domingo, outubro 29, 2006

Sindicatos satisfeitos com mestrado obrigatório para novos professores III

É óbvio que Bolonha vai trazer mais pessoas de volta ao Ensino Superior. Para alguns isso é negativo. Bom há sempre quem acredite que a formação foi feita uma vez na vida e agora tudo se resume a trabalhar, porque ali "no campo" é que está a escola toda.
Para quem tem bom-senso sabe que qualificar é um verbo que está sempre na ordem do dia. Na maioria das profissões a re-qualificação passa por frequentar novos cursos, insistindo sempre na formação (conheço poucos enfermeiros que achem que a escola está toda ali, no serviço de urgências e que na prática é que se aprende).
Mais uma vez a própria distinção entre teoria e prática manifesta-se como ridícula. Já imaginaram um enfermeiro que recusa um curso de suporte avançado de vida, porque afirma que é só teoria (e alguma vez um curso destes podia ser exclusivamente teórico)?

A arqueologia é apenas mais uma área como muitas outras que sofre do problema da qualificação não ser valorisada. Enquanto se insistir na dicotomia empresas/universidades não se vai muito longe. Pior ainda é quando as empresas se aproximam das Universidades supostamente para lhes ensinar o que devem fazer, ou vice-versa. Há uma diferença entre monólogo e diálogo, entre estabelecer condições à partida, ou estar aberto a trabalhar negociando uma solução. Infelizmente numa sociedade classista, o poder... torna-se tudo (sendo obstáculo a que se faça seja o que for).

Mas devemo-nos cada um de nós perguntar porque nos estamos a qualificar. O termo em si significa que nos tornamos melhores pessoas, com mais qualidades. Qualificar é possuir mais competências. É estarmos actualizados.
Neste país isso pode não significar mais trabalho, ou uma melhoria salarial, mas nós não nos podemos deixar afundar na mediocridade apenas pelo mercado, ou pelo país em que vivemos (assim "nunca sairemos da cepa torta").

Vou dar um caso muito concreto. Na visita a Inglaterra contactei com um ambiente de escavação muito diferente do que temos por aqui. As técnicas são algo diferentes, o modo de encarar o sítio, entre muitas coisas. Para mim, apesar de não ter nenhum diploma da minha estadia, aquela experiência valeu muito. Quem pensa que isso passou apenas por contactar com fichas de contexto diferentes, ou com duas estações totais a trabalhar sempre, está muito enganado. É a experiência como um todo, desde a escavação às conversas no Pub, passando pelo alojamento nas tendas e nos jantares na tenda grande. A Experiência!!!! (isto é apenas um enfâse fenomenológico, que espero que me perdoem).
Mas não é só em Inglaterra que acontece isso. O meu contacto com os meus colegas de Tomar também me abriu as portas com um outro modo de fazer arqueologia (a Ana Rosa continua a ensinar-me muita muita coisa). Todos os dias aqui deparo-me com experiências novas, numa troca rica de experiências. Por essa mesma razão as disciplinas que lecciono estão numa constante actualização. Aprendo imenso com os alunos, que muitas vezes encaro como colegas que apenas oriento. A diferença que me leva a orientá-los reside apenas num ponto: a qualificação. Não sou o sol que ilumina com o saber. Sou alguém que ajuda a aprender e nessa tarefa aprende também. Aí é que está o truque.

(continua)

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