domingo, maio 20, 2007

Garage Band - Vicious Five



Não costumo revelar muito das minhas escolhas musicais. Elas são muito muito variadas, vão desde os cantares Bulgaros, a cantatas de Bach, enfim... muita coisa.
Mas se me perguntarem qual é o grupo português que mais gosto, não tenho dúvidas: Vicious Five.

sábado, maio 19, 2007

Com o mal do Outro...

"Para quem nasceu na década de 80, é muito mais difícil «chegar» onde «chegaram» o pai e a mãe e muito mais provável «ficar pior» do que «ficaram» o pai e a mãe"

Vasco Pulido Valente, Publico 19/5/2007

Começo já por dizer que não costumo concordar com Vasco Pulido Valente (VPV). Aliás, estou a ser brando, eu geralmente tendo a discordar fortemente com o VPV. Mas quando vi hoje a última página do Publico lembrei-me obviamente de um post que o Vítor colocou aqui há uns dias e que foi alvo de uma longa troca de comentários (a mais longa e participada deste blog).
Tive oportunidade de falar com o Vítor por telefone sobre esta matéria. Penso que o Vítor se esquece de algumas questões quando acusa as novas gerações de uma queixa vã.
Antes de no entanto abordar as queixas dos doutorandos e recém-doutorados (nos quais forçosamente estou incluído, mesmo que o Vítor não o tivesse em mente quando escreveu aquele post) convém esclarecer um ponto. É óbvio que o Vítor passou (e passa) por diversas dificuldades. Trabalhando com ele sei que é essencialmente um lutador. Ele é a imagem das palavras de um colega meu em Coimbra, que me disse que para se conseguir algo é preciso ser chato, muito chato. O Vítor é incomodo porque dá-se ao trabalho e chateia sobretudo quem está estabelecido. Por essas e por outras razões a sua vida não foi fácil.
Contudo, há uma frase que nós conhecemos e que rima bem com o mundo capitalista e individualista em que nos situamos hoje. Dizemos nós em português que: "Com o mal do outro posso eu bem". Pois foi exactamente isso que me lembrei quando li o post do Vítor. Há um erro fundamental na sua argumentação. O seu mal, as suas dificuldades e problemas não o legitimam. A exposição destas questões numa linha que o leva a situar-se num "topos" face aos demais, tornam-se palavras vãs quando o sentido é denunciar determinados comportamentos. A ideia é simples: "Comparem o que eu sofri e comparem o que vocês sofreram". A conclusão para mim é inevitável: Não há comparação.
Quando o Governo Sócrates denuncia os "privilégios" da função pública tende a seguir o mesmo discurso. "Já se comparam com as condições da maioria da classe trabalhadora? Pois é, vocês são uns privilegiados!". Já denunciei no Gundisalvus a perversidade desta comparação.
E parece-me que tudo isto se liga com uma perversidade imensa do mundo em que vivemos. Nunca como hoje tivemos acesso a tanto (argumento máximo de um capitalismo que avança sob a bandeira do progresso). Mas à minha volta eu não vejo progresso. Comparo com os meus colegas que trabalham na arqueologia empresarial e vejo um cenário triste, sem condições. São os jornaleiros do século XXI. Percorrem o país de lés a lés saltitando de empresa em empresa. No seu local de trabalho há uma lei fundamental: o mercado. O Património não está a saque, está em destruição massiva diariamente. Já denunciei tudo isto (e o Vítor também).
Haverá privilegiados? Sim é certo que os há. Há quem por exemplo consiga o sonho de fugir de tudo isto com uma bolsa da FCT e arranjar espaço (financeiro e temporal) para poder de facto trabalhar seriamente em arqueologia. Mas é uma fuga com pernas curtas. Quando termina a bolsa (de oxigénio) volta-se à asfixia do que é Portugal. Muitos seguem um rumo: mudar de país. Essa mudança é o sintoma de que em Portugal os emigrantes tornaram-se um pouco mais qualificados, mas o "salto" continua como a opção real para uma vida com melhores condições.
As Universidades são o espaço vergonhoso pontuado pela imobilidade. Não há lugar para os novos a não ser como clientes pagantes de cursos de doutoramento. O seu enquadramento na investigação dá-se em redes de clientelas que asseguram a figura do "chefe", mas que não garantem qualquer tipo de qualidade ou inovação (a não ser aquela que o "chefe" permita).
Podia continuar o cenário negro que é a arqueologia, como podia abordar a maioria das outras áreas de investigação. Como sabemos qualidade e inovação não são bem as características deste nosso país.
Poderia dizer que face a de tudo isto me sinto como um privilegiado. Estou numa instituição com uma dinâmica forte, que aposta em mim (embora não me possa conceder nem um dia de licença sabática, muito menos 3 anos). Entrei para ela pouco depois de conclui a licenciatura (directamente após cumprir quatro meses de serviço militar obrigatório, que quase impediram essa mesma entrada). Tive o privilégios de integrar redes europeias de excelência (que me ocuparam o tempo em que devia redigir o meu doutoramento). Vivo numa habitação própria com dois quartos (que custa metade do meu salário, estando endividado para o resto da vida). Possuo um veiculo (de 1993 com um defeito estrutural que me faz gastar mais em pneus que em gasóleo e cujo arranjo custaria o meu salário de 5 meses). Mas este discurso todo, para além de ser apenas um mero exercício de exposição própria, só me ajuda a perceber como o meu privilégio apenas depende de com quem me comparo e como me comparo. É absolutamente idiota.
No fundo isto parece-me aquele sketch do Gato Fedorento, do concurso de velhas para ver quem sofre do maior mal.

Dizer que esta é uma geração de privilegiados é perverso. Retirar o poder de alguém se queixar é mais perverso ainda.
Quem hoje tem 30 anos não viveu com o fascismo, mas também não sabe o que foi viver o 25 de Abril. Não pode entrar nessa aspiração de construir um Portugal de novo. Vive apenas nesse mundo de clientelas chefiadas por quem herdou o poder após a Revolução.

Mais uma vez penso que se percebe que só o capital beneficia com o discurso dos privilegiados. É que assim tem sempre uma desculpa para se justificar: "Têm de lutar pela vida meus amigos. É montar empresas, sobreviver, comer ou ser comido. São as regras do jogo. Lutem contra os interesses instalados. Tirem-nos de lá. Trabalhem!". Tudo muito bem premiado com gadgets, móveis, arte e luxo, alicerçado em crédito e exploração.
A defesa de qualquer outro modelo torna-se a defesa do poder instalado. Os comunistas lembram-se decerto bem de como eram acusados pela direita de defenderem o estado "do faz-nenhum". O capital sempre soube pintar a contestação de defesa de interesses instalados (não é essa a acusação que é feita aos sindicatos?).
Como todos sabemos, esta defesa da diferenciação positiva, meritrocracia selvagem, é a máscara de uma sociedade de privilegiados. Após a queda do Bloco, todos se rendem à ideia de que este é o único mundo possível. Perverso como o capitalismo sabe tão bem ser.
Foi o VPV que uma vez afirmou: "Vivemos num mundo perigoso". Pois é, vivemos mesmo num mundo perverso e perigoso. Afinal concordo mais com ele do que eu pensava.

(Este post é cópia de um outro postado no Trans-ferir)

quinta-feira, maio 17, 2007

Sherds


Fonte: Texas Beyond History

"There is something inherently unsatisfying about counting sherds, for they have no obvious or direct equivalence to any phenomenon in systemic context. Noting this discrepancy, a number of archaeologists have expended much effort in developing new techniques for quantifying pottery, almost with less than satisfatory results. Wheights, maximum and minimum number of vessels (MNV) whole vessel equivalents, and others have been proposed (e.g. Orton 1980, 1982; Chase 1985). Usually those discussions proceed as if archaeologists were searching for one way - the best way - to count pottery. It has become evident, however, that each method furnishes evidence relevant to a different set of research problems. Thus, like all descriptions of the archaeological record, they must have a purpose." (meu negrito)

Schiffer, Michael (1987) Formation Processes of the Archaeological Record. Albuquerque: New Mexico University Press

sábado, maio 05, 2007



Esta lista é mais importante do que possa parecer. Através dela podemos descortinar algumas das parcerias internacionais que a área de arqueologia do IPT mantém. Mas o seu número é ainda maior. Dela não constam por exemplo as nossas parcerias com a América do Sul, nomeadamente com o Brasil.
Esta talvez seja uma das maiores vantagens do IPT.


Podemos aqui ver o plano curricular da Licenciatura em Técnicas de Arqueologia. Ele é variado, dando uma formação de base alargada, mas onde se pode ver a preocupação com a técnica (eu diria que mais do que a técnica existe a questão da Technê). Para além do plano curricular existe também a preocupação com a inclusão de outros elementos académicos, nomeadamente a questão dos trabalhos de campo que se desenvolvem todos os anos, em variados locais.

Técnicas de Arqueologia em Tomar



Esta é a capa do folheto de divulgação da licenciatura em Técnicas de Arqueologia. Graças ao facto da licenciatura ser recente, ela surge desde o início adaptada ao quadro de Bolonha. A licenciatura possui três anos, preparando essencialmente a questão técnica (que possui teoria e prática, pois como sabemos elas são indissociáveis).
A foto é do monumento II de Rego da Murta, estudado por Alexandra Figueiredo.

segunda-feira, abril 09, 2007

Paisagem ferida

"Esta paisagem é um manuscrito com a frase mais bela cortada"

Fernando Pessoa, A Hora Absurda

"Novas Independentes nos esperam"

O caso Universidade Independente trouxe à luz do dia várias questões. Num artigo de opinião recente intitulado "Novas Independentes nos esperam" Paulo Peixoto alertava para os perigos da liberalização do Ensino Superior (Publico 4/4/2007). É uma boa reflexão agora que nos inclinamos para novas formas de gestão dos estabelecimentos de ensino superior.
Mesmo que o Governo decida hoje que a Independente pode continuar (com um Reitor que será próximo do Governo mas com um perfil algo diferente do que a tutela desejaria) existem já danos para a instituição que poderão ser irremediáveis. Isso afectará talvez a imagem de outras instituições já afectada por um outro caso (Moderna).
Existem Universidades privadas de méritos reconhecidos. Algumas ultrapassam mesmo instituições de Ensino Superior publicas. O sucesso da Universidade Católica, sobretudo na área da Gestão, demonstra que o ensino superior privado não é sinónimo de falta de qualidade. Mas infelizmente é a excepção que confirma a regra.
E vem novamente ao de cima o dualismo entre a liberalização e a regulamentação. A pergunta aqui tem de se centrar apenas num elemento: qual garante qualidade? Sendo que essa qualidade é a garantia de futuro para o país (e o debate é muito semelhante ao da liberalização de outras áreas, como a que assistimos na arqueologia).
Poderá uma universidade privada ser uma universidade de qualidade? Sim pode, mas essa qualidade tem de ser exigida ou pelo mercado ou pelo Estado. Sinceramente acho que a força do mercado seria determinante pois consegue ser bem mais poderosa do que a força do Estado. Mas só um cândido pode acreditar que o mercado é simples e se rege pelo boa-vontade. O mercado não é bom nem é mau: é. Porque é composto por pessoas e estas não possuem um traço fundamental bom ou mau (a essência do ser-humano é ser).
O papel do Estado é exactamente esse de poder conduzir o mercado para o que pode ser o bem-comum (como na estátua em que um poderoso garanhão é domado por um ser humano).
Em Portugal o mercado (ou seja nós) não exige qualidade. Exige quantidade e baixo preço. O nosso mercado reflecte a lógica que impusemos às populações. Elas foram conduzidas neste modelo, baixo custo/baixo preço/em quantidade. Sair cedo da escola para trabalhar. Ganhar dinheiro para poder alimentar alguns sonhos à medida da (pequena) bolsa. Fazer pela vida.
Esta foi a receita do abandono escolar. Na Escola hoje como no passado, quem quer estudar é o "marrão", o "idiota", o "nabo". Aquele que não sabe nada da vida.
Em Portugal as pessoas fazem pela vida desde cedo sem pensar bem nas consequências. Vive-se no domínio da dicotomia teoria/prática com privilégio para a segunda via. O elogio da prática é o elogio do fazer pela vida. O elogio da teoria reforça apenas esta divergência. A Technê e a Poiesis foram desmembradas. E por isso mesmo é que desconfiamos tanto de quem possa saber. Por isso é que os doutorados não entram nas empresas. Aquele era o marrão que não sabe da vida face ao empresário que a ganhou a pulso. A dualidade reforça-se e a oportunidade perde-se. É uma luta pelo poder através do saber. Afinal quem sabe manda, mas continuamos perdidos sobre o que significa saber (Teoria...Prática...). Enquanto não ultrapassarmos esta divisão não estamos à altura do desafio.
Tal como a nossa pesca nunca passou de arte a tecnologia, podemos afirmar que nunca fomos modernos. Logo estamos condenados a uma espécie de pós-ante-modernidade.
O saber não se articula com o fazer. Por isso mesmo reforçaram-se as Ordens. O corporativismo tornou-se o arauto da qualidade e da regulamentação ante o Estado e o Mercado. As licenciaturas em Engenharia tornaram-se a caricatura de tudo isto.
Ainda me lembro da Engenheira Fábia. A história conta-se rapidamente. O Gabinete de Informática do IPT indicou-me uma loja de informática que prestava bons serviços. Disseram-se para contactar a Engenheira Fábia. Pensei logo que se trataria de alguém formado em Engenharia Informática que poderia prestar a melhor assistência aos meus problemas. Pensei "Que sorte, temos uma casa de informática que presta serviços de qualidade e com acompanhamento profissional!!". Cheguei à loja. O espaço era igual ao de muitas lojas de informática. Uma jovem estava no balcão. Perguntei pela Engenheira Fábia, esperando ter acesso à especialista. A rapariga prontamente me respondeu: "A Engenheira Fábia sou eu". Com a licenciatura em Engenharia Civil a Fábia estava agora atrás de um balcão. Era especialista em tabelas de preços e fornecedores. Infelizmente pouco me poderia ajudar no tipo de aconselhamento informático que eu precisava, mas indicou-me um excelente preço para uma placa-gráfica.
A Engenheira Fábia tentou o caminho do saber, mas acabou como todos a fazer pela vida. Segundo ela em Portugal é o único caminho. Acham que ela vai querer que os filhos tenham uma licenciatura?
Afinal em Portugal o que significa estudar? E o que significa estudar numa universidade independente?