segunda-feira, maio 29, 2006

Calling all Angels



Fonte: http://www.therhetoric.com/images/mie_tree.jpg

Todas as semanas há um momento onde os sentimentos se sucedem.
"7 palmos de terra - 6 feet under" abre-nos à emoção. Nas suas formas estranhas encontramo-nos e assim habitamos essa desconforme fluidez dos nossos dias.
Alan Ball é perito em encontrar o que jaz dentro de nós.
Tenho esse desejo que me persegue deste contactei com a beleza de Ball. É no Sentimento que reside a chave da mensagem. Envolver o espectador, criar o mundo que ele habita, não apenas na imagem, mas no som, no ritmo, na envolvênica. A mensagem passa por aí.
O que Ball faz ultrapassa as dicotomias Razão/Emoção, Teoria/Prática, Ciência/Arte. É apenas... sublime. Sublime como uma canção...

(...)

a man is placed upon the steps, a baby cries
and high above the church bells start to ring
and as the heaviness the body oh the heaviness settles in
somewhere you can hear a mother sing

then it's one foot then the other as you step out onto the road
how much weight? how much weight?
then it's how long? and how far?
and how many times before it's too late?

calling all angels
calling all angels
walk me through this one
don't leave me alone
calling all angels
calling all angels
we're cryin' and we're hurtin'
and we're not sure why...

and every day you gaze upon the sunset
with such love and intensity
it's almost...it's almost as if
if you could only crack the code
then you'd finally understand what this all means

but if you could...do you think you would
trade in all the pain and suffering?
ah, but then you'd miss
the beauty of the light upon this earth
and the sweetness of the leaving

calling all angels
calling all angels
walk me through this one
don't leave me alone
callin' all angels
callin' all angels
we're tryin'
we're hopin'
we're hurtin'
we're lovin'
we're cryin'
we're callin'
'cause we're not sure how this goes

Jane Siberry with K.D.Lang, Calling All Angels

sexta-feira, maio 26, 2006

XV Congresso da UISPP



Este vídeo será exibido em breve em vários locais de Lisboa. Deverá também passar, mas já com som, na RTP2.

A Matriz



Vortex
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Image:Airplane_vortex_edit.jpg

A Matriz é um vortex que nos puxa para seu interior, rumando ao ponto. Assim só pode haver uma verdade, tal como na trigonometria.
O espaço é ocupado à vez, segundo a lei da contigência.
O que saia fora do turblhão é proscrito e condenado a nada saber, pois a verdade é exclusiva da Matriz. O seu código é a evidência.
Nadar contra a sua corrente acarreta esforço e há mecanismos que tratam de nos abater.
A Matriz condena: o meu mundo é a minha prisão.
Será que alguma vez lhe poderíamos escapar? Obviamente...
E se não obviar?

quinta-feira, maio 25, 2006

Lendo



Gerhard-Richter, 1994, Lesende, óleo sobre tela.
Fonte: http://www.gerhard-richter.com/

Mais um exemplo do jogo entre a foto e a pintura.
Reporta-nos a um outro quadro: "Mulher de azul lendo uma carta" de Vermeer.
Da carta ao jornal. Segue-se o fax, o email, o sms... (a profusão de meios tal como no livro "A Pele da Cultura" de Derrick de Kerckove, um herdeiro de McLuhan).
E significados que vão passando de ponto a ponto acrescentados desses novos contos (uma magnifica conferência de Henrietta Moore).

O Meio é a mensagem e tudo é simulacro.

A Matriz faz-nos acreditar que temos bases sólidas de conhecimento, que a ordem existe e que se multiplica, que evolui pela complexidade. É a força que nos suga para um ponto único que se esvai no espaço.
Eventualmente um dia chegariamos lá e tudo se revelaria, num apocalipse em que Deus tomava parte.
Na Matriz só existe um discurso, ainda que saia por várias vozes. A pluralidade é o impossível, já que a verdade recai num Uno contigente.

(Terminaram as IV Jornadas de Gestão do Território. Em dois meses, um par de alunos conseguiu construir algo de muito bom. Dois meses - duas pessoas a organizar! Um modelo inovador, criatividade acima de tudo e apoio essencial de todo o Departamento. Parabéns!).

segunda-feira, maio 22, 2006

Desertificação e Arqueologia



Gerhard Richter, Bybillede PL, 1970
Fonte: http://kunstonline.dk

Gerhard Richer abriu uma série de caminhos na relação entre a pintura e a fotografia.
Em Serralvez está neste momento uma exposição com quatro artistas que exploram esta relação. HAVEKOST, KAHRS, PLESSEN, SASNAL - IMAGENS EM PINTURA.

Depois de Foz Côa, eis que amanhã temos as IV Jornadas de Gestão do Território e do Património Cultural. Tema principal a Desertificação. Apareçam (é um convite amplo já que se trata de uma iniciativa que não requer inscrição).

quinta-feira, maio 18, 2006

Ordenamento do Território

"Apostar nas metrópoles

O coordenador da equipa que elaborou o PNPOT, Jorge Gaspar, catedrático de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, defendeu ontem uma aposta em grandes centros urbanos, com o consequente desenvolvimento de recursos, como forma de melhor enfrentar desafios actuais. E deu como exemplos bem sucedidos o peso da metrópole parisiense em França e o caso da Dinamarca, que “é um dos países mais bem ordenados e nunca esteve preocupada com o facto de um terço da sua população viver na capital”.
Enumerou também as principais dificuldades sentidas na elaboração do documento, que é o primeiro programa deste tipo e “não tem equivalente noutros países”.Além disso, considerou que o mandato para elaboração do documento era “excessivamente pormenorizado” e queria “colocar tudo” neste programa. Outro aspecto criticado foram as vicissitudes ligadas a um projecto decidido em 1999, lançado em 2002 e que passou por cinco governos."

Fonte: Publico online

O tema das Jornadas de Gestão do Território deste ano é a Desertificação. Não era a minha primeira escolha enquanto tema, mas de facto vem mesmo a propósito (honra seja feita ao Luiz, que deu a ideia).
O programa está já dísponivel aqui
Acompanhei o esforço que tem vindo a ser feito em locais como Mação, para fazer frente ao abandono e à desertificação, lutando contra incêndios, falta de investimento, ou o envelhecimento da população.
Na mesma altura em que a União Europeia tenta travar o fenómeno, existe quem em Portugal defenda um outro modelo de desenvolvimento.
Creio que a posição do Professor Fernando Gaspar não parte do nada. Segundo se afirma parte-se de estudos de apoio à decisão desenvolvidos ao longo de um certo tempo.
É um bom tema para debater de um modo informado. Esperemos que em Tomar se abra um pequeno espaço para isso, nesta iniciativa que pertence ao nucleo de estudantes de gestão do território.

Yo, Picasso



Delia Brown, 2005 - Yo, Picasso
Fonte: http://www.damelioterras.com/artists_art.asp?art_code=60

Gosto do caracter provocatório que está patente nesta obra. A provocação pode nem sempre ser uma coisa negativa. Há um sentido de afirmação (construção de uma obra e de um eu), que passa também pelo posicionamento face a um interlocutor.
Penso que é exactamente esta última figura que se assume como fundamental para o amadurecimento de um pensamento. O diálogo activo ajuda a compreensão de inconsistências, ao establecimento de pontes ou de divergências.
Os interlocutores são parte integrante da nossa obra e a sua qualidade reflecte-se proporcionalmente.

Estou à espera de autorização do site anamnese para poder postar imagens de duas das minhas obras preferidas:

Luís Lima, 2002, Não tenho memória deste lugar. Paisagem em construção

Arlindo Silva, 2000, Pedro

Há claros paralelos entre a obra do Arlindo e da Delia Brown.
O Luis está neste momento a fazer uma tese de mestrado sobre desenho em arqueologia.
Quer o Arlindo quer o Luis são apenas um entre muitos exemplos de uma dinâmica que existe já há algum tempo no Porto e que tem vindo a afirmar-se progressivamente.

Uma nota ainda para o Congresso que se está a realizar durante esta semana em Vila Nova de Foz Côa.
Assim que poder rumo ao Norte para poder participar na iniciativa. No Sábado apresentamos uma comunicação.

quarta-feira, maio 17, 2006

Reading in the red room



Delia Brown, Reading in the Red Room, 2002, acrylic and oil on board

Fonte: http://www.damelioterras.com/artists_art.asp?art_code=60

terça-feira, maio 16, 2006

Ilustração





Estas ilustrações fazem parte do portfólio da Guida Casella.
Conheci a Guida há algum tempo e creio que tem um potencial enorme. Sobretudo porque não se ficou pelo modelo de ilustração vigente do desenho técnico (uma espécie de castração que se impôs e que não deixa espaço para outra formas de representação).

Se quiserem ver mais sobre o trabalho da Guida, façam uma visita ao seu blog: http://www.archil.blogspot.com/
Vai por certo valer a pena.
Creio que mesmo sobre as condições difíceis de terem de viver como "freelancers" existe um grupo de artistas que pode dar um contributo muito válido à arqueologia.

segunda-feira, maio 15, 2006

O Dançarino



Schiele, Egon, 1913: O Dançarino - Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:Egon_Schiele_011.jpg

domingo, maio 14, 2006

A Fonte




Egger-Lienz, Albin: A fonte, 1923; Óleo sobre tela.

Um amigo diz-me que as imagens são o alimento do discurso.
Há certos discursos que nos despertam imagens.

sexta-feira, maio 12, 2006

A carroça de feno







Hay wain Hell


Bosch, Hieronymus: Haywain, 1485-90; oléo sobre painel (tríptico); El Escorial, Monasterio de San Lorenzo (ou Prado, Madrid), fonte: http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/bosch/haywain/

A motivação de competir, de ter um lugar de trabalho precário, de estar em constante sobressalto está de facto na ordem do dia. Aliás essa natureza humana só foi episodicamente interrompida pelo sonho “calão” de um Estado Social, no qual as pessoas poderiam usufruir de bem-estar, vivendo num modelo social diferente, contrário à natureza humana, que conduz à evolução pela competição.
Uma visão desse paraíso motivador é a Idade Média. Do camponês ao senhor feudal, todos estavam motivados, através da competição pela sobrevivência, numa época de condições duras, sem que tais condições estivessem de modo nenhum ligado às relações sociais que privilegiavam a manutenção de um status quo.
Quando Hieronymus Bosch pintou esta sua visão do paraíso, estaria por certo ofuscado pela bruma dos dias, não compreendendo a vantagem competitiva da motivação pela sobrevivência. Se o paraíso estava ali na terra, na competição, na valorização pessoal de se ser premiado, por ser o melhor, o sobrevivente (afinal segundo a evolução é sempre o melhor que sobrevive, ou estará a evolução errada?). Porque a pintou ele no céu, face a um mundo de loucura, desregrado. Se viviam numa Idade d'ouro? Se havia uma lei que se assumia perante todas as outras: a lei do mais forte? Como poderia isso conduzir à loucura?

Quando há anos Vasco Pulido Valente afirmou que vivíamos num mundo perigoso, nunca pensei que pudéssemos chegar ao estado actual. Infelizmente não auguro bons tempos adiante. Quando recentemente falava com uma amiga indiana, que trabalha em engenharia informática, compreendi o testemunho em primeira pessoa do que é esta globalização. Por um lado alguns sonharam com as praias nas boulevard de Paris, ignorando (in)conscientemente que esse mesmo sonho era alimentado por um desequilíbrio mundial. Por outro lado vejo que esta mudança teve por base uma escolha. A escolha do capital, que preferiu a mão-de-obra barata, mas extremamente qualificada (notem como estas duas coisas passaram a conjugar-se, quando antes pareciam opostas), em vez da engenharia bem paga formada no MIT. Mas nem tudo o que parece é, e o MIT tornou-se ele próprio uma empresa, da qual saem quadros que formam outras empresas. Á Europa do estado social restou o papel de ser atropelada, ao não saber reagir. E agora reage a reboque, procurando implementar o: modelo de sucesso.
A nivelação faz-se por baixo. Como numa teoria de vasos comunicantes, a riqueza flúi agora noutros sentidos. A geração dos “privilegiados” terminou.
Na sociedade da simulação, é notória a fuga para o desejo, cúmulo metafísico, hoje paraíso terrestre (Bahamas, Ocidente, lugares míticos).
A fluidez arrasta tudo e quem parar para reflectir será arrastado e penalizado sob a pressão da lei da sobrevivência (o inevitável estalo da realidade).
O capital fluído não permite nem aos mais capitalizados esmorecer, pois parar é morrer, é ser ultrapassado. Este é o mundo do empreendimento e o premiado é o “entrepreneur”, vulgo empresário.
Quem não está com a evolução, está contra a evolução. É o pessimista.
Nunca fui um “homem de esquerda” e não me revejo na atitude elitista do “bem pensante”. Mas quando o mundo dá uma guinada assim, quando vemos a matriz que se instala de um modo evidente tapando qualquer caminho que não seja o da sua vontade, quando uma simulação se assume como única e totalizante, na mesma época em que todos os meios estão ao alcance, em que a rede é o paradoxo que escraviza e liberta, é impossível não olhar e ver, que existem de facto outros caminhos, que nunca serão totalmente livres, porque tudo é matriz, mas temos de reclamar para nós o poder de fazermos a matriz que queremos, que nos será melhor, na consciência de que felicidade não é no céu existe, e mesmo aqui na terra e estabelece-se em momentos fugazes, virtuais, que gostaríamos de ver como eternos.

quarta-feira, maio 10, 2006

Por um TAG nacional

Há um sonho que penso poder ser partilhado por todos. Há um momento que se reveste de oportunidade.
Num blog ao lado sugeri a questão de um TAG português. E parece que muitos dos que têm participado no debate do arqueo-blog também concordam.
Esse mesmo debate veio a demonstrar outra coisa: maturidade.
Acima de ataques pessoais, com elevação, têm vindo a ser trocados argumentos sobre diversos assuntos.
Penso que já é hora. Hora de construir algo diferente, onde se debatem temas prementes, onde todos são iguais e uns não são mais iguais do que outros. Um espaço onde todos se podem mostrar e ninguém tenha de se esconder.
O TAG não é apenas um espaço de “teoria”. É um espaço de debate alargado, onde se podem abordar diversas problemáticas. Um debate necessário.
Podemos construir isto. Devemos construir isto.
Como no TAG inglês, todos (mas todos mesmo) podem sugerir sessões, assumindo inclusivamente a sua coordenação. Todos mas mesmo todos, têm lugar a apresentar comunicações. Um espaço de todos, para todos, por todos. É essa a minha sugestão. Um espaço de explosão criativa.
A data: Abril de 2007, porque foi em Abril que surgiu o post do um arqueólogo e uma arqueóloga e porque Abril é Abril.
Está a ser tratada a questão do espaço onde irá ocorrer. Ofertas não faltam.
A comissão organizadora começa aqui online, onde os nomes são apenas nomes e não emblemas de poder.
Somos nós que fazemos isto acontecer, respondendo a este post, numa primeira fase e de futuro criando-se um espaço de colaboração.
A pedra fundadora está lançada. As respostas a este post servirão para começar a construir a iniciativa. Só depende de todos nós.

Para quem quiser saber mais sobre o TAG inglês pode ver a página oficial do grupo:http://antiquity.ac.uk/tag/index.html

Alguma bibliografia essencial:

BINTLIFF, J. 1991. Post-modernism, rhetoric and scholasticism at TAG: the current state of British Archaeological Theory. Antiquity 65: 274-8.

FLEMING, A. & M. JOHNSON. 1990. The Theoretical Archaeology Group (TAG): origins, retrospect, prospect. Antiquity 64: 303-7.

THOMAS, J. & C. TILLEY. 1992. TAG and "post-modernism": a reply to John Bintliff. Antiquity 66: 106-14.

terça-feira, maio 09, 2006

Jornadas de Gestão do Território e do Património Cultural




Mais pormenores em breve, incluido programa completo das actividades.
Uma iniciativa do Nucleo de Estudantes de Gestão do Território e do Patrmónio Cultural.

Educação como chave do sucesso - Nível de vida espanhol poderá igualar o alemão dentro de dois anos

Antes de transcrever esta notícia de hoje do Público gostaria de chamar a atenção para a manchete de há umas semanas: Socrates fecha cursos com menos de 20 alunos.

"Espanha poderá alcançar dentro de dois anos o mesmo rendimento per capita da Alemanha, que continuará ainda assim a ter o maior Produto Interno Bruto da União Europeia, indica um estudo do Deutsche Bank divulgado hoje pelo diário alemão "Die Welt".

O estudo do banco alemão dedica especial atenção ao acréscimo acentuado de novos licenciados em Espanha, situação que deverá permitir um crescimento de 50 por cento na produtividade do país em 2020.

Segundo o Deutsche Bank, a educação é o factor que mais prosperidade trouxe a Espanha, com mais investimento no ensino secundário e universitário, permitindo que 37 por cento dos espanhóis entre os 25 e os 34 anos tenham cursos universitários, comparativamente com os 20 por cento da Alemanha durante várias décadas.

"O motor do aumento do rendimento per capita não assenta nos investimentos nem no desenvolvimento demográfico, mas sim no capital humano do país", explica o estudo."

In Publico 9-05-2004 (noticia completa em: http://publico.clix.pt/shownews.asp?id=1256541&idCanal=63)

Holocénico - Desassossegos

Tinha eu apelado à memória do Holocénico e eis que ele estava online, com novo projecto: http://acv-desassossegos.blogspot.com/
Em boa hora regressou :) Paz à memória do Holocénico, que viva o desassossego.
Era bom se um dia o Arqueoblogo do Marcos também regressasse. Era um outro bom projecto. Mas de qualquer modo o arqueo-blogo do um arqueólgo e uma arqueóloga não se saiu nada mal num primeiro post :) Esperemos que o futuro também lhes sorria.

segunda-feira, maio 08, 2006

Ah, estes pós modernos...

Após o Pós-processualismo a teoria em arqueologia tornou-se obrigatória.
Embrenhando-se na mais avançada filosofia, tenta-se escavar para arranjar o último grito em epistemologia. Uma espécie de competição no qual a filosofia se tornou num gadget, em que importa ter a última versão, o último grito da moda.
E ele é Fenomenologia e Heidegger e Merleu-Ponty e Husserl, e não há texto que se preze que não se veja obrigado a citar Focault.
Quem irá ter o prémio de levantar o último paradigma?
Muitos já repararam nesta competição, que se tornou demasiado óbvia, e falam assim da “last minute theory” (vide a discussão num blog aqui ao lado - http://arqueo-blog.blogspot.com/).
Não é a primeira vez que temos uma discussão sobre teoria e arqueologia na blogosfera. O extinto Holocénico (hoje fossilizado em livro, outrora http://www.holocenico.blogspot.com/ paz à sua memória) abordava com alguma frequência questões deste tipo.
Teóricamente deixamos a prática, mas como todos já vimos não há distinção entre uma e outra.
Por exemplo, a prática da arqueologia empresarial é um paradigma em absoluto, com todos os problemas que se vêem. E não é o facto de uma empresa de arqueologia publicar artigos sobre teoria que lhe modifica o cerne (podendo mesmo ser uma máscara deveras interessante).

Thomas(2004) aponta algo que creio ser consensual:

"Archaeology, perhaps as much as any other discipline, is steeped in the implicit and explicit presuppositions of modern thought" (pág. 17)

E é perante esta inevitabilidade que o mesmo autor se questiona:

"Yet if archaeology could only have been generated in the context of the modern world, where does that leave it today?" (pág. 31)

E conclui pós-modernamente:

"The ethical task of archaeology is to bear witness to the other human being in his or her difference" (pág. 32)

A Arqueologia da contemporaneidade está longe de ser isto. Ela é a arqueologia do National Geographic, do documentário sobre a gladiadora romana que parte apenas de uma lucerna descoberta em Londres. Imaginação, virtualidade.
Esta pós-modernidade não advém do pós-processualismo. Vem do tempo da televisão e dos media, da sede pela grande descoberta, do conhecimento intimo do passado, da imaginação e mistério sobre essas entidades a que chamamos “nossos antepassados”. Algo que tem pautado desde sempre a arqueologia e que nela tem sempre sobrevivido e que tem vindo a ganhar cada vez mais força.
É assim que num Natal qualquer surge mais um menino Jesus, meio Neanderthal, estudado pelos melhores especialistas a nível mundial e tudo cola.
E agora o que acham que vai ser a arqueologia? Ou melhor o que é que iremos fazer com que seja esta coisa chamada arqueologia?

Continua – esperando sugestões

Thomas, J. (2004) – “Archaeology’s Place in Modernity” in Modernism/modernity vol.11 Nº1 - http://traumwerk.stanford.edu/projects/MichaelShanks/759

domingo, maio 07, 2006

Debate


Num blog ao lado (http://arqueo-blog.blogspot.com/) está a surgir uma discussão interessante, que parte de uma espécie de manifesto escrito num 25 de Abril.
Sinceramente acho que depois do boom da arqueologia empresarial, do Côa, do Alqueva, das fusões, do impacto pós-processual, etc, estamos finalmente a atingir um ponto de maturação em termos de arqueologia portuguesa. A discussão parece poder começar a tornar-se interessante. Talvez...

segunda-feira, maio 01, 2006

Evolução

Se há algo que considero ser um dos maiores progressos da arqueologia (e da ciência em geral), é o modo como nos últimos anos se rejeitou a visão de cúmulo da história e de evolução em geral (e sim a utilização do termo progresso é um paradoxo propositado).
A ontogenia sobrepôs-se gradualmente à evolução, numa crença de que o processo histórico (visto enquanto tempo que se sucede e que vai dando lugar ao que nós somos) é cheio de acasos onde nem sempre o mais forte sobrevive.
Aliás quer o acaso, quer a emergência, tornaram-se conceitos progressivamente dominantes, ligados a movimentos como a Teoria do Caos (1) ou ao conceito de Sistemas Adaptativos Complexos (2).
Pergunto-me sobre quantos membros da chamada comunidade arqueológica é que ainda vêm os homens da pré-história como os nossos tetravós, ou acreditam que por aqui nesta Península ainda vivem essencialmente os descendentes dos bravos Lusitanos.
Por outro lado, num mundo cada vez mais envolto nas teias do ideário neo-liberal (para os menos avisados, vide p. ex. o programa "Iniciativa" da RTP2, com o apoio do IQF e a sua apologia do "empreendedor" importação do "entrepeneur") é interessante ver como cada vez mais gente concorda de que a lei da selva não é um princípio universal, e muito menos um princípio universal.
Uma vez, no final de um jantar o Juan Manuel Vicent disse-me algo como "Isto não é inocente. É um combate entre nós e eles, para demonstrar que ao contrário do que eles dizem a História não apenas assim, nem tem apenas os seus princípios".
A frase está obviamente ligada a um marxismo evidente, com cunhos de leninismo (a figura "deles" - o inimigo). Aliás, penso que devido a este cunho leninista, houve uma especial preocupação numa dominância da visão marxista, com laivos de um totalitarismo, que não deixa de ser interessante e que é coerente com a visão de combate. Ainda para mais quando a própria visão marxista possui muito de evolucionista, o que daria uma interessante conversa sobre o que é a visão de Marx e a sua figura, num dos temas que mais aprecio e que trata de como nenhuma figura escapa às vicissitudes da sua época, mas isso é uma outra longa conversa.
Na sociedade do bem-estar é difícil não acreditar em conceitos como progresso e evolução. Quando os pais se preocupam por deixar um legado melhor aos seus filhos e a qualidade de vida cresce.
Em tempos à beira de crise, como são estes em que vivemos, advinha-se que quando vierem tempos piores, viram também outras visões, nos quais o conceito de progresso será claramente posto em causa. Dir-se-á então que o progresso não é continuo. Que varia num movimento pendular, feito de avanços e recuos.
De um teclado, em frente a um ecrã de computador declaro que não acredito em progresso, nem em evolução. De todo.
É verdade que nunca tivemos tantos meios à nossa disposição (e eu que adoro chips, adoro também esta proliferação de tecnologias e meios), mas não acredito que isso nos torne melhores.
Não acredito que sejamos uns privilegiados. Aliás, sobre esta noção remeto para o brilhante artigo do Rui Borges, publicada no Público de Sábado passado (29/4/2006) "Socorro, somos todos privilegiados". Os privilegiados não são aqueles que não passam fome, ou que não têm horários de trabalho de 14 horas semanais. Os que estão nestas condições são os carenciados (o que vai dar à crónica da Helena Matos, que está mesmo ao lado da do Rui Borges, na mesma edição). Nós quanto muito seremos os remediados, a quem os verdadeiros privilegiados acusam de, imagine-se, privilégio, procurando novos modos de escravatura. Porque não nos enganemos, hipotecar uma vida de trabalho é um modo de escravatura perante outrem. E se é verdade que seremos sempre escravos de algo e de outros, é bom que pensemos perante quem nos estamos a escravizar. Será um dos últimos privilégios dos remediados.
Para quem (re)constrói o passado, é bom que não sejamos politicamente inocentes, mas também é bom que o nosso empenho político seja claro e eticamente equilibrado (no sentido de não entrar já na paranóia (3)), porque se tudo é política, em ciência há politicas e politicas, políticos e políticos.

(1) sobre esta matéria vide: Gleik, John (1989) – Caos: A Construção de uma Nova Ciência, Gradiva
(2) vide Holland, J. (2002) – A ordem oculta, Gradiva e/ou Gell-Man, Murray (1997) O Quark e o Jaguar, Gradiva
(3) Paranóia - do Gr. paránoias, delírio s. f., doença mental caracterizada pelo conceito exagerado que de si mesmo faz o doente que se julga incompreendido e superior ao seu meio, tendo por vezes delírios de grandeza ou de perseguição; gír., (no pl. ) ideias persecutórias desencadeadas pelo consumo de drogas psico-estimulantes ou psicodislípticas (fonte Dicionário de Português online da Primberam).