segunda-feira, maio 08, 2006

Ah, estes pós modernos...

Após o Pós-processualismo a teoria em arqueologia tornou-se obrigatória.
Embrenhando-se na mais avançada filosofia, tenta-se escavar para arranjar o último grito em epistemologia. Uma espécie de competição no qual a filosofia se tornou num gadget, em que importa ter a última versão, o último grito da moda.
E ele é Fenomenologia e Heidegger e Merleu-Ponty e Husserl, e não há texto que se preze que não se veja obrigado a citar Focault.
Quem irá ter o prémio de levantar o último paradigma?
Muitos já repararam nesta competição, que se tornou demasiado óbvia, e falam assim da “last minute theory” (vide a discussão num blog aqui ao lado - http://arqueo-blog.blogspot.com/).
Não é a primeira vez que temos uma discussão sobre teoria e arqueologia na blogosfera. O extinto Holocénico (hoje fossilizado em livro, outrora http://www.holocenico.blogspot.com/ paz à sua memória) abordava com alguma frequência questões deste tipo.
Teóricamente deixamos a prática, mas como todos já vimos não há distinção entre uma e outra.
Por exemplo, a prática da arqueologia empresarial é um paradigma em absoluto, com todos os problemas que se vêem. E não é o facto de uma empresa de arqueologia publicar artigos sobre teoria que lhe modifica o cerne (podendo mesmo ser uma máscara deveras interessante).

Thomas(2004) aponta algo que creio ser consensual:

"Archaeology, perhaps as much as any other discipline, is steeped in the implicit and explicit presuppositions of modern thought" (pág. 17)

E é perante esta inevitabilidade que o mesmo autor se questiona:

"Yet if archaeology could only have been generated in the context of the modern world, where does that leave it today?" (pág. 31)

E conclui pós-modernamente:

"The ethical task of archaeology is to bear witness to the other human being in his or her difference" (pág. 32)

A Arqueologia da contemporaneidade está longe de ser isto. Ela é a arqueologia do National Geographic, do documentário sobre a gladiadora romana que parte apenas de uma lucerna descoberta em Londres. Imaginação, virtualidade.
Esta pós-modernidade não advém do pós-processualismo. Vem do tempo da televisão e dos media, da sede pela grande descoberta, do conhecimento intimo do passado, da imaginação e mistério sobre essas entidades a que chamamos “nossos antepassados”. Algo que tem pautado desde sempre a arqueologia e que nela tem sempre sobrevivido e que tem vindo a ganhar cada vez mais força.
É assim que num Natal qualquer surge mais um menino Jesus, meio Neanderthal, estudado pelos melhores especialistas a nível mundial e tudo cola.
E agora o que acham que vai ser a arqueologia? Ou melhor o que é que iremos fazer com que seja esta coisa chamada arqueologia?

Continua – esperando sugestões

Thomas, J. (2004) – “Archaeology’s Place in Modernity” in Modernism/modernity vol.11 Nº1 - http://traumwerk.stanford.edu/projects/MichaelShanks/759

Sem comentários: