terça-feira, janeiro 09, 2007

Greve - Strike (Britain 84-85)



Fonte: You Tube - Strike84 Images from the 1984 Miners Strike UK

Entre 1984 e 1985 a Grã-Bretanha assistiu a uma das maiores batalhas entre a esquerda e a direita. O governo de Margaret Thatcher decidiu retirar o apoio estatal à exploração mineira do carvão, decidindo privatizar o sector. Jogou forte num braço-de-ferro com os sindicatos.
Os mineiros representavam um estorvo perante a Nova Ordem da Nova Economia. As cicatrizes desta batalha ainda hoje se fazem sentir.
Esta batalha levou também a uma profunda reconversão do Partido Trabalhista (Labour Party). Deixando a sua base de grupos de pressão (sobretudo os sindicatos) o Labour partiu em busca da vitória nas urnas (ballot box). A ideologia socialista deu lugar a um New Labour, com a 3ª Via de Tony Blair.
Compreender o que se passou na Grã-Bretanha nestes anos serve como aviso para o que se ensaia no interior do espírito reformista português. As imagens da crise inglesa relembram-nos também o que se passou em Portugal em meados dos 80. O FMI, as greves, os despedimentos, os vidreiros da Fontela e da Marinha Grande, o distrito de Setubal, a Lisnave, a crise do governo PS-PSD...
As imagens das cargas policiais inglesas fazem lembrar aos portugueses que também há pouco tempo se agitaram bastões no nosso país. Não foi há muito. Ainda à pouco estavam frescas as imagens do bloqueio à Ponte 25 de Abril, das bastonadas aos estudantes em frente à Assembleia da Republica... também por aqui o poder da Nova Ordem impunha-se.
Lentamente os brandos costumes voltaram. O espírito foi quebrado pela imagem do bastão. A luta mudou de cenário. Ela é feita na T.V. como debate publicitário. Cada segundo conta, cada soundbyte.
E o que restou da luta dos mineiros ingleses. Bom, existe um artigo de um Centro de Investigação da Universidade de Sheffield que ajuda a compreender. Passados 20 anos a economia britânica ainda tenta recuperar desta mudança estrutural. As pessoas das minas não viram de modo nenhum a sua vida melhorar. A sua "reconversão" está ainda longe. A precariedade instalou-se neste regime do capitalismo fluido. A Grã-Bretanha da Revolução Industrial foi vencida pela globalização, mas os problemas mantêm-se estruturalmente num país dito desenvolvido (quem disse que por se ser primeiro mundo era tudo perfeito?).
Este foi o caminho da modernidade que abriu espaço à pós-modernidade.

A História é um campo de batalha, tal como as zonas mineiras da Grã-Bretanha, mas um campo de batalha é também uma lição. Fechar os olhos aos danos do reformismo Thatcher é no mínimo perigoso.
Nestes últimos anos Portugal reconverteu rapidamente a sua população activa da ruralidade aos serviços. A industrialização que conhecemos passou por locais como Vale do Ave, Cacia, S. João da Madeira, Marinha Grande, Setubal, Palmela, Sines. Tal como os mineiros ingleses ela encontra agora, 20 anos depois a globalização. Alguns chamam-lhe sina, outros fado.
A reforma globalizante vai mais além e é neste cenário que surge o Ensino Superior. Penso que graças a esta evocação compreende-se o que se passa também na Saúde, na Educação e nos demais serviços do Estado.
Era bom que se discutisse os assuntos de uma forma séria. É bom que se veja o que é a "reconversão" da economia. Já agora vejam a este propósito a obra "Commanding Heights" (existe também uma adaptação a série/documentário pela PBS). Apesar de ser basicamente propaganda corporativa ela ajuda a compreender que nada do que foi e está a ser feito é inocente. O destino de um certo Portugal parece estar marcado. Os custos...

3 comentários:

Gonçalo Leite Velho disse...

Esta é nova! Um bot que insere comentários para depois enviar a pessoa para um blog "How to earn money".
Eles inventam cada uma!

Anónimo disse...

A derrota (e a repressão) dos mineiros ingleses foi um dos marcos que abriram caminho à instauração do neoliberalismo num nível qualitativa e quantitativamente superior.

Parabéns pelo interessante blog!

Anónimo disse...

Bastante certeira a analise apontada. Creio que poucos consegeum uma forma tâo lucida de abordar o problema actual...
as.Telde