo. Por enquanto é algo que quero explorar.
Afinal antes do vídeo a radio teve stars em directo.

Podcasting - Gardel


powered by ODEO

Fonte: Carlos Cardel's Tangos in Mp3

"Mi Noche Triste:

Percanta que me amuraste
en lo mejor de mi vida
dejándome el alma herida
y esplin en el corazón,
sabiendo que te quería,
que vos eras mi alegría
y mi sueño abrasador...
Para mi ya no hay consuelo
y por eso me encurdelo
pa olvidarme de tu amor.

De noche cuando me acuesto
no puedo cerrar la puerta
porque dejándola abierta
me hago ilusión que volvés.
Siempre traigo bizcochitos
pa tomar con matecito
como cuando estabas vos...
Y si vieras la catrera
como se pone cabrera
cuando no nos ve a los dos.

Cuando voy a mi cotorro
lo veo desarreglado,
todo triste, abandonado,
me dan ganas de llorar,
y me paso largo rato
campaneando tu retrato
pa poderme consolar.

Ya no hay en el bulin
aquellos lindos frasquitos
adornados con moñitos
todos de un mismo color,
y el espejo esta empañado,
si parece que ha llorado
por la ausencia de tu amor.

La guitarra en el ropero
todavía esta colgada;
nadie en ella canta nada
ni hace sus cuerdas vibrar...
Y la lámpara del cuarto
también tu ausencia ha sentido
porque su luz no ha querido
mi noche triste alumbrar.

Para ir:"


Fonte: Tango Tour

O primeiro Podcast


powered by ODEO

Novidade: Podcast

My Odeo Podcast

Laima Vaikule e Raimond Pauls - Blues

Алла Пугачева и Раймонд Паулс - Маэстро



O famoso Raimonds Pauls com Ana Pugacheva em 1981. Para uma imagem do que era o outro lado.

terça-feira, junho 05, 2007

SL - 2nd Life



Sim... aderi ao Second Life. Tenho a dizer que foi por uma razão experimental. O projecto europeu que me levou à Roménia relaciona-se com a construção de um mundo virtual de Património em 3D. Será para viajar virtualmente na Europa (já sei que muitos preferem viajar na realidade, mas os objectivos do projecto relacionam-se com um grupo alvo de adolescentes).
O que eu tenho a dizer do pouco que experimentei do Second Life? Nada. Porque seria tão idiota como falar dos meus primeiros segundos na web, com os blogs, com o Youtube, com...
Acho que esta área tem muito potencial. Apesar de estar cheio de anúncios de sexo, roupas, e outros elementos, penso que existe potencial neste tipo de experiências. Claro que fiquei a pensar sobre a Matriz, a virtualidade...
Pode ser que volte ao SL, ou pode ser que não. Acho que faltam atractivos que não sejam a interacção com outros (penso que é um dos motores principais para o SL). Penso que é nisso que o Travel in Europe pode vir a fazer a diferença. Em breve veremos. Tenho muitas esperanças neste projecto.

Nota: cada avatar (bonequinho) que está aqui, é de facto uma pessoa. Ele é o icon com que alguém se nos apresenta neste mundo virtual. O SL tem já tem quase 7 milhões de residentes (6.993.386 no momento em que escrevi estas linhas). Em média deve movimentar cerca de 1 milhão de pessoas.

domingo, maio 20, 2007

Garage Band - Vicious Five



Não costumo revelar muito das minhas escolhas musicais. Elas são muito muito variadas, vão desde os cantares Bulgaros, a cantatas de Bach, enfim... muita coisa.
Mas se me perguntarem qual é o grupo português que mais gosto, não tenho dúvidas: Vicious Five.

sábado, maio 19, 2007

Com o mal do Outro...

"Para quem nasceu na década de 80, é muito mais difícil «chegar» onde «chegaram» o pai e a mãe e muito mais provável «ficar pior» do que «ficaram» o pai e a mãe"

Vasco Pulido Valente, Publico 19/5/2007

Começo já por dizer que não costumo concordar com Vasco Pulido Valente (VPV). Aliás, estou a ser brando, eu geralmente tendo a discordar fortemente com o VPV. Mas quando vi hoje a última página do Publico lembrei-me obviamente de um post que o Vítor colocou aqui há uns dias e que foi alvo de uma longa troca de comentários (a mais longa e participada deste blog).
Tive oportunidade de falar com o Vítor por telefone sobre esta matéria. Penso que o Vítor se esquece de algumas questões quando acusa as novas gerações de uma queixa vã.
Antes de no entanto abordar as queixas dos doutorandos e recém-doutorados (nos quais forçosamente estou incluído, mesmo que o Vítor não o tivesse em mente quando escreveu aquele post) convém esclarecer um ponto. É óbvio que o Vítor passou (e passa) por diversas dificuldades. Trabalhando com ele sei que é essencialmente um lutador. Ele é a imagem das palavras de um colega meu em Coimbra, que me disse que para se conseguir algo é preciso ser chato, muito chato. O Vítor é incomodo porque dá-se ao trabalho e chateia sobretudo quem está estabelecido. Por essas e por outras razões a sua vida não foi fácil.
Contudo, há uma frase que nós conhecemos e que rima bem com o mundo capitalista e individualista em que nos situamos hoje. Dizemos nós em português que: "Com o mal do outro posso eu bem". Pois foi exactamente isso que me lembrei quando li o post do Vítor. Há um erro fundamental na sua argumentação. O seu mal, as suas dificuldades e problemas não o legitimam. A exposição destas questões numa linha que o leva a situar-se num "topos" face aos demais, tornam-se palavras vãs quando o sentido é denunciar determinados comportamentos. A ideia é simples: "Comparem o que eu sofri e comparem o que vocês sofreram". A conclusão para mim é inevitável: Não há comparação.
Quando o Governo Sócrates denuncia os "privilégios" da função pública tende a seguir o mesmo discurso. "Já se comparam com as condições da maioria da classe trabalhadora? Pois é, vocês são uns privilegiados!". Já denunciei no Gundisalvus a perversidade desta comparação.
E parece-me que tudo isto se liga com uma perversidade imensa do mundo em que vivemos. Nunca como hoje tivemos acesso a tanto (argumento máximo de um capitalismo que avança sob a bandeira do progresso). Mas à minha volta eu não vejo progresso. Comparo com os meus colegas que trabalham na arqueologia empresarial e vejo um cenário triste, sem condições. São os jornaleiros do século XXI. Percorrem o país de lés a lés saltitando de empresa em empresa. No seu local de trabalho há uma lei fundamental: o mercado. O Património não está a saque, está em destruição massiva diariamente. Já denunciei tudo isto (e o Vítor também).
Haverá privilegiados? Sim é certo que os há. Há quem por exemplo consiga o sonho de fugir de tudo isto com uma bolsa da FCT e arranjar espaço (financeiro e temporal) para poder de facto trabalhar seriamente em arqueologia. Mas é uma fuga com pernas curtas. Quando termina a bolsa (de oxigénio) volta-se à asfixia do que é Portugal. Muitos seguem um rumo: mudar de país. Essa mudança é o sintoma de que em Portugal os emigrantes tornaram-se um pouco mais qualificados, mas o "salto" continua como a opção real para uma vida com melhores condições.
As Universidades são o espaço vergonhoso pontuado pela imobilidade. Não há lugar para os novos a não ser como clientes pagantes de cursos de doutoramento. O seu enquadramento na investigação dá-se em redes de clientelas que asseguram a figura do "chefe", mas que não garantem qualquer tipo de qualidade ou inovação (a não ser aquela que o "chefe" permita).
Podia continuar o cenário negro que é a arqueologia, como podia abordar a maioria das outras áreas de investigação. Como sabemos qualidade e inovação não são bem as características deste nosso país.
Poderia dizer que face a de tudo isto me sinto como um privilegiado. Estou numa instituição com uma dinâmica forte, que aposta em mim (embora não me possa conceder nem um dia de licença sabática, muito menos 3 anos). Entrei para ela pouco depois de conclui a licenciatura (directamente após cumprir quatro meses de serviço militar obrigatório, que quase impediram essa mesma entrada). Tive o privilégios de integrar redes europeias de excelência (que me ocuparam o tempo em que devia redigir o meu doutoramento). Vivo numa habitação própria com dois quartos (que custa metade do meu salário, estando endividado para o resto da vida). Possuo um veiculo (de 1993 com um defeito estrutural que me faz gastar mais em pneus que em gasóleo e cujo arranjo custaria o meu salário de 5 meses). Mas este discurso todo, para além de ser apenas um mero exercício de exposição própria, só me ajuda a perceber como o meu privilégio apenas depende de com quem me comparo e como me comparo. É absolutamente idiota.
No fundo isto parece-me aquele sketch do Gato Fedorento, do concurso de velhas para ver quem sofre do maior mal.

Dizer que esta é uma geração de privilegiados é perverso. Retirar o poder de alguém se queixar é mais perverso ainda.
Quem hoje tem 30 anos não viveu com o fascismo, mas também não sabe o que foi viver o 25 de Abril. Não pode entrar nessa aspiração de construir um Portugal de novo. Vive apenas nesse mundo de clientelas chefiadas por quem herdou o poder após a Revolução.

Mais uma vez penso que se percebe que só o capital beneficia com o discurso dos privilegiados. É que assim tem sempre uma desculpa para se justificar: "Têm de lutar pela vida meus amigos. É montar empresas, sobreviver, comer ou ser comido. São as regras do jogo. Lutem contra os interesses instalados. Tirem-nos de lá. Trabalhem!". Tudo muito bem premiado com gadgets, móveis, arte e luxo, alicerçado em crédito e exploração.
A defesa de qualquer outro modelo torna-se a defesa do poder instalado. Os comunistas lembram-se decerto bem de como eram acusados pela direita de defenderem o estado "do faz-nenhum". O capital sempre soube pintar a contestação de defesa de interesses instalados (não é essa a acusação que é feita aos sindicatos?).
Como todos sabemos, esta defesa da diferenciação positiva, meritrocracia selvagem, é a máscara de uma sociedade de privilegiados. Após a queda do Bloco, todos se rendem à ideia de que este é o único mundo possível. Perverso como o capitalismo sabe tão bem ser.
Foi o VPV que uma vez afirmou: "Vivemos num mundo perigoso". Pois é, vivemos mesmo num mundo perverso e perigoso. Afinal concordo mais com ele do que eu pensava.

(Este post é cópia de um outro postado no Trans-ferir)

quinta-feira, maio 17, 2007

Sherds


Fonte: Texas Beyond History

"There is something inherently unsatisfying about counting sherds, for they have no obvious or direct equivalence to any phenomenon in systemic context. Noting this discrepancy, a number of archaeologists have expended much effort in developing new techniques for quantifying pottery, almost with less than satisfatory results. Wheights, maximum and minimum number of vessels (MNV) whole vessel equivalents, and others have been proposed (e.g. Orton 1980, 1982; Chase 1985). Usually those discussions proceed as if archaeologists were searching for one way - the best way - to count pottery. It has become evident, however, that each method furnishes evidence relevant to a different set of research problems. Thus, like all descriptions of the archaeological record, they must have a purpose." (meu negrito)

Schiffer, Michael (1987) Formation Processes of the Archaeological Record. Albuquerque: New Mexico University Press

sábado, maio 05, 2007



Esta lista é mais importante do que possa parecer. Através dela podemos descortinar algumas das parcerias internacionais que a área de arqueologia do IPT mantém. Mas o seu número é ainda maior. Dela não constam por exemplo as nossas parcerias com a América do Sul, nomeadamente com o Brasil.
Esta talvez seja uma das maiores vantagens do IPT.


Podemos aqui ver o plano curricular da Licenciatura em Técnicas de Arqueologia. Ele é variado, dando uma formação de base alargada, mas onde se pode ver a preocupação com a técnica (eu diria que mais do que a técnica existe a questão da Technê). Para além do plano curricular existe também a preocupação com a inclusão de outros elementos académicos, nomeadamente a questão dos trabalhos de campo que se desenvolvem todos os anos, em variados locais.

Técnicas de Arqueologia em Tomar



Esta é a capa do folheto de divulgação da licenciatura em Técnicas de Arqueologia. Graças ao facto da licenciatura ser recente, ela surge desde o início adaptada ao quadro de Bolonha. A licenciatura possui três anos, preparando essencialmente a questão técnica (que possui teoria e prática, pois como sabemos elas são indissociáveis).
A foto é do monumento II de Rego da Murta, estudado por Alexandra Figueiredo.

segunda-feira, abril 09, 2007

Paisagem ferida

"Esta paisagem é um manuscrito com a frase mais bela cortada"

Fernando Pessoa, A Hora Absurda

"Novas Independentes nos esperam"

O caso Universidade Independente trouxe à luz do dia várias questões. Num artigo de opinião recente intitulado "Novas Independentes nos esperam" Paulo Peixoto alertava para os perigos da liberalização do Ensino Superior (Publico 4/4/2007). É uma boa reflexão agora que nos inclinamos para novas formas de gestão dos estabelecimentos de ensino superior.
Mesmo que o Governo decida hoje que a Independente pode continuar (com um Reitor que será próximo do Governo mas com um perfil algo diferente do que a tutela desejaria) existem já danos para a instituição que poderão ser irremediáveis. Isso afectará talvez a imagem de outras instituições já afectada por um outro caso (Moderna).
Existem Universidades privadas de méritos reconhecidos. Algumas ultrapassam mesmo instituições de Ensino Superior publicas. O sucesso da Universidade Católica, sobretudo na área da Gestão, demonstra que o ensino superior privado não é sinónimo de falta de qualidade. Mas infelizmente é a excepção que confirma a regra.
E vem novamente ao de cima o dualismo entre a liberalização e a regulamentação. A pergunta aqui tem de se centrar apenas num elemento: qual garante qualidade? Sendo que essa qualidade é a garantia de futuro para o país (e o debate é muito semelhante ao da liberalização de outras áreas, como a que assistimos na arqueologia).
Poderá uma universidade privada ser uma universidade de qualidade? Sim pode, mas essa qualidade tem de ser exigida ou pelo mercado ou pelo Estado. Sinceramente acho que a força do mercado seria determinante pois consegue ser bem mais poderosa do que a força do Estado. Mas só um cândido pode acreditar que o mercado é simples e se rege pelo boa-vontade. O mercado não é bom nem é mau: é. Porque é composto por pessoas e estas não possuem um traço fundamental bom ou mau (a essência do ser-humano é ser).
O papel do Estado é exactamente esse de poder conduzir o mercado para o que pode ser o bem-comum (como na estátua em que um poderoso garanhão é domado por um ser humano).
Em Portugal o mercado (ou seja nós) não exige qualidade. Exige quantidade e baixo preço. O nosso mercado reflecte a lógica que impusemos às populações. Elas foram conduzidas neste modelo, baixo custo/baixo preço/em quantidade. Sair cedo da escola para trabalhar. Ganhar dinheiro para poder alimentar alguns sonhos à medida da (pequena) bolsa. Fazer pela vida.
Esta foi a receita do abandono escolar. Na Escola hoje como no passado, quem quer estudar é o "marrão", o "idiota", o "nabo". Aquele que não sabe nada da vida.
Em Portugal as pessoas fazem pela vida desde cedo sem pensar bem nas consequências. Vive-se no domínio da dicotomia teoria/prática com privilégio para a segunda via. O elogio da prática é o elogio do fazer pela vida. O elogio da teoria reforça apenas esta divergência. A Technê e a Poiesis foram desmembradas. E por isso mesmo é que desconfiamos tanto de quem possa saber. Por isso é que os doutorados não entram nas empresas. Aquele era o marrão que não sabe da vida face ao empresário que a ganhou a pulso. A dualidade reforça-se e a oportunidade perde-se. É uma luta pelo poder através do saber. Afinal quem sabe manda, mas continuamos perdidos sobre o que significa saber (Teoria...Prática...). Enquanto não ultrapassarmos esta divisão não estamos à altura do desafio.
Tal como a nossa pesca nunca passou de arte a tecnologia, podemos afirmar que nunca fomos modernos. Logo estamos condenados a uma espécie de pós-ante-modernidade.
O saber não se articula com o fazer. Por isso mesmo reforçaram-se as Ordens. O corporativismo tornou-se o arauto da qualidade e da regulamentação ante o Estado e o Mercado. As licenciaturas em Engenharia tornaram-se a caricatura de tudo isto.
Ainda me lembro da Engenheira Fábia. A história conta-se rapidamente. O Gabinete de Informática do IPT indicou-me uma loja de informática que prestava bons serviços. Disseram-se para contactar a Engenheira Fábia. Pensei logo que se trataria de alguém formado em Engenharia Informática que poderia prestar a melhor assistência aos meus problemas. Pensei "Que sorte, temos uma casa de informática que presta serviços de qualidade e com acompanhamento profissional!!". Cheguei à loja. O espaço era igual ao de muitas lojas de informática. Uma jovem estava no balcão. Perguntei pela Engenheira Fábia, esperando ter acesso à especialista. A rapariga prontamente me respondeu: "A Engenheira Fábia sou eu". Com a licenciatura em Engenharia Civil a Fábia estava agora atrás de um balcão. Era especialista em tabelas de preços e fornecedores. Infelizmente pouco me poderia ajudar no tipo de aconselhamento informático que eu precisava, mas indicou-me um excelente preço para uma placa-gráfica.
A Engenheira Fábia tentou o caminho do saber, mas acabou como todos a fazer pela vida. Segundo ela em Portugal é o único caminho. Acham que ela vai querer que os filhos tenham uma licenciatura?
Afinal em Portugal o que significa estudar? E o que significa estudar numa universidade independente?

terça-feira, março 20, 2007

Desolatione - Desolata est terra

"Desolada ficou toda a terra, por não haver ninguém que reconsidere no seu coração"

Jr 12, 11

"But the rock needs incisions
And the earth needs furrows,
Would be desolate else, unabiding"


Holderlin, "The Ister"

segunda-feira, março 12, 2007

A imagem do mundo



NASA, Whole world: land and oceands (Fonte: wikipedia)

"Cuando meditamos sobre la Edad Moderna nos preguntamos por la moderna imagen del mundo. La caracterizamos mediante una distinción frente a la imagen del mundo medieval o antigua. Pero ¿por qué nos preguntamos por la imagen del mundo a la hora de interpretar una época histórica? ¿Acaso cada época de la historia tiene su propia imagen del mundo de una manera tal que incluso se preocupa ya por alcanzar dicha imagen? ¿O esto de preguntar por la imagen del mundo sólo responde a un modo moderno de representación de las cosas?

¿Qué es eso de una imagen del mundo? Parece evidente que se trata de eso: de una imagen del mundo. Pero ¿qué significa mundo en este contexto? ¿Qué significa imagen? El mundo es aquí el nombre que se le da a lo ente en su totalidad. No se reduce al cosmos, a la naturaleza. También la historia forma parte del mundo. Pero hasta la naturaleza y la historia y su mutua y reciproca penetración y superación no consiguen agotar el mundo. En esta designación está también supuesto el fundamento del mundo, sea cual sea el tipo de relación que imaginemos del fundamento con el mundo (5).

La palabra ‘imagen’ hace pensar en primer lugar en la reproducción de algo. Según esto, la imagen del mundo sería una especie de cuadro de lo ente en su totalidad. Pero el término ‘imagen del mundo’ quiere decir mucho más que esto. Con esa palabra nos referimos al propio mundo, a él, lo ente en su totalidad, tal como nos resulta vinculante y nos impone su medida. ‘Imagen’ no significa aquí un calco, sino aquello que resuena en el giro alemán: ‘wír sind über etwas im Bilde’, es decir, ‘estamos al tanto de algo’. Esto quiere decir que la propia cosa se aparece ante nosotros precisamente tal como está ella respecto a nosotros. Hacerse con una imagen de algo significa situar a lo ente mismo ante si para ver qué ocurre con él y mantenerlo siempre ante sí en esa posición. Pero aún falta una determinación esencial en la esencia de la imagen. «Estar al tanto de algo» no sólo significa que lo ente se nos represente, sino que en todo lo que le pertenece y forma parte de él se presenta ante nosotros como sistema. «Estar al tanto» también implica estar enterado, estar preparado para algo y tomar las consiguientes disposiciones. Allí donde el mundo se convierte en imagen, lo ente en su totalidad está dispuesto como aquello gracias a lo que el hombre puede tomar sus disposiciones, como aquello que, por lo tanto, quiere traer y tener ante él, esto es, en un sentido decisivo, quiere situar ante sí (6). Imagen del mundo, comprendido esencialmente, no significa por lo tanto una imagen del mundo, sino concebir el mundo como imagen. Lo ente en su totalidad se entiende de tal manera que sólo es y puede ser desde, el momento en que es puesto por el hombre que representa y produce. En donde llega gen del mundo, tiene lugar una decisión esencial sobre lo ente en su totalidad. Se busca y encuentra el ser de lo ente en la representabilidad de lo ente."

Heidegger, [1938] La época de la imagen del mundo [Die Zeit des Weltbildes], in Heidegger in Castellano

domingo, março 11, 2007

Datability

"The datability of the 'now', the 'then', and the 'on that former occasion', reflects the ecstatical constitution of temporality, and is therefore essential for the time itself that has been expressed. The structure of the datability of the 'now', the 'then', and the 'on that former occasion', is evidence that these, stemming from temporaliy, are themselves time. The interpretative expressing of the 'now', the 'then', and the 'on that former occasion', is the most primordial way of assigning a time. In the ecstatical unity of temporality—which gets understood along with datability, but unthematically and without being recognizable as such—Dasein has already been disclosed to itself as Being-in-the-world, and entities withinthe-world have been discovered along with it; because of this, interpreted time has' already been given a dating in terms of those entities which are encountered in the disclosedness of the "there": "now that—the door slams"; "now that—my book is missing", and so forth."

Heidegger, B&T, pág. 461

O Medo



Fonte: O blog do rapaz

O Medo - uma característica Inautêntica.
O Medo revela o domínio que os outros têm em nós. Deixamos de avaliar por nós para avaliar perante a perspectiva dos outros. Temos de perceber uma coisa simples: existe sempre um outro que terá uma opinião. Mas não existe apenas um outro, existem os outros logo teremos sempre um sem número de opiniões diferentes.
O capitalismo de hoje joga duplamente com o medo. Por um lado pede às pessoas criatividade, por outro inventa-lhes novas ameaças (o ébola, a gripe das aves, a possibilidade de um asteróide colidir com a terra...). É que a criatividade absolutamente à solta é um problema. Assim, as ameaças passam para o dia-á-dia de todos, de modo a que se tornem na sua preocupação, ocultando ou não outras ameaças (o despedimento, a invasão da vida privada, o cruzamento de dados, a vigilância omnipresente...). Existem perigos dos quais nós nem sequer estamos cientes.
Perante o medo o que podemos fazer? Aqui sigo profundamente Heidegger: resolutamente atirar-nos para a frente. Nós efectivamente vamos morrer um dia, o que fazemos até lá depende de nós.
A outra alternativa não nos serve. Ela é o ceder ao medo (ao medo da opinião dos outros, ao medo de falharmos, ao medo de...), mas essa cedência resulta na imobilidade, tal como o individuo que não sai de casa com medo de...
Ter medo é fechar-se em si próprio. Arriscar resolutamente é avançar no nosso propósito. Correu mal? Aprendemos! A existência baseia-se em aprender! É por isso que é preciso arriscar se não nunca aprendemos. Afinal não é isso que queremos?
Experimentar é correr o risco, mas só assim aprendemos.
Não se trata de arriscar a provocar a própria morte. É o arriscar as nossas ideias (o que em certas situações nos pode efectivamente conduzir à morte, mas a morte não é um despedimento, ou uma reprovação, é a morte mesmo, é o deixar literalmente de existir).
O correr mal não advém da opinião dos outros. Corre mal porque não cumpriu os nossos propósitos, ou por circunstâncias, ou porque erramos (somos humanos). Por isso é que acho engraçado a questão do "cair em desgraça". Quem age pelo medo tem sempre este receio, mesmo que esteja na posição mais confortável. Experimentar não se coaduna com o medo. Nós não caímos em desgraça, nós caímos para a opinião dos outros! Mas isso vale o que vale.
Só quando cumprirmos com uma cultura do risco é que podemos aprender pela experiência. É o vivermos num mundo feito de várias caminhos que se arriscam para a frente. É isso que faz com que haja variedade nas ideias (porque é que será que noutros países se aprovam teses que aqui não seriam nunca aprovadas? Aqui somos todos os dias convidados a sair para podermos desenvolver efectivamente as nossas ideias dado a cultura imposta do medo).
Max Weber escreveu o famoso trabalho sobre a ligação da religião protestante com o capitalismo. Não tenho a mínima da dúvida da relação. Alguém que se rege pela salvação como um acto do próprio está habituado a pensar por si (e a interpretar por si num culto à hermenêutica). Alguém que se rege pelo julgamento dos seu actos por outrem (seja Deus ou os outros) estará para sempre envolto numa cultura do medo.
Há quem veja nisto uma apologia do individualismo. Não percebe algo que alguém de uma cultura protestante percebe desde início: o agir por mim não significa que não actue em prol dos outros (o Bem comum). Mas o prol do outros não significa o medo dos outros.



"Fear discloses Dasein predominantly in a privative way. It bewilders us and makes us 'lose our heads'. Fear closes off our endangered Being-in, and yet at the same time lets us see it, so that when the fear has subsided, Dasein must first find its way about again.

Whether privatively or positively, fearing about something, as beingafraid in the face of something, always discloses equiprimordially entities within-the-world and Being-in—the former as threatening and the latter as threatened. Fear is a mode of state-of-mind.
One can also fear about Others, and we "then speak of "fearing for" them [Fürchten für sic]. This fearing for the Other does not take away his fear. Such a possibility has been ruled out already, because the Other, for whom we fear, need not fear at all on his part. It is precisely when the Other is not afraid and charges recklessly at what is threatening him that we fear most for him. Fearing-for is a way of having a co-state-of-mind with Others, but not necessarily a being-afraid-with or even a fearingwith-one-another. One can "fear about" without "being-afraid". Yet when viewed more strictly, fearing-about is "being-afraid-for-oneself". Here what one. "is apprehensive about" is one's Being-with with the Other, who might be torn away from one. That which is fearsome is not aimed directly at him who fears with someone else. Fearing-about knows that in a certain way it is unaffected, and yet it is co-affected in so far as the Dasein-with for which it fears is affected. Fearing-about is therefore not a weaker form of being-afraid. Here the issue is one of existential modes, not of degrees of 'feeling-tones'. Fearing-about does not lose its specific genuiness even if it is not 'really' afraid."

Heidegger, B&T, pág.181

sábado, março 10, 2007

O passado foi lá atrás????

"Entities do not become 'more historical' by being moved off into a past which is always farther and farther away, so that the oldest of them would be the most authentically historical. On the other hand, if the 'temporal' distance from "now and today" is of no primary constitutive significance for the historicality of entities that arc authentically historical, this is not because these entities are not 'in time' and are timeless, but because they exist temporally in so primordial a manner that nothing present-at-hand 'in time', whether passing away or still coming along, could ever—by its ontological essence—be temporal in such a way."

Heidegger, B&T, pág. 433

Lord Jim



Poster original do filme Lord Jim.
Fonte: Wikipedia

"On the lower deck in the babel of two hundred voices he would forget himself, and beforehand live in his mind the sea-life of light literature. He saw himself saving people from sinking ships, cutting away masts in a hurricane, swimming through a surf with a line; or as a lonely castaway, barefooted and half naked, walking on uncovered reefs in search of shellfish to stave off starvation. He confronted savages on tropical shores, quelled mutinies on the high seas, and in a small boat upon the ocean kept up the hearts of despairing men—always an example of devotion to duty, and as unflinching as a hero in a book.

'Something's up. Come along.'

He leaped to his feet. The boys were streaming up the ladders. Above could be heard a great scurrying about and shouting, and when he got through the hatchway he stood still—as if confounded"

Joseph Conrad, Lord Jim (disponível livremente em Project Gutemberg)

E ainda nas palavras de Conrad (do Prefácio)

"I have been asked at times whether this was not the book of mine I liked
best. I am a great foe to favouritism in public life, in private life,
and even in the delicate relationship of an author to his works. As a
matter of principle I will have no favourites; but I don't go so far
as to feel grieved and annoyed by the preference some people give to
my Lord Jim. I won't even say that I 'fail to understand . . .' No! But
once I had occasion to be puzzled and surprised.

A friend of mine returning from Italy had talked with a lady there who
did not like the book. I regretted that, of course, but what surprised
me was the ground of her dislike. 'You know,' she said, 'it is all so
morbid.'

The pronouncement gave me food for an hour's anxious thought. Finally
I arrived at the conclusion that, making due allowances for the subject
itself being rather foreign to women's normal sensibilities, the lady
could not have been an Italian. I wonder whether she was European at
all? In any case, no Latin temperament would have perceived anything
morbid in the acute consciousness of lost honour. Such a consciousness
may be wrong, or it may be right, or it may be condemned as artificial;
and, perhaps, my Jim is not a type of wide commonness. But I can
safely assure my readers that he is not the product of coldly perverted
thinking. He's not a figure of Northern Mists either. One sunny morning,
in the commonplace surroundings of an Eastern roadstead, I saw his form
pass by--appealing--significant--under a cloud--perfectly silent. Which
is as it should be. It was for me, with all the sympathy of which I was
capable, to seek fit words for his meaning. He was 'one of us"

Essa talvez seja a mais extraordinária questão: o modo como nos assemelhamos uns aos outros na questão do ser. Hoje lia na Science que parece que mesmos os ratos possuem essa capacidade interior de serem. Não me espanta. Olho para a minha gata e intuo o mesmo.
Ser...

sexta-feira, março 09, 2007

Nós vivemos no dia-a-dia

"Everydayness" means the "how" in accordance with which Dasein 'lives unto the day' ["in den Tag hineinlebt"], whether in all its ways of behaving or only in certain ones which have been prescribed by Beingwith-one-another. To this "how" there belongs further the comfortableness of the accustomed, even if it forces one to do something burdensome and 'repugnant'. That which will come tomorrow (and this is what everyday concern keeps awaiting) is 'eternally yesterday's'. In everydayness everything is all one and the same, but whatever the day may bring is taken as diversification. Everydayness is determinative for Dasein even when it has not chosen the "they" for its 'hero'"

Heidegger, B&T, pág. 422

No nosso dia-á-dia as horas, os segundos, os meses, os anos, a medição do tempo não nos afectam a cada momento. É quase tudo o mesmo, apesar de termos entrado nesta época de aceleração. É aí que o Ser habita. O Ser passa pelo dia-à-dia, que o leva à queda e ao Inautenticidade e ao medo. É a vida...

O mundo não é uma rede de significados!!!

"Thus the significance-relationships which determine the structure of the world are not a network of forms which a worldless subject has laid over some kind of material. What is rather the case is that factical Dasein, understanding itself and its world ecstatically in the unity of the "there", comes back from these horizons to the entities encountered within them. Coming back to these entities understandingly is the existential meaning of letting them be encountered by making them present; that is why we call them entities "within-the-world". The world is, as it were, already 'further outside' than any Object can ever be. The 'problem of transcendence' cannot be brought round to the question of how a subject comes out to an Object, where the aggregate of Objects is identified with the idea of the world. Rather we must ask: what makes it ontologically possible for entities to be encountered within-the-world and Objectified as so encountered? This can be answered by recourse to the transcendence of the world—a transcendence with an ecstatico-horizonal foundation."

Heidegger, B&T, pág. 417

Temporalidade do Tempo

"Temporalizing does not signify that ecstases come in a 'succession'. The future is not later than having been, and having been is not earlier than the Present. Temporality temporalizes itself as a future which makes present in the process of having been"

Heidegger, B&T, pág. 401.

segunda-feira, março 05, 2007

Circulo - eterno retorno e a Temporalidade

"Taking over thrownness, however, is possible only in such a way that the fatural Dasein can be its ownmost 'as-it-already-was' — that is to say, its 'been' [sein "Gewesen']. Only in so far as Dasein is as an "I-am-as-havingbeen", can Dasein come towards itself futurally in such a way that it comes back.2 As authentically futural, Dasein is authentically as "having been".3 Anticipation'of one's uttermost and ownmost possibility is coming back understandingly to one's ownmost "been". Only so far as it is futural can Dasein be authentically as having been. The character of "having been" arises, in a certain way, from the future."

(...)

"Coming back to itself futurally, resoluteness brings itself into the Situation by making present. The character of "having been" arises from the future, and in such a way that the future which "has been" (or better, which "is in the process of having been") releases from itself the Present.2 This phenomenon has the unity of a future which makes present in the process of having been; we designate it as "temporality".3 Only in so far as Dasein has the definite character of temporality, is the authentic potentiality-for-Being-a-whole of anticipatory resoluteness, as we have described it, made possible for Dasein itself. Temporality reveals itself as the meaning of authentic care""

Heidegger, 1962, pág. 373-374

Sinn

"Meaning" signifies the "upon-which" [das Woraufhin] of a primary projection in terms of which something can be conceived in its possibility as that which it is. Projecting discloses possibilities — that is to say, it discloses the sort of thing that makes possible.

To lay bare the "upon-which" of a projection, amounts to disclosing that which makes possible what has been projected. 1 To lay it bare in this way requires methodologically that we study the projection (usually a tacit one) which underlies an interpretation, and that we do so in such a way that what has been projected in the projecting can be disclosed and grasped with regard to its "upon-which". To set forth the meaning of care means, then, to follow up the projection which guides and underlies the primordial existential Interpretation of Dasein, and to follow it up in such a way that in what is here projected, its "upon-which" may be seen. What has been projected is the Being of Dasein, and it is disclosed in what constitutes that Being as an authentic potentiality-for-Being-a-whole. 2 That upon which the Being which has been disclosed and is thus constituted has been projected, is that which itself makes possible this Constitution of Being as care. When we inquire about the meaning of care, we are asking what makes possible the totality of the articulated structural whole of care, in the unity of its articulation as we have unfolded it.

Taken strictly, "meaning" signifies the "upon-which" of the primary projection of the understanding of Being. When Being-in-the-world has been disclosed to itself and understands the Being of that entity which it itself is, it understands equiprimordially the Being of entities discovered within-the-world, even if such Being has not been made a theme, and has not yet even been differentiated into its primary modes of existence and Reality. All ontical experience of entities — both circumspective calculation of the ready-to-hand, and positive scientific cognition of the presentat-hand — is based upon projections of the Being of the corresponding entities — projections which in every case are more or less transparent. But in these projections there lies hidden the "upon-which", of the projection; and on this, as it were, the understanding of Being nourishes itself.
If we say that entities 'have meaning', this signifies that they have become accessible in their Being; and this Being, as projected upon its "upon-which", is what 'really' 'has meaning' first of all. Entities 'have' meaning only because, as Being which has been disclosed beforehand, they become intelligible in the projection of that Being—that is to say, in terms of the "upon-which" of that projection. The primary projection of the understanding of Being 'gives' the meaning. The question about the meaning of the Being of an entity takes as its theme the "uponwhich" of that understanding of Being which underlies all Being of entities."

Heidegger, 1962, pág. 371

Sorge

"Care, as a primordial structural totality, lies 'before' ["vor"] every. factical 'attitude' and 'situation' of Dasein, and it does so existentially a priori; this means that it always lies in them. So this phenomenon by no means expresses a priority of the 'practical' attitude over the theoretical. When we ascertain something present-at-hand by merely beholding it, this activity has the character of care just as much as does a 'political action' or taking a rest and enjoying oneself. 'Theory' and 'practice' are possibilities of Being for an entity whose Being must be defined as "care""

Heidegger, 1962, pag. 238

O papel do cuidar como elemento que supera a tradicional diferença entre teoria e prática.


Nota: Os elementos constantes deste blog correspondem a apontamentos do próprio sobre leituras de Heidegger. Muitas poderão estar incorrectas. Os visitantes são convidados a falar sobre estes temas (Falar=Rede).

domingo, março 04, 2007

Schuld

"We have characterized resoluteness as a way of reticently projecting oneself upon one's ownmost Being-guilty, and exacting anxiety of oneself. Being-guilty belongs to Dasein's Being, and signifies the null Being-thebasis of a nullity. The 'Guilty!' which belongs to the Being of Dasein is something that can be neither augmented nor diminished. It comes before any quantification, if the latter has any meaning at all. Moreover, Dasein is essentially guilty — not just guilty on some occasions, and on other occasions not. Wanting-to-have-a-conscience resolves upon this Being-guilty. To project oneself upon this Being-guilty, which Dasein is as long as it is, belongs to the very meaning of resoluteness. The existentiell way of taking over this 'guilt' in resoluteness, is therefore authentically accomplished only when that resoluteness, in its disclosure of Dasein, has become so transparent that Being-guilty is understood as something constant. "

Heidegger, 1962, pág. 353

Nota: Schuld é traduzido em inglês por culpa, mas em português é traduzido por débito. Trata-se de uma diferença importante. Sobre este assunto veja a entrada no Glossário Heiddeger

Bangigkeit



Edvard Munch, O grito
Fonte: Wikipedia


"Thrownness into death reveals itself to Dasein in a more primordial and impressive manner in that state-of-mind which we have called "anxiety". Anxiety in the face of death is anxiety 'in the face of' that potentiality-for-Being which is one's ownmost, nonrelational, and not to be outstripped. That in the face of which one has anxiety is Being-in-the-world itself. That about which one has this anxiety is simply Dasein's votentiality-for-Being. Anxiety in the face of death must not be confused with fear in the face of one's demise. This anxiety is not an accidental or random mood of 'weakness' in some individual; but, as a basic state-of-mind of Dasein, it amounts to the disclosedness of the fact that Dasein exists as thrown Being towards its end. "

Heidegger, 1962, pág. 295

Nota da edição em inglês: "Angst'. While this word has generally been translated as 'anxiety' in the postFreudian psychological literature, it appears as 'dread' in the translations of Kierkegaard and in a number of discussions of Heidegger. In some ways 'uneasiness' or 'malaise' would be more appropriate still."

Sein zum Ende




Fonte: Wikipedia

"On the contrary, just as Dasein is already its "not-yet", and is its "not-yet" constantly as long as it is, it is already its end too. The "ending" which we have in view when we speak of death, does not signify Dasein's Being-at-an-end [Zu-Ende-sein], but a Being-towards-the-end [Sein zum Ende] of this entity. Death is a way to be, which Dasein takes over as soon as it is. "As soon as man comes to life, he is at once old enough to die.'"

Heidegger, 1962, pág. 289

HEIDEGGER, M. [1927] (1962) Being and Time. San Francisco:Harper

Ser

"The person is not a Thing, not a substance, not an object. Here Scheler is emphasizing what Husserl v suggests when he insists that the unity of the person must have a CThe person is not a Thing, not a substance, not an objectonstitution essentially different from that required for the unity of Things of Nature. What Scheler says of the person, he applies to acts as well: 'But an act is never also an object; for it is essential to the Being of acts that they are Experienced only in their performance itself and given in reflection.' vi Acts are something nonpsychical. Essentially the person exists only in the performance of intentional acts, and is therefore essentially not an object. Any psychical Objectification of acts, and hence any way of taking them as something psychical, is tantamount to depersonalization. A person is in any case given as a performer of intentional acts which are bound together by the unity of a meaning. Thus psychical Being has nothing to do with personal Being. Acts get performed; the person is a performer of acts. What, however, is the ontological meaning of 'performance'? How is the kind of Being which belongs to a person to be ascertained ontologically in a positive way? But the critical question cannot stop here. It must face the Being of the whole man, who is customarily taken as a unity of body,soul, and spirit. In their turn "body", "soul", and "spirit" may designate phenomenal domains which can be detached as themes for definite investigations; within certain limits their ontological indefiniteness may not be important. When, however, we come to the question of man's Being, this is not something we can simply compute by adding together those kinds of Being which body, soul, and spirit respectively possess— kinds of Being whose nature has not as yet been determined. And even if we should attempt such an ontological procedure, some idea of the Being of the whole must be presupposed. But what stands in the way of the basic question of Dasein's Being (or leads it off the track) is an orientation thoroughly coloured by the anthropology of Christianity and the ancient world, whose inadequate ontological foundations have been overlooked both by the philosophy of life and by personalism."

Heidegger 1962, pág. 73-74 (meu itálico e negrito)


HEIDEGGER, M. [1927] (1962) Being and Time. San Francisco:Harper

sábado, março 03, 2007

Tudo é ilusão

"1Palavras de Qohélet, filho de David, rei em Jerusalém.
2*Ilusão das ilusões - disse Qohélet - ilusão das ilusões: tudo é ilusão.
3*Que proveito pode tirar o homem de todo o esforço que faz debaixo do Sol?
4Uma geração passa, outra vem; e a terra permanece sempre.
5O Sol nasce e o Sol põe-se e visa o ponto donde volta a despontar.
6O vento vai em direcção ao sul, depois ruma ao norte;
e gira, torna a girar e passa,
e recomeça as suas idas e vindas.
7Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche.
Para onde sempre correram, continuam os rios a correr.
8*Todas as palavras estão gastas, o homem não consegue já dizê-las.
A vista não se sacia com o que vê, nem o ouvido se contenta com o que ouve.
9Aquilo que foi é aquilo que será;
aquilo que foi feito, há-de voltar a fazer-se:
e nada há de novo debaixo do Sol!
10Se de alguma coisa alguém diz: «Eis aí algo de novo!»,
ela já existia nas eras que nos precederam.
11Não há memória das coisas antigas;
e também não haverá memória do que há-de suceder depois;
nem ficará disso memória entre aqueles que hão-de vir mais tarde.
"

Qohelet (Eclesiastes) I:1-11

Até a ideia de que nada há de novo não é nova.

Es gibt


Foto: Evita Alle

" It is a light, that the wind has extinguished.
It is a pub on the heath, that a drunk departs in the afternoon.
It is a vineyard, charred and black with holes full of spiders.
It is a space, that they have white-limed with milk.

The madman has died. It is a South Sea island,
Receiving the Sun-God. One makes the drums roar.
The men perform warlike dances.
The women sway their hips in creeping vines and fire-flowers,
Whenever the ocean sings. O our lost Paradise.

The nymphs have departed the golden woods.
One buries the stranger. Then arises a flicker-rain.
The son of Pan appears in the form of an earth-laborer,
Who sleeps away the meridian at the edge of the glowing asphalt.
It is little girls in a courtyard, in little dresses full of heart-rending poverty!
It is rooms, filled with Accords and Sonatas.
It is shadows, which embrace each other before a blinded mirror.

At the windows of the hospital, the healing warm themselves.
A white steamer carries bloody contagia up the canal.

The strange sister appears again in someone's evil dreams.
Resting in the hazelbush, she plays with his stars.
The student, perhaps a doppelganger, stares long after her from the window.
Behind him stands his dead brother, or he comes down the old spiral stairs.
In the darkness of brown chestnuts, the figure of the young novice.
The garden is in evening. The bats flit around inside the walls of the monastery.
The children of the caretaker cease their playing and seek the gold of the heavens.
Closing accords of a quartett. The little blind girl runs trembling through the tree-lined street.
And later touches her shadow along cold walls, surrounded by fairy tales and holy legends.

It is an empty boat, that drives at evening down the black canal.
In the bleakness of the old asylum, human ruins come apart.
The dead orphans lie at the garden wall.
From gray rooms tread angels with shit-spattered wings.
Worms drip from their yellowed eyelids.
The square before the church is obscure and silent, as in the days of childhood.
Earlier lives glide past upon silvery soles
And the shadows of the damned climb down to the sighing waters.
In his grave, the white-magician plays with his snakes.

Silent above the place of the skull, open God's golden eyes."

George Trakl, Salmo (Fonte: Poem Hunter)

O que significa ser? Quando no inicio deste poema vemos que se diz'"It is" (no original alemão "Es ist") somos transportados para essa pergunta do que é existir. Porque no inglês o ser implica o "it", a coisa e no alemão o "es". É interessante o desdobramento do ser em duas palavras, a coisa é.
Mas ao mesmo tempo a coisa dá-se como na expressão alemã "Es gibt" (há). "Geben" é o termo alemão para oferecer e a relação do vocábulo está expressa pelo termo "gib her" (dá cá)1. O haver alemão tem a ver com a dádiva, ou seja, o que existe dá-se, a coisa aparece, tal como na aletheia (poupo-vos de caracteres gregos). Nesse sentido surge o "Ereignis" o acontecimento que é uma forma de apropriação, porque ao dar-se a coisa passa a ser para, num sentido de posse que não pode ser entendida num sentido estrito.
No TAG em Inglaterra tive uma interessante discussão sobre o termo da posse, que naturalmente se torna problemático ao legitimar uma sociedade capitalista. Lá ouvi os argumentos sobre a posse em paragens remotas (o saudosismo do comunismo primitivo), mas penso que há um termo fundamental para compreender a posse que é: a possessão. O termo aponta para algo temporário e ao mesmo tempo ambivalente. Quando vejo o "Exorcista" pergunto-me sempre sobre quem toma posse de quem, se o demónio da rapariga ou a rapariga do demónio. Há ali uma ambivalência que resulta da dádiva: a rapariga empresta o seu corpo, o demónio dá-lhe o seu carácter. Tal como no jogo entre o voyeur e a observada: ele que a possui com o olhar e ela que o domina pela fantasia (se estiverem incomodados com a diferença de género é só mudá-lo que o jogo da posse transmite-se na mesma, mas a fantasia feminina é capaz de estar bem mais habituada a entender que de facto pode possuir alguém sem o ter fisicamente).
A posse é um elemento das nossas vidas, comum ao facto de que as coisas dão-se connosco. Nós não somos os meros sujeitos passivos que recebem o estimulo, nem somos os sujeitos omni que atribuem significados. Só a experiência pode-nos fazer entender esta relação com o mundo. Sentimo-lo porque ele se faz sentir presente. Ele existe para além de nós, mas também em nós e nós existimos nele. Por essa mesma razão quando tomamos o mundo não percebemos que efectivamente estamos a contribuir para a sua destruição. É que tomar é diferente de receber e ao exercer a força quebramos a dádiva. Por esse mesmo motivo é que é importante compreender que as coisas revelam-se não adiantando torturá-las para que se mostrem. Mais do que dispostos a tomar, temos de estar dispostos a receber e nesse sentido o mundo tem muito para dar-nos. Basta compreendermos que a nossa posse nunca será mais do que uma possessão. Afinal quando o demónio possui a rapariga ela é alguma vez inteiramente dele?

1 - No meu percurso linguístico não deixo de achar piada à relação entre o "gib" alemão e o "gribo" (quero) letão. Não consegui investigar se há relação, mas sabendo que a Letónia foi profundamente influenciada durante séculos pelos germânicos, não deixa de ser curiosa esta relação entre o querer, o haver e o dar. Claro que isto desperta-nos o nosso entre o dever e o haver, que remete para o fenómeno da dádiva.

sexta-feira, março 02, 2007

Troley Bus


Foto: Evita Alle

O sinal está verde e o troley aproxima-se. Vem apanhá-la. Lá dentro os passageiros já sabem o nome da próxima paragem ignorando quem se aproxima. Ao frio, ela espera pelo que a irá levar ao reencontro com a cidade.
O verde já não mora aqui. A neve transformou-se em lama negra. Parece-nos sujo. É normal.
As botas esguias elevam-na de tudo isto e colocam-na no patamar das suas ideias. O sonho mora ali.
Não nota sequer o olhar voyeur, ou finge que não o nota de modo a retribuir o elogio. Nas mãos moram já os vinte centims, preparados para a senhora que guarda a viagem. Também ela era assim. Agora refugia-se no seu agasalho forte. A companhia é agora o seu partido.
O 19 irá continuar em breve o seu percurso. As Ielas que se sucedem misturando-se com avenidas, as palavras que se embrulham em várias línguas. Depois da ponte que atravessa o rio gelado está a cidade antiga e é aí que ela sai para...
O troley pára. As portas abrem-se, ela olha para cima. Está na hora de entrar. Fá-lo num movimento rápido apoiando-se nas botas finas. Segue viagem. Não mora aqui. É a vida...

quinta-feira, março 01, 2007

Going Riga



Foto: Evita Alle

Demorei algum tempo antes de publicar algo sobre a Letónia.
O que posso dizer da Letónia é que é um país em que me imagino a viver e viver é a palavra em que mais pensei nestes dias.
Já estive em vários outros lugares. Já vivi mesmo alguns meses nesse imenso mundo que é o estrangeiro :) Quando conheci a Itália pensei que era um país interessante para viver, dado que tinha modos de vida muito semelhantes aos nossos e tem o Sol e o mar...
Porquê então um país pequeno, com uma economia frágil, frio...
Fiquei muito marcado pelas pessoas. Pela sua amizade e sensibilidade. Não são de grandes gestos, mas cada pequeno sorriso, cada pequena oferta, mostra a enorme generosidade misturada com um modo de estar... educado (desculpem mas é a única palavra que me ocorre). Há uma certa inocência, mas ao mesmo tempo deparei-me com situações, mesmo profissionais que mostram que de facto na Letónia as pessoas são diferentes.
E ao mesmo tempo são tão semelhantes. Conversando no interior de uma pequena habitação, numa vila que era um antigo Kolkhoz, vi que de facto as pessoas são iguais na sua generosidade e atenção, no seu modo de vida caseiro. Lembrei-me muitas vezes de estar na mesma situação, a mesa com os bolinhos, o chá, em tantos locais diferentes. Lembrei-me de Freixo de Numão, da Serra da Boa Viagem... mas a recordação vai até outros locais como Nouakchott na Mauritânia.
Recebem-nos em casa, conversa-se. No caso recordações do tempo de Estalin, Krutshchev, Brejnev. Os prémios ao melhor trabalhador, as medalhas do 1º de Maio, contados por quem viveu de facto essa realidade, que para nós estava escondida por detrás do Muro.
Lembrei-me de coisas tão simples como o de olhar para aquela avó e lembrar-me da enorme distância a que ela está da minha e no entanto...
Uma viveu Estaline, a outra Salazar, mas ambas falam dos seus maridos, da família, do tempo que já era.
Sempre vivi fascinado pela experiência de vida. Sempre achei fantástico as histórias de cada um e como se misturam com a história do mundo. É impressionante como a nossa vida é o nosso mundo e como o tempo é afinal essa história feita de vida.



Olhando da janela do autocarro contempla-se Riga. Como todos os dias cruzamos a margem, para trabalhar do outro lado. A senhora de chapéu vermelho contempla o vazio de costas para a cidade. O rio gelou e a neve está por todo o lado. O troley faz o seu caminho anunciando as paragens: "Nakama Pietura...". Estamos a chegar. A realidade do dia-a-dia não se conforma com os mitos. O vodka é para os Russos (algo que em Letão é pouco abonativo, pois os russos são os mal-educados, espalhafatosos, excessivos, algo que condiz mal com o modo de ser recatado da Letónia). Está frio e em Celsius estão graus negativos. Mas no interior do café, ao sabor dos crepes, está sempre quente. É sempre assim no interior das casas. Está sempre quente e as pessoas usam sorrisos nos lábios. Por vezes devem correr-lhes lágrimas, mas essas tendem a guardá-las num baú qualquer (chamam-lhe intimidade). Os dramas e as comédias são coisas do cinema. A vida não é assim. Não é dura nem fácil, é.
É a vida...


(este post foi despertado por um post do Vítor que está no Trans-ferir e de uma imagem que ele lá constrói em que fala de um autocarro e que me despertou a memória desta foto).

domingo, fevereiro 25, 2007

Clement Attle



Clement Attlee
Fonte: BBC History

Clemet Attlee foi eleito primeiro-ministro em 1945 com alguma surpresa ganhando ao carismático Wiston Churchill. A razão? Após uma dura guerra mundial as pessoas desejaram paz e prosperidade. O seu objectivo era não terem de passar novamente pelo mesmo.
Attlee foi o responsável pela criação do National Health Service (Serviço Nacional de Saúde) e do Wellfare State. A sua visão e a implementação de políticas keynesianas permitiu-lhe conduzir a Grã-Bretanha para o início de uma era de prosperidade. O seu objectivo era o de uma Nova Jerusalém.
Ele foi responsável pelo processo de descolonização da Índia e o percursor da Commonwealth (o nome explica uma dada visão do mundo). As políticas de Attlee levaram à nacionalização de sectores chave na economia britânica. A sua visão política e o sucesso económico das suas reformas levaram a uma era de prosperidade que terminou nos anos 70. A partir dessa altura Margaret Thatcher impôs o neo-liberalismo como solução.
Quando Attlee iniciou o seu governo o mundo tinha acabado de se libertar de um pesadelo. O Estado da Ordem e da Obediência, o Estado Totalitário tinha feito a Europa colapsar. A discriminação tinha levado à aniquilação dos judeus. A ciência tinha sido a base da justificação das teorias da superioridade racial, alimentando experiências médicas e uma escalada no armamento. A realidade do Holocausto mostrou uma face do Homem que ninguem gostaria de rever (ou reviver).
O legado de Attlee é o de acreditar que é possível trabalhar para o bem comum sem recair no totalitarismo. Os mercados são uma força poderosas que deve ser conduzida para o bem comum, como a rédea que se coloca num poderoso garanhão.
Alguns vêm em Attlee um voluntarioso, algo inocente, que impediu a expansão do comércio livre e da prosperidade. Outros percebem que Attlee abriu portas à paz e ao bem-estar.
O Estado social europeu poderá ter dado origem a meninos algo mimados, que deixaram de dar valor ao sacrifício e ao trabalho. Pessoalmente prefiro que hajam mais meninos mimados no mundo do que exércitos de meninos da rua que tentam lutar por todos os meios por um pedaço da riqueza (naturalmente sem ética).
Attlee é o símbolo de quem trabalha para a constituição do bem-comum, apostando numa visão altruísta. É o contrário de quem justifica que como tudo é mau, mais vale que apenas alguns mais aptos governem, deixando aos outros a extinção como desígnio. Afinal o nazismo considerava o III Reich como cumulo civilizacional graças ao mesmo desígnio evolucionista.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

No Publico

Sai no Publico de hoje, Quarta-feira 21 de Fevereiro de 2007, uma peça sobre a participação portuguesa nas escavações de Stonehenge.
Ainda não vi a notícia mas espero sinceramente que ela sirva para melhorar a imagem da arqueologia portuguesa.
Em Portugal faz-se uma investigação séria. Trabalhamos ao melhor nível internacional. É essa a nossa mensagem. É para isso que trabalhamos.
Este trabalho é mais um passo de um projecto de investigação com quase 20 anos. Lidamos com o que existe de melhor na Europa e no mundo.
Acho que falo em nome de toda a equipa quando expresso aqui esta mensagem (surpresa):
- Obrigado Vítor
- Obrigado Susana

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

É a vida...



Valentin de Boulogne ou Nicolas Tournier, São Paul escrevendo as suas Epistolas
Fonte: Wikipedia

"O véu das mulheres - 4*Todo o homem que reza ou profetiza, de cabeça coberta, desonra a sua cabeça. 5Mas toda a mulher que reza ou profetiza, de cabeça descoberta, desonra a sua cabeça; é como se estivesse com a cabeça rapada. 6Se a mulher não usa véu, mande cortar os cabelos! Mas se é vergonhoso para uma mulher cortar os cabelos ou rapar a cabeça, então cubra-se com um véu.
7*O homem não deve cobrir a cabeça, porque é imagem e glória de Deus; mas a mulher é glória do homem. 8Pois não foi o homem que foi tirado da mulher, mas a mulher do homem. 9E o homem não foi criado para a mulher, mas a mulher para o homem. 10*Por isso, a mulher deve trazer sobre a cabeça o sinal da autoridade, por causa dos anjos. 11*Todavia, nem a mulher é separável do homem, nem o homem da mulher, diante do Senhor. 12Pois, se a mulher foi tirada do homem, o homem nasce da mulher, e tudo provém de Deus.
13Julgai por vós mesmos: será decoroso que a mulher reze a Deus de cabeça descoberta? 14E não é a própria natureza que vos ensina que é uma desonra para o homem trazer cabelos compridos, 15ao passo que, para a mulher, deixá-los crescer é uma glória, porque a cabeleira lhe foi dada como um véu?
16Mas, se alguém quiser contestar, nós não temos esse costume, nem tão-pouco as igrejas de Deus. "

Carta de S. Paulo aos Coríntios, 11, 4-16

Há quem pense que os valores do Ocidente são muito diferentes. Há quem queira fazer valer uma imagem que assente apenas na pluralidade, na concórdia, na compreensão. Bom, receio que esse Ocidente nem sempre existiu. Para quem não sabe os véus que as senhoras usavam para ir à Igreja tinham uma razão de ser. Essa razão está aqui expressa por Paulo.
Há quem diga que a Igreja Católica se tornou na Igreja de Paulo e é por essa razão que se tornou dogmática fechada, enclausurada em Paulo.
Não era este o capitulo desta carta que eu queria trazer aqui, mas deparei-me com ele e era impossível escapar.
E a minha pergunta é: Numa sociedade contemporânea, marcada pelos valores da igualdade pode a Igreja Católica defender os valores de Paulo. Deverão ainda as mulheres ir à Igreja de véu?
Eu sei que já passou a onda do referendo. Ainda bem. Poderiam pensar que este post teria a ver com o assunto do aborto. Mas não tem. Para mim a discussão desse assunto faz parte de uma discussão muito vasta.
Supostamente neste referendo existiam dois lados, um que seria o dos valores e outro que seria o do vale tudo.
Este foi um erro que determinadas ortodoxias não compreendem. A sociedade liberal possui valores mas deslocou-os para a esfera do individuo. Na sociedade liberal, os valores são da ordem do pessoal e do intimo. Mas será mesmo assim? Será que os valores podem de facto passar para uma esfera unicamente pessoal?
Será que podemos ser absolutamente livres nas nossas escolhas? Poderemos ser absolutamente incondicionais?

Perdoem-me a inocência da pergunta, mas como muitos outros autores (cujos nomes não me apetece citar), penso que perguntas simples podem revelar-nos questões extremamente complexas.
Cada individuo parte de princípios, mas poderão esses princípios ser absolutamente seus? Serão na medida em que ele os escolheu e os adaptou, mas terá ele sido absolutamente impermeável ao que o rodeia? O que nos faz escolher? O nosso Egoismo?

O que nos leva a um outro conjunto de questões:
Estaremos cada um de nós orgulhosamente sós? O que queremos nós do Outro? Como nos relacionamos com esse Outro? Como a Corte que nos adora e que ali deve estar quando precisamos? Projectamos no Outro as nossas carências afectivas pelas quais psicanaliticamente culpamos os nossos pais? Até quando faremos o papel do filho mimado que não compreende que o mundo não vive para ele?
O mundo existe e é nele que vivemos. Somos ser-no-mundo, ser-aí. Este ser não é o individuo, é a pessoa, a pessoa humana.
Se sabemos que cada Homem não é uma ilha, se sabemos que qualquer sociedade tem valores, que a estrutura condiciona a acção tal como a acção condiciona a estrutura a questão é: Que valores fazemos nós hoje? Quais são os valores que partem de nós?

O egoísmo e o individualismo que marcam a sociedade de hoje são um marco de uma sociedade capitalista que educou os seres nesse sentido. A psicanálise muitas vezes desculpa esse individualismo cedendo a culpa a outrem. Projectamos e nessa projecção satisfazemos o alter-Ego dando mais um passo para ceder aos seus caprichos. Somos a marioneta dele e desse outro nós identificado como Id, a pulsão. A culpa vai morrer longe.

O liberalismo soube como dissolver a culpa, o capitalismo aproveitou-se disso fazendo render a lei do desejo. Mas mesmo assim tenho a impressão que ela continua a existir dentro de cada um, como em Crime e Castigo de Dostoievski. A febre assola-nos todos os dias e todos os dias tomamos a aspirina para não nos sentirmos culpados.

A escrita de Paulo é o produto de um homem torturado pela culpa. A sua solução foi uma espécie de tortura absoluta de Ego; um domínio da vontade absoluto que serviria essencialmente como expiação. Como em qualquer pessoa a biografia ajuda a explicar a tortura de Paulo. Espero que a morte lhe tenha dado descanso.

A culpa faz parte de nós. Aceitá-la não passa por banalizá-la ou por projectá-la. Talvez passe por fazer esse enorme exercício de vida que se chama aprender.

Como costumamos dizer em português: É a vida... (não é desculpa, é a vida)

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Arqueólogos portugueses participam na descoberta das habitações de Stonehenge

"Quatro arqueólogos portugueses participaram na descoberta dos vestígios de oito habitações que estão ligadas ao complexo de Stonehenge, numa colaboração resultante de um projecto conjunto entre universidades inglesas e portuguesas, financiado pelas Acções Integradas Luso-Britânicas.

De acordo com Gonçalo Cardoso Leite Velho, do Departamento de Território, Arqueologia e Património, do Instituto Politécnico de Tomar, “a mesma equipa inglesa, que esteve na origem desta fantástica descoberta, esteve em Portugal para participar nas escavações da colina monumental de Castanheiro do Vento (Horta do Douro, Vila Nova de Foz Côa)”. Esta foi uma intervenção que se desenrolou por dois meses contou com a participação de uma equipa com mais de cem pessoas, “desenvolvendo-se numa escala invulgar para o nosso país”, conta o especialista.

Ainda segundo Gonçalo Velho, esta cooperação entre os investigadores “tem vindo a dar frutos e irá continuar”. Para o próximo ano os portugueses (ligados à Faculdade de Letras da Universidade do Porto e ao Instituto Politécnico de Tomar) irão regressar a Inglaterra, desta vez para intervir em Stonehenge, assim como se prevê o regresso dos investigadores ingleses, mas com uma equipa reforçada e de maior dimensão.

De acordo com Gonçalo Cardoso Leite Velho, “Portugal tem-se vindo a destacar no estudo das arquitecturas pré-históricas (conduzindo inclusive diversos projectos europeus nesta área). O estudo dos recintos monumentais do Norte de Portugal está na origem de uma escola reconhecida a nível mundial”.

A apresentação dos resultados da participação nas descobertas de Durrington Walls será feita no próximo dia 22 de Fevereiro na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Imagem: http://www.bouletfermat.com/backgrounds/ "

Fonte: CienciaPT.net - Joana Vidigal Leal

Parece que a nossa equipa foi notícia hoje em vários meios de comunicação...

http://jn.sapo.pt/2007/02/06/cultura/portugueses_ajudam_importante_descob.html
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=770212&div_id=291
http://www.cienciapt.net/noticiasdesc.asp?id=14509
http://www.rtp.pt/index.php?article=269377&visual=16&rss=0

Concurso Nacional Técnicas de Arqueologia



O Instituto Politécnico de Tomar criou o concurso Técnicas de Arqueologia, destinado aos jovens do ensino secundário.
O objectivo é sensibilizar os jovens para a arqueologia na sua dimensão científica e tecnológica, elaborando um trabalho que demonstre atitudes e competências no campo das ciências experimentais aplicadas à arqueologia.
O concurso está assim dividido em dois escalões: Prémio João Calado (12ºano) e Prémio Andakatu - Arqueologia, Artes e Técnicas (11º ano).

PREMIO DR. JOÃO CALADO RODRIGUES - 12º ANO
·oferta de estágio de arqueologia em França ou Itália, durante um mês (viagem, seguro, inscrição e estadia)
·publicação do trabalho em Revista de Arqueologia;
·diploma.

PREMIO ANDAKATU- ARQUEOLOGIA, ARTES E TÉCNICAS- 11º ANO
·oferta de curso de iniciação à arqueologia (seguro, inscrição e estadia);
·publicação do trabalho em Revista de Arqueologia;
·diploma.

Mais informações podem ser consultadas no site do IPT.

sábado, fevereiro 03, 2007

Darwinism and Physics

"And why should it determine that we come to the right conclusions from the evidence? Might it not equally well determine that we draw the wrong conclusion.? Or no conclusion at all?
The only answer that I can give to this problem is based on Darwin’s principle of natural selection. The idea is that in any population of self-reproducing organisms, there will be variations in the genetic material and upbringing that different individuals have. These differences will mean that some individuals are better able than others to draw the right conclusions about the world around them and to act accordingly. These individuals will be more likely to survive and reproduce and so their pattern of behavior and thought will come to dominate. It has certainly been true in the past that what we call intelligence and scientific discovery have conveyed a survival advantage. It is not so clear that this is still the case: our scientific discoveries may well destroy us all, and even if they don’t, a complete unified theory may not make much difference to our chances of survival. However, provided the universe has evolved in a regular way, we might expect that the reasoning abilities that natural selection has given us would be valid also in our search for a complete unified theory, and so would not lead us to the wrong conclusions."

Hawking, S. (1988)

Numa das suas mais emblemáticas obras Gell-Mann (1995) escreveu que quando encontrava um erro num livro ficava tão irritado que tinha logo vontade de po-lo de lado. Ao longo das minhas leituras de algumas obras de Hawking fico exactamente com essa mesma vontade.
Para quem tem a ideia de que Hawking apenas faz livros de grande divulgação aconselho-o vivamente a entrar no mundo das equações do livro que citei no post anterior. Hawking sabe de Física, mas sofre do mesmo problema que a maioria dos físicos: fechados numa torre de babel da alta ciência, pouco ou nada sabem de outras disciplinas para além do comum. Trata-se do grande edifício científico construído em prestações. O modelo Oxford-Cambridge, onde os génios produzem conhecimento nos seus quartos (leia-se departamentos) e por vezes socializam na sala onde, acompanhados por um copo de Xerez, contam o essencial das suas descobertas.
A lei de Darwin justifica para Hawkings a validade dos paradigmas vigentes (Dawrwin meets Popper).
A história que Hawking conta neste livro é simples e dá-nos uma aproximação genérica ao pensamento ocidental, mas tem partes em que dá mesmo vontade de mandar o livro às urtigas. Senão vejam esta outra pérola:

"One argument for such a beginning was the feeling that it was necessary to have “First Cause” to explain the existence of the universe. (Within the universe, you always explained one event as being caused by some earlier event, but the existence of the universe itself could be explained in this way only if it had some beginning.) Another argument was put forward by St. Augustine in his book The City of God. He pointed out that civilization is progressing and we remember who performed this deed or developed that technique. Thus man, and so also perhaps the universe, could not have been around all that long. St. Augustine accepted a date of about 5000 BC for the Creation of the universe according to the book of Genesis. (It is interesting that this is not so far from the end of the last Ice Age, about 10,000 BC, which is when archaeologists tell us that civilization really began.)"

Hawking (1988)

É fabuloso o que os arqueólogos contam a Hawking sobre o alvor da civilização.
As palavras de Gell-Mann ecoam no meu pensamento ainda com mais força. Se este homem parte de príncipios tão grosseiros dentro daquilo que eu sei, nem quero imaginar o que dirá do que eu não sei. Tenho saudades do Santa Fe Institute.


GELL_MANN, Murrey (1995) The Quark and the Jaguar: Adventures in the Simple and the Complex. Owl Books

HAWKING, Stephen (1988) A Brief History of Time. Bantam Books.

Time - Stephen Hawking

"I take the positivist viewpoint that a physical theory is just a mathematical model and that it is meaningless to ask whether it corresponds to reality. All that one can ask is that its predictions should be in agreement with observation."

Hawking, Stephen (1996) The nature of space and time. Princeton University Press

terça-feira, janeiro 30, 2007

Durrington Wall (BBC News)



Lembram-se que em Setembro uma pequena equipa de portugeses participou na escavação de Durrinton Walls.
Bom, podem saber um pouco mais sobre o projecto através desta notícia da BBC.
Podem também ver o vídeo com a reportagem do noticiario da BBC.
O mais curioso é o modo como isto é transmitido. Nem o projecto de Durrington escapa ao acontecimento, à Arqueologia da Descoberta.
Notícia: Descoberta a aldeia onde viviam as pessoas de Stonehenge. O afã da cache...

sexta-feira, janeiro 12, 2007

um sucesso

O blog Trans-ferir está a ser um verdadeiro sucesso.
Está com uma média de 80 visitas por dia.
Dêm uma saltada por lá: Trans-ferir

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Extreme Archaeology



Fonte: YouTube

Bom, na mesma linha do Post anterior segue este vídeo.
Continuamos na mesma: A Arqueologia dos grandes mistérios da Humanidade em modo Cool. Este é o (ridículo) mundo em que viemos parar.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Archaeology of Truth

Existe uma certa imagem do que é a arqueologia.
O Vítor Oliveira Jorge passou-me uma discussão interessante da lista do WAC (World Archaeological Congress). Um dos temas no debate era este vídeo:



Fonte: Google Video

Já tinha visto este programa no Canal História. Este vídeo é elucidativo do absurdo em que nos tornámos. Sem dúvida que escolheram um titulo deveras irónico para a série: "Digging for the Truth".
Uhuuuuuu man!!! Cooool!!!!!!!!!!!! I want to do that man!!!! Archaeology Rules!!!!!
Já agora no final do vídeo o individuo está a rir-se claramenta a gozar com alguém. Será connosco?

Greve - Strike (Britain 84-85)



Fonte: You Tube - Strike84 Images from the 1984 Miners Strike UK

Entre 1984 e 1985 a Grã-Bretanha assistiu a uma das maiores batalhas entre a esquerda e a direita. O governo de Margaret Thatcher decidiu retirar o apoio estatal à exploração mineira do carvão, decidindo privatizar o sector. Jogou forte num braço-de-ferro com os sindicatos.
Os mineiros representavam um estorvo perante a Nova Ordem da Nova Economia. As cicatrizes desta batalha ainda hoje se fazem sentir.
Esta batalha levou também a uma profunda reconversão do Partido Trabalhista (Labour Party). Deixando a sua base de grupos de pressão (sobretudo os sindicatos) o Labour partiu em busca da vitória nas urnas (ballot box). A ideologia socialista deu lugar a um New Labour, com a 3ª Via de Tony Blair.
Compreender o que se passou na Grã-Bretanha nestes anos serve como aviso para o que se ensaia no interior do espírito reformista português. As imagens da crise inglesa relembram-nos também o que se passou em Portugal em meados dos 80. O FMI, as greves, os despedimentos, os vidreiros da Fontela e da Marinha Grande, o distrito de Setubal, a Lisnave, a crise do governo PS-PSD...
As imagens das cargas policiais inglesas fazem lembrar aos portugueses que também há pouco tempo se agitaram bastões no nosso país. Não foi há muito. Ainda à pouco estavam frescas as imagens do bloqueio à Ponte 25 de Abril, das bastonadas aos estudantes em frente à Assembleia da Republica... também por aqui o poder da Nova Ordem impunha-se.
Lentamente os brandos costumes voltaram. O espírito foi quebrado pela imagem do bastão. A luta mudou de cenário. Ela é feita na T.V. como debate publicitário. Cada segundo conta, cada soundbyte.
E o que restou da luta dos mineiros ingleses. Bom, existe um artigo de um Centro de Investigação da Universidade de Sheffield que ajuda a compreender. Passados 20 anos a economia britânica ainda tenta recuperar desta mudança estrutural. As pessoas das minas não viram de modo nenhum a sua vida melhorar. A sua "reconversão" está ainda longe. A precariedade instalou-se neste regime do capitalismo fluido. A Grã-Bretanha da Revolução Industrial foi vencida pela globalização, mas os problemas mantêm-se estruturalmente num país dito desenvolvido (quem disse que por se ser primeiro mundo era tudo perfeito?).
Este foi o caminho da modernidade que abriu espaço à pós-modernidade.

A História é um campo de batalha, tal como as zonas mineiras da Grã-Bretanha, mas um campo de batalha é também uma lição. Fechar os olhos aos danos do reformismo Thatcher é no mínimo perigoso.
Nestes últimos anos Portugal reconverteu rapidamente a sua população activa da ruralidade aos serviços. A industrialização que conhecemos passou por locais como Vale do Ave, Cacia, S. João da Madeira, Marinha Grande, Setubal, Palmela, Sines. Tal como os mineiros ingleses ela encontra agora, 20 anos depois a globalização. Alguns chamam-lhe sina, outros fado.
A reforma globalizante vai mais além e é neste cenário que surge o Ensino Superior. Penso que graças a esta evocação compreende-se o que se passa também na Saúde, na Educação e nos demais serviços do Estado.
Era bom que se discutisse os assuntos de uma forma séria. É bom que se veja o que é a "reconversão" da economia. Já agora vejam a este propósito a obra "Commanding Heights" (existe também uma adaptação a série/documentário pela PBS). Apesar de ser basicamente propaganda corporativa ela ajuda a compreender que nada do que foi e está a ser feito é inocente. O destino de um certo Portugal parece estar marcado. Os custos...

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Trans-Ferir



Fonte: YouTube

"Space, the final frontier. These are the voyages of the starship Enterprise. Its five-year mission: To explore strange new worlds. To seek out new life and new civilizations. To boldly go where no man has gone before."
Star Trek (retirado de WIkipedia)

Depois de uma mais ou menos longa ausência, eis me de regresso.
Nunca liguei muito à questão do Ano Novo. Sempre vi o calendário como algo estranho, imposto. Ligo mais à mudança das estações do ano que acabam por formar, essas sim, o meu calendário.
A frase "Ano Novo, vida nova" sempre me pareceu apenas uma expressão de vontades, um processo de intenções. A consideração sobre a mudança de vida ajuda a ilustrar também um pouco a noção que tenho de calendário. Lembro-me por exemplo de como a minha mãe a cada Primavera decidia mudar a disposição dos móveis, afirmando "Isto agora vai mudar cá em casa". A intenção era boa, mas com o fluir do tempo... a peça seguia e apenas o cenário mudava. Também a cada ano lectivo lá apareciam os novos livros, os cadernos, as canetas, tudo muito organizado em Outubro, para logo se começar a perder Outono a dentro.
A meia-noite que marca a passagem do ano, sempre me pareceu apenas a desculpa para uma noite de festa. Os votos e os desejos que nesse momento se fazem... acabam mortos como vãs intenções repetidas.
Trata-se de algo diferente da transformação a que a religião apela. Veja-se a Pascoa Cristã. Ela é uma mudança, aprofundada, matura, meditada em jejum na Quaresma. Existe uma via-sacra pessoal, que hoje poucos mantêm (Recomendo as "Meditation pour la Careme" de Charpentier, recentemente editadas pela alpha). Também é certo que provavelmente em jejum e abstinência torna-se difícil fugir de um mero pensamento asceta, mas…
Existem mais exemplos desta passagem para um Homem novo, a recriação do mundo do tempo cíclico (Durkheim). Essa transformação levou por exemplo à morte do capitão Cook como Deus Lono sacrificado (Sahlins 1987).
A cada transformação temos assim a celebração da vida pela morte ("O Rei morreu! Viva o Rei!"), a contradição que permite a afirmação.

Este post não anuncia uma morte, nem uma ressurreição. Anuncia de qualquer modo o nascimento de algo novo (uma Natividade). Passem pois pelo novo blog Trans-ferir, um projecto conjunto com o Vìtor Oliveira Jorge.

O Gundisalvus continua. Já pensei muitas vezes em encerrar este blog, mas ele tem sempre singrado e no final acabou por se tornar verdadeiramente naquilo que um blog deve ser. O Gundisalvus é um espaço pessoal onde sobretudo eu vejo um caminho e reconheço uma série de momentos da minha vida. O íntimo e o pessoal estão invisíveis perante uma máscara de aparente transparência. Sempre achei interessante como o crítico pensa ter entrado na intimidade do autor ("A vida e a obra de..."). Contudo a intimidade existe em último análise no próprio e naquilo que ele assente partilhar. A intimidade roubada é no fundo a intimidade violada, permanecendo intimidade no próprio e sendo apenas roubo e exposição para os outros. Quando ela é exposta publicamente por vontade de Ego torna-se publi -cidade.
Aqui num cantinho da Internet não reside a intimidade. O Gundisalvus é apenas um mero caderno de apontamentos público, um Web-log. Vejo-o como uma espécie de data-log da Enterprise que abre este post.
Ciclicamente:

"Space, the final frontier. These are the voyages of the starship Enterprise. Its five-year mission: To explore strange new worlds. To seek out new life and new civilizations. To boldly go where no man has gone before."
Star Trek (retirado de WIkipedia)