domingo, fevereiro 25, 2007

Clement Attle



Clement Attlee
Fonte: BBC History

Clemet Attlee foi eleito primeiro-ministro em 1945 com alguma surpresa ganhando ao carismático Wiston Churchill. A razão? Após uma dura guerra mundial as pessoas desejaram paz e prosperidade. O seu objectivo era não terem de passar novamente pelo mesmo.
Attlee foi o responsável pela criação do National Health Service (Serviço Nacional de Saúde) e do Wellfare State. A sua visão e a implementação de políticas keynesianas permitiu-lhe conduzir a Grã-Bretanha para o início de uma era de prosperidade. O seu objectivo era o de uma Nova Jerusalém.
Ele foi responsável pelo processo de descolonização da Índia e o percursor da Commonwealth (o nome explica uma dada visão do mundo). As políticas de Attlee levaram à nacionalização de sectores chave na economia britânica. A sua visão política e o sucesso económico das suas reformas levaram a uma era de prosperidade que terminou nos anos 70. A partir dessa altura Margaret Thatcher impôs o neo-liberalismo como solução.
Quando Attlee iniciou o seu governo o mundo tinha acabado de se libertar de um pesadelo. O Estado da Ordem e da Obediência, o Estado Totalitário tinha feito a Europa colapsar. A discriminação tinha levado à aniquilação dos judeus. A ciência tinha sido a base da justificação das teorias da superioridade racial, alimentando experiências médicas e uma escalada no armamento. A realidade do Holocausto mostrou uma face do Homem que ninguem gostaria de rever (ou reviver).
O legado de Attlee é o de acreditar que é possível trabalhar para o bem comum sem recair no totalitarismo. Os mercados são uma força poderosas que deve ser conduzida para o bem comum, como a rédea que se coloca num poderoso garanhão.
Alguns vêm em Attlee um voluntarioso, algo inocente, que impediu a expansão do comércio livre e da prosperidade. Outros percebem que Attlee abriu portas à paz e ao bem-estar.
O Estado social europeu poderá ter dado origem a meninos algo mimados, que deixaram de dar valor ao sacrifício e ao trabalho. Pessoalmente prefiro que hajam mais meninos mimados no mundo do que exércitos de meninos da rua que tentam lutar por todos os meios por um pedaço da riqueza (naturalmente sem ética).
Attlee é o símbolo de quem trabalha para a constituição do bem-comum, apostando numa visão altruísta. É o contrário de quem justifica que como tudo é mau, mais vale que apenas alguns mais aptos governem, deixando aos outros a extinção como desígnio. Afinal o nazismo considerava o III Reich como cumulo civilizacional graças ao mesmo desígnio evolucionista.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

No Publico

Sai no Publico de hoje, Quarta-feira 21 de Fevereiro de 2007, uma peça sobre a participação portuguesa nas escavações de Stonehenge.
Ainda não vi a notícia mas espero sinceramente que ela sirva para melhorar a imagem da arqueologia portuguesa.
Em Portugal faz-se uma investigação séria. Trabalhamos ao melhor nível internacional. É essa a nossa mensagem. É para isso que trabalhamos.
Este trabalho é mais um passo de um projecto de investigação com quase 20 anos. Lidamos com o que existe de melhor na Europa e no mundo.
Acho que falo em nome de toda a equipa quando expresso aqui esta mensagem (surpresa):
- Obrigado Vítor
- Obrigado Susana

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

É a vida...



Valentin de Boulogne ou Nicolas Tournier, São Paul escrevendo as suas Epistolas
Fonte: Wikipedia

"O véu das mulheres - 4*Todo o homem que reza ou profetiza, de cabeça coberta, desonra a sua cabeça. 5Mas toda a mulher que reza ou profetiza, de cabeça descoberta, desonra a sua cabeça; é como se estivesse com a cabeça rapada. 6Se a mulher não usa véu, mande cortar os cabelos! Mas se é vergonhoso para uma mulher cortar os cabelos ou rapar a cabeça, então cubra-se com um véu.
7*O homem não deve cobrir a cabeça, porque é imagem e glória de Deus; mas a mulher é glória do homem. 8Pois não foi o homem que foi tirado da mulher, mas a mulher do homem. 9E o homem não foi criado para a mulher, mas a mulher para o homem. 10*Por isso, a mulher deve trazer sobre a cabeça o sinal da autoridade, por causa dos anjos. 11*Todavia, nem a mulher é separável do homem, nem o homem da mulher, diante do Senhor. 12Pois, se a mulher foi tirada do homem, o homem nasce da mulher, e tudo provém de Deus.
13Julgai por vós mesmos: será decoroso que a mulher reze a Deus de cabeça descoberta? 14E não é a própria natureza que vos ensina que é uma desonra para o homem trazer cabelos compridos, 15ao passo que, para a mulher, deixá-los crescer é uma glória, porque a cabeleira lhe foi dada como um véu?
16Mas, se alguém quiser contestar, nós não temos esse costume, nem tão-pouco as igrejas de Deus. "

Carta de S. Paulo aos Coríntios, 11, 4-16

Há quem pense que os valores do Ocidente são muito diferentes. Há quem queira fazer valer uma imagem que assente apenas na pluralidade, na concórdia, na compreensão. Bom, receio que esse Ocidente nem sempre existiu. Para quem não sabe os véus que as senhoras usavam para ir à Igreja tinham uma razão de ser. Essa razão está aqui expressa por Paulo.
Há quem diga que a Igreja Católica se tornou na Igreja de Paulo e é por essa razão que se tornou dogmática fechada, enclausurada em Paulo.
Não era este o capitulo desta carta que eu queria trazer aqui, mas deparei-me com ele e era impossível escapar.
E a minha pergunta é: Numa sociedade contemporânea, marcada pelos valores da igualdade pode a Igreja Católica defender os valores de Paulo. Deverão ainda as mulheres ir à Igreja de véu?
Eu sei que já passou a onda do referendo. Ainda bem. Poderiam pensar que este post teria a ver com o assunto do aborto. Mas não tem. Para mim a discussão desse assunto faz parte de uma discussão muito vasta.
Supostamente neste referendo existiam dois lados, um que seria o dos valores e outro que seria o do vale tudo.
Este foi um erro que determinadas ortodoxias não compreendem. A sociedade liberal possui valores mas deslocou-os para a esfera do individuo. Na sociedade liberal, os valores são da ordem do pessoal e do intimo. Mas será mesmo assim? Será que os valores podem de facto passar para uma esfera unicamente pessoal?
Será que podemos ser absolutamente livres nas nossas escolhas? Poderemos ser absolutamente incondicionais?

Perdoem-me a inocência da pergunta, mas como muitos outros autores (cujos nomes não me apetece citar), penso que perguntas simples podem revelar-nos questões extremamente complexas.
Cada individuo parte de princípios, mas poderão esses princípios ser absolutamente seus? Serão na medida em que ele os escolheu e os adaptou, mas terá ele sido absolutamente impermeável ao que o rodeia? O que nos faz escolher? O nosso Egoismo?

O que nos leva a um outro conjunto de questões:
Estaremos cada um de nós orgulhosamente sós? O que queremos nós do Outro? Como nos relacionamos com esse Outro? Como a Corte que nos adora e que ali deve estar quando precisamos? Projectamos no Outro as nossas carências afectivas pelas quais psicanaliticamente culpamos os nossos pais? Até quando faremos o papel do filho mimado que não compreende que o mundo não vive para ele?
O mundo existe e é nele que vivemos. Somos ser-no-mundo, ser-aí. Este ser não é o individuo, é a pessoa, a pessoa humana.
Se sabemos que cada Homem não é uma ilha, se sabemos que qualquer sociedade tem valores, que a estrutura condiciona a acção tal como a acção condiciona a estrutura a questão é: Que valores fazemos nós hoje? Quais são os valores que partem de nós?

O egoísmo e o individualismo que marcam a sociedade de hoje são um marco de uma sociedade capitalista que educou os seres nesse sentido. A psicanálise muitas vezes desculpa esse individualismo cedendo a culpa a outrem. Projectamos e nessa projecção satisfazemos o alter-Ego dando mais um passo para ceder aos seus caprichos. Somos a marioneta dele e desse outro nós identificado como Id, a pulsão. A culpa vai morrer longe.

O liberalismo soube como dissolver a culpa, o capitalismo aproveitou-se disso fazendo render a lei do desejo. Mas mesmo assim tenho a impressão que ela continua a existir dentro de cada um, como em Crime e Castigo de Dostoievski. A febre assola-nos todos os dias e todos os dias tomamos a aspirina para não nos sentirmos culpados.

A escrita de Paulo é o produto de um homem torturado pela culpa. A sua solução foi uma espécie de tortura absoluta de Ego; um domínio da vontade absoluto que serviria essencialmente como expiação. Como em qualquer pessoa a biografia ajuda a explicar a tortura de Paulo. Espero que a morte lhe tenha dado descanso.

A culpa faz parte de nós. Aceitá-la não passa por banalizá-la ou por projectá-la. Talvez passe por fazer esse enorme exercício de vida que se chama aprender.

Como costumamos dizer em português: É a vida... (não é desculpa, é a vida)

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Arqueólogos portugueses participam na descoberta das habitações de Stonehenge

"Quatro arqueólogos portugueses participaram na descoberta dos vestígios de oito habitações que estão ligadas ao complexo de Stonehenge, numa colaboração resultante de um projecto conjunto entre universidades inglesas e portuguesas, financiado pelas Acções Integradas Luso-Britânicas.

De acordo com Gonçalo Cardoso Leite Velho, do Departamento de Território, Arqueologia e Património, do Instituto Politécnico de Tomar, “a mesma equipa inglesa, que esteve na origem desta fantástica descoberta, esteve em Portugal para participar nas escavações da colina monumental de Castanheiro do Vento (Horta do Douro, Vila Nova de Foz Côa)”. Esta foi uma intervenção que se desenrolou por dois meses contou com a participação de uma equipa com mais de cem pessoas, “desenvolvendo-se numa escala invulgar para o nosso país”, conta o especialista.

Ainda segundo Gonçalo Velho, esta cooperação entre os investigadores “tem vindo a dar frutos e irá continuar”. Para o próximo ano os portugueses (ligados à Faculdade de Letras da Universidade do Porto e ao Instituto Politécnico de Tomar) irão regressar a Inglaterra, desta vez para intervir em Stonehenge, assim como se prevê o regresso dos investigadores ingleses, mas com uma equipa reforçada e de maior dimensão.

De acordo com Gonçalo Cardoso Leite Velho, “Portugal tem-se vindo a destacar no estudo das arquitecturas pré-históricas (conduzindo inclusive diversos projectos europeus nesta área). O estudo dos recintos monumentais do Norte de Portugal está na origem de uma escola reconhecida a nível mundial”.

A apresentação dos resultados da participação nas descobertas de Durrington Walls será feita no próximo dia 22 de Fevereiro na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Imagem: http://www.bouletfermat.com/backgrounds/ "

Fonte: CienciaPT.net - Joana Vidigal Leal

Parece que a nossa equipa foi notícia hoje em vários meios de comunicação...

http://jn.sapo.pt/2007/02/06/cultura/portugueses_ajudam_importante_descob.html
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=770212&div_id=291
http://www.cienciapt.net/noticiasdesc.asp?id=14509
http://www.rtp.pt/index.php?article=269377&visual=16&rss=0

Concurso Nacional Técnicas de Arqueologia



O Instituto Politécnico de Tomar criou o concurso Técnicas de Arqueologia, destinado aos jovens do ensino secundário.
O objectivo é sensibilizar os jovens para a arqueologia na sua dimensão científica e tecnológica, elaborando um trabalho que demonstre atitudes e competências no campo das ciências experimentais aplicadas à arqueologia.
O concurso está assim dividido em dois escalões: Prémio João Calado (12ºano) e Prémio Andakatu - Arqueologia, Artes e Técnicas (11º ano).

PREMIO DR. JOÃO CALADO RODRIGUES - 12º ANO
·oferta de estágio de arqueologia em França ou Itália, durante um mês (viagem, seguro, inscrição e estadia)
·publicação do trabalho em Revista de Arqueologia;
·diploma.

PREMIO ANDAKATU- ARQUEOLOGIA, ARTES E TÉCNICAS- 11º ANO
·oferta de curso de iniciação à arqueologia (seguro, inscrição e estadia);
·publicação do trabalho em Revista de Arqueologia;
·diploma.

Mais informações podem ser consultadas no site do IPT.

sábado, fevereiro 03, 2007

Darwinism and Physics

"And why should it determine that we come to the right conclusions from the evidence? Might it not equally well determine that we draw the wrong conclusion.? Or no conclusion at all?
The only answer that I can give to this problem is based on Darwin’s principle of natural selection. The idea is that in any population of self-reproducing organisms, there will be variations in the genetic material and upbringing that different individuals have. These differences will mean that some individuals are better able than others to draw the right conclusions about the world around them and to act accordingly. These individuals will be more likely to survive and reproduce and so their pattern of behavior and thought will come to dominate. It has certainly been true in the past that what we call intelligence and scientific discovery have conveyed a survival advantage. It is not so clear that this is still the case: our scientific discoveries may well destroy us all, and even if they don’t, a complete unified theory may not make much difference to our chances of survival. However, provided the universe has evolved in a regular way, we might expect that the reasoning abilities that natural selection has given us would be valid also in our search for a complete unified theory, and so would not lead us to the wrong conclusions."

Hawking, S. (1988)

Numa das suas mais emblemáticas obras Gell-Mann (1995) escreveu que quando encontrava um erro num livro ficava tão irritado que tinha logo vontade de po-lo de lado. Ao longo das minhas leituras de algumas obras de Hawking fico exactamente com essa mesma vontade.
Para quem tem a ideia de que Hawking apenas faz livros de grande divulgação aconselho-o vivamente a entrar no mundo das equações do livro que citei no post anterior. Hawking sabe de Física, mas sofre do mesmo problema que a maioria dos físicos: fechados numa torre de babel da alta ciência, pouco ou nada sabem de outras disciplinas para além do comum. Trata-se do grande edifício científico construído em prestações. O modelo Oxford-Cambridge, onde os génios produzem conhecimento nos seus quartos (leia-se departamentos) e por vezes socializam na sala onde, acompanhados por um copo de Xerez, contam o essencial das suas descobertas.
A lei de Darwin justifica para Hawkings a validade dos paradigmas vigentes (Dawrwin meets Popper).
A história que Hawking conta neste livro é simples e dá-nos uma aproximação genérica ao pensamento ocidental, mas tem partes em que dá mesmo vontade de mandar o livro às urtigas. Senão vejam esta outra pérola:

"One argument for such a beginning was the feeling that it was necessary to have “First Cause” to explain the existence of the universe. (Within the universe, you always explained one event as being caused by some earlier event, but the existence of the universe itself could be explained in this way only if it had some beginning.) Another argument was put forward by St. Augustine in his book The City of God. He pointed out that civilization is progressing and we remember who performed this deed or developed that technique. Thus man, and so also perhaps the universe, could not have been around all that long. St. Augustine accepted a date of about 5000 BC for the Creation of the universe according to the book of Genesis. (It is interesting that this is not so far from the end of the last Ice Age, about 10,000 BC, which is when archaeologists tell us that civilization really began.)"

Hawking (1988)

É fabuloso o que os arqueólogos contam a Hawking sobre o alvor da civilização.
As palavras de Gell-Mann ecoam no meu pensamento ainda com mais força. Se este homem parte de príncipios tão grosseiros dentro daquilo que eu sei, nem quero imaginar o que dirá do que eu não sei. Tenho saudades do Santa Fe Institute.


GELL_MANN, Murrey (1995) The Quark and the Jaguar: Adventures in the Simple and the Complex. Owl Books

HAWKING, Stephen (1988) A Brief History of Time. Bantam Books.

Time - Stephen Hawking

"I take the positivist viewpoint that a physical theory is just a mathematical model and that it is meaningless to ask whether it corresponds to reality. All that one can ask is that its predictions should be in agreement with observation."

Hawking, Stephen (1996) The nature of space and time. Princeton University Press