segunda-feira, outubro 30, 2006

Sindicatos satisfeitos com mestrado obrigatório para professores IV

Fiquei absolutamente espantado com um comentário no outro dia no Desassossegos, sobre a questão de que não se iria exigir mais qualificação porque não se iriam mexer com direitos adquiridos.
Sou uma pessoa que aqui tem sempre demonstrado a ideia de defesa de direitos e como no estado actual das coisas se mascara fim de direitos básicos com fim de privilégios, mas há que ter em atenção certas coisas. Jamais a não qualificação pode ser encarada como um direito. E se alguém ficam incomodado com esta afirmação convém que leia o post até ao fim.
O direito de um trabalhador é à qualificação e é por essa mesma razão que qualquer Sindicato (e vejam a notícia) adere logo e sem reservas a tudo quanto possa significar a melhoria das condições dos trabalhadores. Nesse sentido está em absoluto a defender os seus direitos.
Agora lógicamente que o apelo à qualificação não pode ser feito pelo condicionamento a piores condições de trabalho, ou à precarização do emprego. Tem de ser justamente o contrário. E neste processo compete às próprias entidades empresariais e aos gestores como um todo, implementarem estratégias de qualificação nos seus locais de trabalho. Ao estarem a qualificar os seus assalariados, as empresas estão a investir na melhoria da sua qualidade e dos seus recursos humanos. Isto tem de ser feito com incentivos positivos (avaliação e atribuição de mérito, progressão na carreira) e não no sentido negativo (despedimento, inibição de actividade).
Lógicamente que num mundo de baixos salários, visto como única solução para a prática de um produto de baixo custo (um elemento de competitividade essencial mas não único), torna-se quase impossível implementar isto. Mas quem disse que vencer a batalha pela qualidade era fácil?
Veja-se por exemplo os produtos informáticos. O consumidor nem sempre compra o baixo custo. Existem diversas gamas, destinadas a mercados diferentes. E esta ideia é válida do hardware ao software (afinal quantas pessoas é que optam pelo Linux em detrimento do MacOS X?), passando pela electrónica (câmaras vídeo, fotografia digital), até aos electrodomésticos.
O mercado do Património não é nem pode ser diferente. Este país não pode ficar refém da mediocridade. Muito é exigido às empresas, mas no mundo de mercado são de facto elas que podem marcar a diferença, afinal são elas o suposto motor da economia.
As empresas de arqueologia não podem ficar a continuar a olhar para as Universidades como torres de marfim onde supostamente se desenvolve a verdadeira investigação. Se elas próprias sabem que não é assim convém que não legitimem este tipo de discurso (certas contestações assumem a forma de legitimação). São elas no seu dia-a-dia que podem marcar a diferença pela qualidade do seu trabalho (algumas compreenderam isto desde a primeira hora, outras irão compreender mais tarde ao mais cedo). São elas que podem possuir um quadro de pessoal técnico altamente especializados, gente categorizada que desenvolveu teses de mestrado e doutoramento sobre determinados assuntos. Nesse dia as empresas estarão prontas a serem elas a marcar a agenda. É para isso que têm de trabalhar.
Esperar que um empreiteiro ou um engenheiro civil compreendam isto é quimérico. Mas em todos os países existe sempre quem tem vistas curtas e olhe apenas para o seu bolso e quem saiba sempre reconhecer um bom trabalho.
Se as empresas continuarem presas a um mercado mediocre que exige a mediocridade, nunca sairão dessa mesma lama (quem disse que o mercado era bom e que exigia sempre qualidade?). Por essa mesma razão é que acho que neste caso convinha que as instituições de ensino superior assumissem também um outro papel, intervindo para que se possa ajudar à existência de trabalhos de qualidade. Condenar apenas as empresas e ficar a ver é bonito para "treinador de bancada".

domingo, outubro 29, 2006

Sindicatos satisfeitos com mestrado obrigatório para novos professores III

É óbvio que Bolonha vai trazer mais pessoas de volta ao Ensino Superior. Para alguns isso é negativo. Bom há sempre quem acredite que a formação foi feita uma vez na vida e agora tudo se resume a trabalhar, porque ali "no campo" é que está a escola toda.
Para quem tem bom-senso sabe que qualificar é um verbo que está sempre na ordem do dia. Na maioria das profissões a re-qualificação passa por frequentar novos cursos, insistindo sempre na formação (conheço poucos enfermeiros que achem que a escola está toda ali, no serviço de urgências e que na prática é que se aprende).
Mais uma vez a própria distinção entre teoria e prática manifesta-se como ridícula. Já imaginaram um enfermeiro que recusa um curso de suporte avançado de vida, porque afirma que é só teoria (e alguma vez um curso destes podia ser exclusivamente teórico)?

A arqueologia é apenas mais uma área como muitas outras que sofre do problema da qualificação não ser valorisada. Enquanto se insistir na dicotomia empresas/universidades não se vai muito longe. Pior ainda é quando as empresas se aproximam das Universidades supostamente para lhes ensinar o que devem fazer, ou vice-versa. Há uma diferença entre monólogo e diálogo, entre estabelecer condições à partida, ou estar aberto a trabalhar negociando uma solução. Infelizmente numa sociedade classista, o poder... torna-se tudo (sendo obstáculo a que se faça seja o que for).

Mas devemo-nos cada um de nós perguntar porque nos estamos a qualificar. O termo em si significa que nos tornamos melhores pessoas, com mais qualidades. Qualificar é possuir mais competências. É estarmos actualizados.
Neste país isso pode não significar mais trabalho, ou uma melhoria salarial, mas nós não nos podemos deixar afundar na mediocridade apenas pelo mercado, ou pelo país em que vivemos (assim "nunca sairemos da cepa torta").

Vou dar um caso muito concreto. Na visita a Inglaterra contactei com um ambiente de escavação muito diferente do que temos por aqui. As técnicas são algo diferentes, o modo de encarar o sítio, entre muitas coisas. Para mim, apesar de não ter nenhum diploma da minha estadia, aquela experiência valeu muito. Quem pensa que isso passou apenas por contactar com fichas de contexto diferentes, ou com duas estações totais a trabalhar sempre, está muito enganado. É a experiência como um todo, desde a escavação às conversas no Pub, passando pelo alojamento nas tendas e nos jantares na tenda grande. A Experiência!!!! (isto é apenas um enfâse fenomenológico, que espero que me perdoem).
Mas não é só em Inglaterra que acontece isso. O meu contacto com os meus colegas de Tomar também me abriu as portas com um outro modo de fazer arqueologia (a Ana Rosa continua a ensinar-me muita muita coisa). Todos os dias aqui deparo-me com experiências novas, numa troca rica de experiências. Por essa mesma razão as disciplinas que lecciono estão numa constante actualização. Aprendo imenso com os alunos, que muitas vezes encaro como colegas que apenas oriento. A diferença que me leva a orientá-los reside apenas num ponto: a qualificação. Não sou o sol que ilumina com o saber. Sou alguém que ajuda a aprender e nessa tarefa aprende também. Aí é que está o truque.

(continua)

sábado, outubro 28, 2006

Sindicatos satisfeitos com mestrado obrigatório para novos professores II



Fonte: UNIDERP

A grande questão que o novo quadro coloca prende-se com o problema de passar haver dois sistemas: pré-Bolonha e pós-Bolonha. Penso que tal como no caso do sistema dos bacharelatos, rapidamente passará a haver uma exigência do mercado de um grau superior. Alguém se lembra por exemplo de que em Portugal os enfermeiros eram bachareis? Os cursos de complemente multiplicaram-se apesar de não existir nenhuma norma que obrigasse à obtenção do grau de licenciado. Aliás existem ainda alguns enfermeiros que estão bem longe da idade da reforma e que são apenas bachareis (a licenciatura surgiu à coisa de 10 anos, primeiro com os ESE, depois...)
Os cursos de complemento foram uma boa fonte de financiamento para as Escolas de Enfermagem que hoje se multiplicaram (se há coisa que não acredito é de profissionais em excesso - à conta disto Espanha tornou-se exportadora de mão-de-obra qualificada, essa emigração trouxe-lhe divisas e novas oportunidades e se pensam que a maioria dos profissionais de Saúde espanhóis vieram para Portugal, façam uma visitinha a um hospital no Reino Unido).
O modelo dos cursos de complemento é no entanto um exemplo do que em Portugal a aposta na qualificação pode-se transformar num desastre. Em vez de trazerem um valor acrescentado, tornaram-se apenas numa fonte de financiamento para a Escolas de Enfermagem, que se limitavam a passar diplomas para profissionais que frequentavam estes cursos na ânsia de terem melhorias salariais e progressões na carreira.
Não houve qualquer exigência de melhor qualidade, nem de alunos nem de professores, nem das escolas. Todos trabalhavam na lógica da carreira e não da qualificação.
Demonstram assim que boas ideias chocam com um príncipio básico que é díficil de se implementar em Portugal: cidadania!


(continua)

sexta-feira, outubro 27, 2006

Sindicatos satisfeitos com mestrado obrigatório para novos professores

"Sindicatos satisfeitos com mestrado obrigatório para novos professores
27.10.2006 - 14h33 Lusa

Os sindicatos do sector da educação mostraram-se hoje satisfeitos com a proposta do Governo que obriga os candidatos a professores a terem um mestrado de acordo com as novas regras do Processo de Bolonha.

"Para melhorar a qualidade do ensino há a necessidade efectiva de tornar os cursos em mestrados à luz de Bolonha", disse à Lusa Carlos Chagas, da Federação Nacional do Ensino e Investigação (Fenei).

Em declarações à Rádio Renascença, o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, disse que o Ministério vai alterar as regras para a habilitação à docência, obrigando os novos professores a ter de tirar o mestrado segundo as regras de Bolonha, como adianta a edição de hoje do PÚBLICO."

Fonte: Publico online citando a Lusa

Todos sabiamos que mais tarde ou mais cedo isto vai ser aplicado a maioria das áreas, da enfermagem às engenharias, passando pela arqueologia.
Como todos também sabiamos a questão de Bolonha vai acabar por se assumir numa espéce de retorno ao modelo de bacharelato/licenciado, transformados em licenciado/mestre. A designação do grau em Inglaterra (afinal um dos países modelo da reforma) já continha em si isso mesmo: Bachelor's. O grau seguinte? Master. Coincidências? É óbvio que não.
Já agora vejam o artigo na Wikipedia (em inglês) que contém já informação sobre o processo de Bolonha.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Cursos não financiados



Fonte: MCTES/DGES

Como muito se falou sobre cursos a mais e sobre a questão do financiamento do Ensino Superior coloco aqui a lista dos cursos que não vão ter financiamento neste ano lectivo.
Uma das áreas mais afectadas é sem dúvida a Geografia. A Geologia também não escapa.
Sobretudo creio que mostra bem que os principais problemas da quebra dos alunos pouco teve haver com oscilações demograficas, tendo sobretudo haver com a introdução da nota mínima (veja-se o caso das ciências ditas exactas). Novamente parece-me que esta medida da nota mínima foi sobretudo um exercício demagógico que não veio a melhorar a qualidade do Ensino.
Sobre esta mesma qualidade tenho uma experiência muito interessante com alunos que entram com médias inferiores à dos anos anteriores. Sobre esse assunto conto falar em breve.

domingo, outubro 22, 2006

Time, things, gesture



Van Gogh (1888) Par de botas com cordões
Fonte: Snoqualmie

"Thus Dasein is (unlike God) finite, in the midst of beings which it allows to be themselves, and thus encounters rather than creates."

Inwood, M. (2000) Heidegger: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press, pág. 94

Ser é revelar.
Não se trata de cobrir o mundo com uma manta de conhecimento, ou ir ao encontro da essência do objecto.
Revelar o material: eis a essência do nosso gesto e da própria arqueologia. Techne e Poiesis trazendo para a frente, tornando evidente.

P.S. Este par de botas serve de inspiração ao texto de Heidegger "Origem da Obra de Arte".

Things

"Thus Dasein is (unlike God) finite, in the midst of beings which it allows to be themselves, and thus encounters rather than creates."

Inwood, M. (2000) Heidegger: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press, pág. 94

quarta-feira, outubro 18, 2006

AuthenticTime



Otto Nagel, 1928, Arbeitsloser
Fonte: Gemäldesammlung nach Themen der Lehrplän

"Indeed, according to Heidegger, in our everyday we only have an inauthentic
understanding of possibilities and thus time. We live in the belief that what we cannot do now we can do tomorrow; we thus live as if time were infinite. However, this expresses nothing other than a recoil from an authentic understanding of time. The open-endedness of our everyday possibilities is made possible only by the radically closed and certain ‘possibility’ of death as the horizon of finite existence."

ALWEISS, L. (2002) "Heidegger and the concept of time" History of human sciences Vol. 15 N.3

Viver na angustia do tempo autêntico é talvez a maior fonte do stress actual - é a chave da ansiedade.

Hope



Parte III da entrevista de Bill Clinton à Fox
Fonte: Youtube

Tenho para mim que quando os E.U.A. espirram a Europa constipa-se, sobretudo em termos de políticas.
Parece-me demasiada coincidência a viragem da Europa para uma política monetarista ao mesmo tempo que os Repubicanos assumem o poder e pretendem afirmar a sua vitória na Guerra Fria.
Nada me tira da cabeça que o domínio do discurso neo-liberal, que possui hoje uma penetração nos media sem precedentes, está relacionado com essa mesma vitória.
Já ninguém ouve falar dos méritos da social-democracia escandinava, ou alemã.
Não pretendo com isto aderir a uma teoria da conspiração. Acho simplesmente que a administração norte-americana soube passar muito bem a sua mensagem, vendendo o seu produto.
Esta "vitória" provoca desequilíbrios vários. Por essa mesma razão não posso deixar de recordar com alguma nostalgia os tempos em que Clinton governava a Casa Branca. Em que os escândalos a existir prendiam-se mais com a "arma" do presidente, do que com as armas da nação. Escândalos mais de folhetim barato, com laivos de puritanismo.
É por isso que a entrevista à Fox News de Clinton mostra-o na sua melhor forma. O "Come back kid" faz jus à sua alcunha.
O regresso de Gore mostra também que os democratas estão de volta e pretendem marcar a agenda. Temas como o ambiente, as desigualdades e tantos outros, estão de volta para marcar a agenda (já repararan como o défice veio a ofuscar tudo, branqueando mais do que qualquer outra manobra política? Inocente?).
Eu continuo a ter uma inefável afinidade com os democratas americanos, em especial com muitas das propostas da administração Clinton. A sua ligação com as propostas de Kennedy trazem ao de cima o melhor que este partido soube produzir.
Das várias partes desta entrevista escolhi não a mais sensacional, onde Clinton se pega directamente com clara linha editorial republicana da Fox, mas aquela em que ele demonstra como as suas propostas estão a vingar e como não é preciso estar na presidência para marcar a agenda. Cliton continua a querer transformar o mundo, utilizando para isso o grande capital. Ele não vende um modelo de sociedade, nem muito menos a impõe. O seu modelo não se baseia no negócio do petroleo, ou na ideia do self made men. Ele simplesmente quer ajudar a que se possa viva melhor. Na sua forma mais simples.
Faz-me sem dúvida voltar a acreditar naquele lugar chamado Hope.

terça-feira, outubro 17, 2006

Uma geração qualificada



Foto de grupo de alunos formados em Ciências Biológicas da Universidade de Singapura
Fonte: Departamento de Ciências Biologicas, Universidade Nacional de Singapura

O artigo é de Julho, mas vem a propósito. O seu titulo é : "Gerir uma escola do ensino superior em Época de crise"
É um retrato extremamente lúcido pela voz de um Director de uma Escola Superior.
É da autoria de Manuela Vaz Velho e pertence à página do João Vasconcelos Costa, que apesar de ter opiniões com as quais eu não concordo é sem dúvida uma pessoa que segue de perto a realidade do Ensino Superior em Portugal.
Após este artigo é fácil concordar com a sua autora: A convivência diária com a realidade do Ensino Superior é sem dúvida de tirar o sono.
Eis um extracto:

"É difícil gerir uma instituição nestes tempos e desta maneira, e o mais fácil é descartarmo-nos das peças mais frágeis, que são os docentes com contratos a termo há vários anos, os chamados equiparados; estes são a maioria, pelo menos na minha escola, porque o alargamento do quadro do pessoal docente, há muito pedido, nunca mais chega. E será difícil que chegue agora, quando o número de alunos tem vindo a diminuir. Por isso, todos os anos, à medida que os alunos diminuem, vamos tentando manter a instituição à custa da saída destes docentes. Muitos destes são agora doutorados, o que implicou um enorme investimento pessoal e institucional, e a maior parte deles só está vocacionada para exercer actividades de docência e investigação, sendo difícil conseguirem trabalho fora destas áreas. Mas também quantas empresas portuguesas podem absorver com dignidade estes quadros academicamente tão qualificados?

O pior de tudo é que não há subsídio de desemprego para investigadores e docentes do ensino superior. Este direito que assiste a qualquer trabalhador fora da administração pública, e que já é considerado para os docentes dos ensinos básico e secundário, não chegou ainda ao ensino superior. Os docentes nesta situação de desemprego involuntário não têm, como qualquer outro trabalhador, esta garantia mínima de viverem com dignidade enquanto procuram um novo trabalho. Para um gestor pós-moderno, frio e eficiente, é tudo uma questão de números e se os docentes são supérfluos, provavelmente o facto de terem ou não subsídio de desemprego não lhe afecta o sono, mas para uma docente como eu ou qualquer outro docente que faça parte da direcção de uma escola do ensino superior, já não é assim. Há um ano atrás foi fácil fazer as contas e, face ao défice orçamental e à previsão da diminuição do número de alunos, colocarmos no plano de actividades da escola, para o corrente ano, o número de ETIs a reduzir, mas quando se aproxima a data da não renovação dos contratos, estes ETIs tornam-se pessoas, são colegas com os quais convivemos durante anos, e é cada vez mais difícil conciliarmos o sono."

Fonte: Reformar a Educação Superior

A solução do momento para este problema são os contratos renováveis por 5 meses. Algo que já foi aplicado em vários Politécnicos e que brevemente vai chegar a Tomar.
É a flexibilização do mercado laboral à moda do Ensino Superior. Isto em teoria (e penso que em breve na prática) permite inclusive poupar um mês de salários (Agosto). No ano seguinte o contrato começa mais cedo e deve possuir uma duração de seis meses, prorroga-se por mais 5 e assim andamos.
Acho que não preciso de me pronunciar sobre a legalidade de tudo isto.
Da parte das direcções de Escola o argumento é que assim evitam despedimentos. Creio que é uma espécie de antecâmara até que a pessoa saia. Não acredito que ninguém são mentalmente queira viver assim. Um contrato de seis meses renovável na iniciativa privada, ainda que pior remunerado é mais atractivo. Alguns irão emigrar uma vez que as suas qualificações não fazem sentido num país como o nosso. Eles foram formados para ser algo que já não é possível: docentes qualificados no Ensino Superior.
Há uma geração que se perdeu com o défice.
Quem entrou a tempo na carreira, ainda que pior qualificado, vai ficar por lá. Alguns farão doutoramentos expresso de três anos e assim contribuíram para que determinados cursos não fechem.
O passo a seguir parece ser o das fusões entre Politécnicos e de Politécnicos e Universidades. Não sei até que ponto alguns conseguiram subsistir sozinhos com dez licenciaturas, numa estrutura que antes teve 30 ou mais.
Quando tudo isto terminar o Ensino Superior ficou muito mais leve. Deixou de ser um peso para o Estado.
Finalmente os impostos irão baixar. O custo... uma geração qualificada.

Nota: Este é o cenário antes da entrada do próximo Quadro Comunitário de Apoio. Não sei porquê tenho o pressentimento que a dita aposta na formação vai levar a uma explosão de pequenos cursos de formação por todo o lado. O que aconteceu com os dinheiros do Fundo Social Europeu vai ser uma brincadeira de garotos comparados com o que se aproxima. Para esta vaga de desempregados qualificados isto vai representar a oportunidade de sobreviverem. E assim andaremos cantando e rindo.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Pessimismo III

Queria poder continuar a falar do gesto mas... a minha caixa de correio tende a trazer notícias destas:


"Para Luciano de Almeida não é preciso fazer avaliações para determinar quem deve sair. No Correio da Manhã de 3 de Outubro, em peça intitulada "Desemprego para mil" diz que, obviamente, vão sair os mais jovens e mais qualificados: "A esmagadora maioria dos docentes é jovem, tem formação académica e forte capacidade de adaptação ".

Por isso em alguns Politécnicos, felizmente não em todos, estão a ir para a rua mestres e doutores, designadamente os formados com apoio do PRODEP. Enquanto se abrem concursos de provas públicas para colocar no quadro meros licenciados.

É assim que toda uma geração terá trabalhado em vão. O ensino superior português não terá futuro se a sua reestruturação se fizer à custa do pessoal docente mais jovem e mais qualificado. "

Fonte: Email do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup)

São coisas destas que nos fazem trabalhar a dobrar. Em Tomar, o Sindicato vai ter uma reunião com a Presidência de modo a poder discutir a situação. Estou em crer que ambos partem do mesmo objectivo: um corpo docente qualificado e com boas condições de trabalho. Infelizmente os casos que me têm chegado (enquanto delegado sindical) não são o melhor indicador da partilha desta política. A ver vamos onde é que isto dará. Tinha grandes esperanças nesta nova direcção.

Mas nem tudo é mau.
Os números desta 2ª fase de candidaturas levaram a um crescimento do número de alunos no Ensino Superior
Na área da arqueologia estou mais do que seguro da estratégia: um corpo docente altamente qualificado (uma esmagadora maioria doutorado ou em fase de conclusão de doutoramento), dinâmico e com ligações ao que de melhor se faz na Europa (porque para ser bom temos de por a fasquia alto).
As condições que conseguimos oferecer aos alunos darão de certeza frutos. A nossa ligação de anos com redes europeias, reforçada hoje em dia com os nossos contactos no Brasil e noutros locais da América do Sul, é a garantia de que os nossos alunos trabalham a uma escala diferente, podendo usufruir de uma série de apoios e bolsas. O mundo em que vivemos há muito que não se restringe a este pequeno rectângulo.
A nossa formação foi pensada já numa estratégia de 3 ciclos em que oferecemos Licenciatura + Mestrado + Doutoramento, estes dois últimos em consonância com a rede europeia de arqueologia, com graus conferidos pelas Universidades com quem temos parcerias aqui em Portugal e lá fora (ambas e não uma ou outra, o que se traduz num diploma com maiores valências).
Continuamos a remar contra a maré, contra corporativismos que defendem que a qualidade advem da restrição para que tudo fique na mesma. Para nós ela advem da qualificação. É essa a nossa luta, a de um grupo aberto e decidido a remar contra a maré.

domingo, outubro 15, 2006

Tecnologia, Técnica, Gesto



Fonte: Desenho por Johannes Mos, ilustrações de Owen, Linda (2006) Distorting the Past: Gender and the Division of Labor in the European Upper Paleolithic. Tübingen Publications in Prehistory

"One of the great mistakes of recent anthropology - what Reynolds (1993:410) calls 'the great tool-use fallacy' - has been to insist upon a separation between the domains of technical and social activity, a separation that has blinded us to the fact that one of the outstanding features of human technical practices lies in their embeddedness in the current of sociality. "

Ingold, T. 2000 pág. 195

sábado, outubro 14, 2006

Pessimismo Superior II

No post anterior relativo ao Ensino Superior referi a questão da utilização da noção de privilegiado como argumento base para as actuais reformas.
Para que se pense novamente sobre quem é privilegiado deixo o link para um interessante post no "POLIKÊ", com o titulo "O Quarto 101 do «MInistério dos ESCOLHIDOS por "outros" e BENEFICIADOS por nós»".
Já que é fim-de-semana, aproveitem bem para pensar sobre os benefícios e beneficiados com determinados argumentos.
Já agora deixo também o link ao artigo do Pedro Lourtie que saiu no Diario Económico desta semana. Ele expressa bem a visão do MCTES (ao que não será alheio o facto de ser alguém com responsabilidades na área e de ser membro do Instituto Superior Técnico).
Pensem sobre quem resulta beneficiado com a concentração: todos ou alguns?
Começamos por fechar cursos, a seguir concentram-se escolas... o argumento é sempre o mesmo: não há dinheiro para tudo. Viram os valores do acordo com o MIT???
Este caminho conduzirá mesmo à qualidade, ou ao reforço de poder de uma oligarquia?
Já agora pensem por exemplo na área da arqueologia... mais qualidade?

Archaeopedia

Já falei algumas vezes do Metamedia at Stanford.
Ele multiplica-se numa serie de projectos.
Um deles é a Archaeopedia, uma enciclopédia wiki de arqueologia.
Fica o link.

quinta-feira, outubro 12, 2006

E-learning (Optimismo)

Deixo aqui o exemplo da plataforma de E-learning que temos a funcionar no Politécnico de Tomar.
Deixei aberto em período experimental o acesso a visitantes às disciplinas de:
- Materiais Arqueológicos e Etnográficos
- Introdução à Gestão do Território e do Património Cultural.
(Não esquecer de quando pedido o login, pressionar o botão "Entrar como visitante")
Os conteúdos vão aparecendo progressivamente ao longo do ano lectivo.
Neste momento como estamos no começo ainda não está dísponivel muita coisa (para não dispersar).
Bom proveito!!

Pessimismo Superior

"A ausência de propostas realistas é disfarçada com uns laivos de exigência moral: restaure-se a autoridade na sala de aula, proclame-se que só se aprende com esforço e peça-se sangue, suor e lágrimas. A partir daí, tudo se torna fácil: os professores serão óptimos e os alunos excelentes, saberão decorar como coreanos e inovar como finlandeses, respeitarão a autoridade como em Singapura e usarão capital de risco como nos EUA."

Rui Tavares, Publico 7/10/2006, dísponivel online no blog Pobre e mal Agradecido

Mais uma vez na sua crónica o Rui Tavares foi certeiro. Expôs aquilo que é de facto um fado nacional, que é o pessimismo e negativismo subjeacente às propostas reformistas. O princípio é simples: Tudo está mal, tudo tem de ser mudade. Acho que a frase estará próxima do popular "Isto vai ter de levar uma grande volta". A qualidade das propostas é medida pela dimensão da volta. Quanto maior, melhor.
Nunca nada está bem, porque nunca esteve.

Ontem estive uma reunião sindical no Politécnico de Tomar. Está bom de ver a situação que a reforma no Ensino Superior colocou uma grande quantidade de pessoas. São pessoas e não números, ou qualquer entidade abstracta. Pessoas que têm vidas, filhos, contas para pagar, responsabilidades como qualquer de nós. Para a maioria (esmagadora maioria) o final do seu contrato não representa só o desemprego. Representa também a inexistência de qualquer fonte de subsistência no momento imediatamente a seguir ao final do contrato. Não têm direito a qualquer subsídio de desemprego, vivendo na mais absoluta precariedade.
Eu não sei se têm consciência do que é ser despedido. É já de si uma situação difícil onde somos deparados com um falhanço, que encaramos como nosso. Perguntamo-nos o que fizemos de errado. Passamos a uma situação em que tentamos recuperar, procurando outras soluções. O subsídio de desemprego é a almofada que nos separa de uma situação social de desepero.
Estas pessoas não têm almofadas. Chocam com a realidade em que de um momento para o outro não têm qualquer fonte de subsistência.
E perante esta situação dramática choca-me um comportamento nacional que é o puxar para baixo. Faz-me sempre lembrar aquele sketch do Gato Fedorento em que duas velhas concorrem para ver qual a que tem a maior doença. No caso, existe sempre que venha dizer que também ele está numa situação precária, como muitos, que "é a vida", "habituem-se". Aliás o sketch exacto porque expõe o ridículo deste comportamento é o do filme "A vida de Brian" em que Brian na prisão e à beira de ser crucificado é chamado de privilegiado por um outro prisioneiro mais velho que está na cela ao lado.

O ataque à classe docente está a ser desencadeada utilizando esta imagem do privilegiado. Numa sociedade com baixa qualificação, os docentes são ainda vistos com o mesmo ódio de classe com que se olhava perante o Sr. Doutor, no tempo do salazarismo. Nesse tempo a posição representava a ligação com o regime e logo o privilégio. O próprio desprezo com que a classe privilegiada pelo regime olhava para o resto da população ajudou a establecer o classismo. Esse mesmo classismo continua a ser um dos maiores problemas da sociedade portuguesa. Não creio que o discurso do privilegiado ajude a por fim a este problema, bem pelo contrário.
Num post anterior referi como me parece incrível que hoje o ataque aos direitos fundamentais se mascare de luta pela liberdade e igualdade visando o fim do privilégio. O modo como se usa o termo é...

Sem dúvida quando se quer reformar do zero é para esse mesmo zero que avançamos.
No Ensino Superior não é bem para zero. É para um. Quem está atento sabe que o protocolo com o MIT represente exactamente esse um. Privilegiado????

P.S. Mais uma nota. No preciso momento em que escrevo este post a RTP1 passa a notícia da greve nacional. Primeira reportagem: os alunos não tiveram aulas, os pais a trabalhar...
A razão da greve não interessa. Os problemas que ela causa é que são notícia. Mensagem clara "Quem trabalha é que é prejudicado pelas greves". Inocente????

quarta-feira, outubro 11, 2006

Little Britain


Fonte You Tube.

Para acabar com a sequência sobre Inglaterra, nada melhor do que a excelente criação de Matt Lucas e David Walliams: Little Britain.
É de facto o puro génio do humor britânico, algo que eles sabem fazer como ninguém: gozar consigo próprios.
See you in December Britain!

segunda-feira, outubro 09, 2006

Stonehenge: Making Space


Fonte: You Tube

Stonehenge reflecte um centro da Britanidade.
Nos finais dos anos 80 e durante os anos 90, o sítio foi também um foco de tensões que inspiraram um dos mais interessantes livros de Barbara Bender (1998).
Houve uma clara confrontação (que envolveu uma enorme força policial) entre o sistema e a sua visão vs a chamada multiculturalidade (pela data, o vídeo demonstra como esta última acabou por vencer).
Perceber esta confrontação, as suas ligações políticas, o seu contexto, é também perceber grande parte do confronto entre o que foi apelidade de arqueologia processual vs arqueologia pós-processual.
Creio que hoje já começamos a ter distância suficiente para analisar tudo isto.
Do meu ponto de vista esta confrontação teve o seu tempo e hoje assistimos mais ao nascimento de uma diversidade de ideias que dificilmente pode ser enquadrada numa única linha.
Creio mesmo que a "dwelling perspective" é algo que começa a afastar-se de qualquer pós- como um todo. A sua ligação com a fenomenologia abre caminho a um discurso que sabe ultrapassar a dicotomia sujeito/objecto, nomeadamente através dos conceitos de Ontico e Ontologico.
Infelizmente vejo que no futuro muitos irão legitimar o poder da sua visão pelo seu conhecimento de Heidegger (considerando-se supostamente superior aos demais). Para esses gostaria de lembrar que Heidegger é também a apologia da possibilidade, sendo que se houve algo que claramente ganhamos da pós-modernidade foi o sabermos que nenhuma visão se deve impor sobre outra.
Saber crítica sem impor é uma prova de inteligência. Sabermos viver em comum é um prova de maturidade.
De Stonehenge podemos neste caso tirar uma grande lição.

BENDER, B. (1998) Stonehenge: Making Space. Oxford: Berg Publishers

domingo, outubro 08, 2006

Archaeology Today



Já agora um "insight" ao que foi uma certa arqueologia britânica num passado recente.
Não é dos melhores sketchs dos Monty, mas tem um sentido crítico mordaz... notem bem o chamado BBC English do personagem do John Gleese, ele reflecte algo de que a arqueologia britânica se emancipou.

Contract Archaeology

Prosseguindo na ligação com o mundo da "Contract Archaeology" britânica, ficam aqui alguns links de interesse:

Brithish Archaeological Jobs Resource
A Newsletter do BAJR: The Digger (ver com especial interesse a última notícia relativa à revendicação de melhores salários)
O Intitute of Field Archaeologists algo semelhante à nossa Associação de Profissionais de Arqueologia (aconselha-se a visita aos códigos de conduta, bem como aos guias de trabalho de campo)
O Council for British Archaeology
A Rescue - The British Archaeological Trust

Nem tudo é perfeito. Lá como cá existem problemas vários e a Inglaterra está longe de ser o Paraiso.
Falta de facto uma obra crítica de fundo sobre o panorama da arqueologia contratual inglesa, existindo de qualquer modo relatórios quer da tutela, quer das associações com vista a ilustrarem o cenário.
Exemplo disso é a obra: Hunter, J, e Ralston, I (eds) 1997 Archaeological resource management in the UK. Sutton:IFA
Fica a informação sobre uma realidade (algo) diferente.

sábado, outubro 07, 2006

Tempo

"For what is time? Who can easily and briefly explain it? Who can even comprehend it in thought or put the answer into words? Yet is it not true that in conversation we refer to nothing more familiarly or knowingly than time? And surely we understand it when we speak of it; we understand it also when we hear another speak of it.

What, then, is time? If no one asks me, I know what it is. If I wish to explain it to him who asks me, I do not know. Yet I say with confidence that I know that if nothing passed away, there would be no past time; and if nothing were still coming, there would be no future time; and if there were nothing at all, there would be no present time.

But, then, how is it that there are the two times, past and future, when even the past is now no longer and the future is now not yet? But if the present were always present, and did not pass into past time, it obviously would not be time but eternity. If, then, time present--if it be time--comes into existence only because it passes into time past, how can we say that even this is, since the cause of its being is that it will cease to be? Thus, can we not truly say that time is only as it tends toward nonbeing?"

Santo Agostinho de Hipona, Confissões, Livro 11 cap. XIV. (Traduzido e editado por Outler, A.C, 1994)

Qual a imagem que podíamos atribuir ao tempo?

O Tempo é algo que está profundamente ligado à arqueologia. A noção que aplicamos de tempo afecta profundamente o nosso trabalho.
O exemplo mais fácil é a distinção entre datação absoluta e relativa.
O próprio modo como se trabalha com qualquer destes tipos de datação (e o saber trabalhar com as datações) condiciona o modo como chegamos a determinados resultados.
Todos sabemos que a periodização e o sistema das Três Idades conduziram a uma visão redutora do passado que condicionou a arqueologia moderna, conduzindo-a numa narrativa evolucionista, numa linha que desembocava na civilização.
As perguntas que eram feitas em Pré-história tinham haver com "a Origem de".
Ao mesmo tempo os períodos eram vistos como entidades quase estanques, encerrando-se as pessoas em cercas de tempo, pulando-se de etapa em etapa. Ontem fui Neolítico, hoje Calcolítico, amanhã...
Pensar o Tempo como uma linha tem muito que se lhe diga.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Pratical Archaeology


Fonte: You Tube

Um exemplo de uma empresa de arqueologia inglesa: A Wessex Archaeology.
No caso temos um video relativo ao um pequeno curso de arqueologia (chamo a atenção para a idade dos participantes).
Novamente vemos como a arqueologia empresarial pode ser diferente.
Da recente visita a Inglaterra e da conversa com os colegas ingleses, eles destacaram como a originalidade do trabalho das Unidades de Arqueologia era parte do segredo do seu sucesso.
Muitas delas estão ligadas aos departamentos universitários (o que não é pecado.
Há exemplos de uma boa interacção que resulta proficua, como na Oxford Archaeology Unit. Também se deve dizer que muitas vezes essa ligação não passa do papel, sendo que um bom departamento não gera uma boa unidade e vice-versa.
Agora o conceito em si é que é muito diferente. O que é uma unidade de arqueologia? Para que serve?
A própria ideia do que é um colaborador na empresa e o que dele se pretende (ao nível da qualificação) é muito diferente.
É a tal coisa, trata-se de uma realidade diferente. Mas... aprende-se muito.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Acts of Discovery



Fonte: Arkeo

Está dísponivel online o livro de Matt Edgeworth: Acts of Discovery:An Ethnography of Archaeological Practice.
Basta seguirem o link para terem acesso ao livro.
Já agora aproveitem para dar uma vista de olhos ao que o grupo de Stantford (ligado ao Michael Shanks) anda a fazer.
É sem dúvida uma arqueologia muito diferente do que estamos habituados por cá (alguns mais do que outros).

Já agora uma nota em inglês sobre quem é o Matt Edgeworth.

"Matt Edgeworth directs and manages archaeological projects in a commercial environment. He is currently working freelance for archaeological units in the United Kingdom. His doctorate in Archaeology and Social Anthropology was obtained from the University of Durham, and he is the author of numerous excavation reports and urban surveys. The account of his ethnography of an archaeological excavation in England was recently published as 'Acts of Discovery' (BAR, Archaeopress 2003)"
Fonte: Altamirapress

Pobres e mal agradecidos

As crónicas de Rui Tavares no Publico são um dos meus momentos favoritos da semana. Elas são publicadas ao Sábado e eram uma das minhas razões principais para comprar o jornal, juntamente com o suplemento Mil Folhas.
Todas as semanas tem sido interessante ver como na mesma página duas colunas divergem. Do lado direito o inevitável, do outro lado o desmascarar dessa suposta inevitabilidade.
Algo profundamente ideológico que mostra bem as diferenças, até pela qualidade da informação de base e pelo modo como essa informação é exposta (ver a Helena Matos falar sobre a realidade espanhola deixa qualquer um de cabelos em pé).
Infelizmente recentemente o Publico decidiu reorganizar os seus suplementos. Ao Sábado ficou uma razão menos para comprar o jornal, o Mil Folhas passou para a sexta, ao que se veio a juntar o aumento de preço, num claro caso em que mais (Inimigo Publico, Fugas, Xis) é menos.
Descobri recentemente que as crónicas do Rui Tavares estão livremente disponíveis na Internet no seu blog “Pobre e mal agradecido”. Deixo aqui o link porque são de facto oxigénio perante a asfixia.
No mesmo blog aconselho a recente tradução de um texto de Ralf Dahrendorf sobre o “Novo Autoritarismo”. Dá que pensar e ainda bem que ainda existem coisas que dão de pensar. (Pensar mesmo! Se alguém vir o subtítulo da revista Xis e o conteúdo da mesma, percebe que pensar é um verbo… muito abrangente).
Não acredito nas supostas inevitabilidade que nos estão a vender. Acho que estão muito próximas das ideias do século XIX da inevitabilidade de um estado positivo.
Já sabemos que alguém nos andou a mentir e que essa mentira serviu para um ataque às liberdades e garantias universais.
A paranóia tornou-se justificada pela guerra no Iraque e temo que a mentira continue, tal como o ataque aos direitos, liberdades e garantias (veja-se como passam a ser designados como privilégios).
Neste sentido em que as coisas vão (direitos como privilégios) identifico-me com o Rui Tavares: somos pobres e mal agradecidos.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Conservação

"Conservation is anything but that: it is a very active and deliberate process of materialization; it ‘conserves’ nothing but ‘produces’ everything, as we can learn from Bruno Latour's work."
BUCHLI, VITOR (2002) The Material Culture Reader. New York: Berg Publishers, pág. 14.

Vejam já agora as regras relativas ao POC.
Creio que sem dúvida que o problema essencial está nesta diferença de visão sobre o prefixo arche em arquitectura e arqueologia.
Para uns é imposição, para outros é origem.
O Património como construção é um assunto que acho que merece um profundo debate. Uma "building perspective" face a uma "dwelling perspective".