segunda-feira, outubro 30, 2006

Sindicatos satisfeitos com mestrado obrigatório para professores IV

Fiquei absolutamente espantado com um comentário no outro dia no Desassossegos, sobre a questão de que não se iria exigir mais qualificação porque não se iriam mexer com direitos adquiridos.
Sou uma pessoa que aqui tem sempre demonstrado a ideia de defesa de direitos e como no estado actual das coisas se mascara fim de direitos básicos com fim de privilégios, mas há que ter em atenção certas coisas. Jamais a não qualificação pode ser encarada como um direito. E se alguém ficam incomodado com esta afirmação convém que leia o post até ao fim.
O direito de um trabalhador é à qualificação e é por essa mesma razão que qualquer Sindicato (e vejam a notícia) adere logo e sem reservas a tudo quanto possa significar a melhoria das condições dos trabalhadores. Nesse sentido está em absoluto a defender os seus direitos.
Agora lógicamente que o apelo à qualificação não pode ser feito pelo condicionamento a piores condições de trabalho, ou à precarização do emprego. Tem de ser justamente o contrário. E neste processo compete às próprias entidades empresariais e aos gestores como um todo, implementarem estratégias de qualificação nos seus locais de trabalho. Ao estarem a qualificar os seus assalariados, as empresas estão a investir na melhoria da sua qualidade e dos seus recursos humanos. Isto tem de ser feito com incentivos positivos (avaliação e atribuição de mérito, progressão na carreira) e não no sentido negativo (despedimento, inibição de actividade).
Lógicamente que num mundo de baixos salários, visto como única solução para a prática de um produto de baixo custo (um elemento de competitividade essencial mas não único), torna-se quase impossível implementar isto. Mas quem disse que vencer a batalha pela qualidade era fácil?
Veja-se por exemplo os produtos informáticos. O consumidor nem sempre compra o baixo custo. Existem diversas gamas, destinadas a mercados diferentes. E esta ideia é válida do hardware ao software (afinal quantas pessoas é que optam pelo Linux em detrimento do MacOS X?), passando pela electrónica (câmaras vídeo, fotografia digital), até aos electrodomésticos.
O mercado do Património não é nem pode ser diferente. Este país não pode ficar refém da mediocridade. Muito é exigido às empresas, mas no mundo de mercado são de facto elas que podem marcar a diferença, afinal são elas o suposto motor da economia.
As empresas de arqueologia não podem ficar a continuar a olhar para as Universidades como torres de marfim onde supostamente se desenvolve a verdadeira investigação. Se elas próprias sabem que não é assim convém que não legitimem este tipo de discurso (certas contestações assumem a forma de legitimação). São elas no seu dia-a-dia que podem marcar a diferença pela qualidade do seu trabalho (algumas compreenderam isto desde a primeira hora, outras irão compreender mais tarde ao mais cedo). São elas que podem possuir um quadro de pessoal técnico altamente especializados, gente categorizada que desenvolveu teses de mestrado e doutoramento sobre determinados assuntos. Nesse dia as empresas estarão prontas a serem elas a marcar a agenda. É para isso que têm de trabalhar.
Esperar que um empreiteiro ou um engenheiro civil compreendam isto é quimérico. Mas em todos os países existe sempre quem tem vistas curtas e olhe apenas para o seu bolso e quem saiba sempre reconhecer um bom trabalho.
Se as empresas continuarem presas a um mercado mediocre que exige a mediocridade, nunca sairão dessa mesma lama (quem disse que o mercado era bom e que exigia sempre qualidade?). Por essa mesma razão é que acho que neste caso convinha que as instituições de ensino superior assumissem também um outro papel, intervindo para que se possa ajudar à existência de trabalhos de qualidade. Condenar apenas as empresas e ficar a ver é bonito para "treinador de bancada".

2 comentários:

Anónimo disse...

Faço a ronda, não por imperativos menos concebíveis, mas porque este blogue é duma estética irrepreensível, comprometido com a beleza da vida, a merecer mais e constantes visitas, porque aqui respira-se serenidade, e sinto-me, dum modo agradável, satisfeito, porque a excelência não tem preço, simplesmente, apreço. Bom fim-de-semana.

Gonçalo Leite Velho disse...

Caro Jofre Alves

As suas palavras são de uma amabilidade que me é difícil retribuir. Agradeço-lhe francamente o comentário. Tudo o que descreve nele é aplicável em absoluto aos seus blogs.