quarta-feira, outubro 04, 2006

Pobres e mal agradecidos

As crónicas de Rui Tavares no Publico são um dos meus momentos favoritos da semana. Elas são publicadas ao Sábado e eram uma das minhas razões principais para comprar o jornal, juntamente com o suplemento Mil Folhas.
Todas as semanas tem sido interessante ver como na mesma página duas colunas divergem. Do lado direito o inevitável, do outro lado o desmascarar dessa suposta inevitabilidade.
Algo profundamente ideológico que mostra bem as diferenças, até pela qualidade da informação de base e pelo modo como essa informação é exposta (ver a Helena Matos falar sobre a realidade espanhola deixa qualquer um de cabelos em pé).
Infelizmente recentemente o Publico decidiu reorganizar os seus suplementos. Ao Sábado ficou uma razão menos para comprar o jornal, o Mil Folhas passou para a sexta, ao que se veio a juntar o aumento de preço, num claro caso em que mais (Inimigo Publico, Fugas, Xis) é menos.
Descobri recentemente que as crónicas do Rui Tavares estão livremente disponíveis na Internet no seu blog “Pobre e mal agradecido”. Deixo aqui o link porque são de facto oxigénio perante a asfixia.
No mesmo blog aconselho a recente tradução de um texto de Ralf Dahrendorf sobre o “Novo Autoritarismo”. Dá que pensar e ainda bem que ainda existem coisas que dão de pensar. (Pensar mesmo! Se alguém vir o subtítulo da revista Xis e o conteúdo da mesma, percebe que pensar é um verbo… muito abrangente).
Não acredito nas supostas inevitabilidade que nos estão a vender. Acho que estão muito próximas das ideias do século XIX da inevitabilidade de um estado positivo.
Já sabemos que alguém nos andou a mentir e que essa mentira serviu para um ataque às liberdades e garantias universais.
A paranóia tornou-se justificada pela guerra no Iraque e temo que a mentira continue, tal como o ataque aos direitos, liberdades e garantias (veja-se como passam a ser designados como privilégios).
Neste sentido em que as coisas vão (direitos como privilégios) identifico-me com o Rui Tavares: somos pobres e mal agradecidos.

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