segunda-feira, janeiro 08, 2007

Trans-Ferir



Fonte: YouTube

"Space, the final frontier. These are the voyages of the starship Enterprise. Its five-year mission: To explore strange new worlds. To seek out new life and new civilizations. To boldly go where no man has gone before."
Star Trek (retirado de WIkipedia)

Depois de uma mais ou menos longa ausência, eis me de regresso.
Nunca liguei muito à questão do Ano Novo. Sempre vi o calendário como algo estranho, imposto. Ligo mais à mudança das estações do ano que acabam por formar, essas sim, o meu calendário.
A frase "Ano Novo, vida nova" sempre me pareceu apenas uma expressão de vontades, um processo de intenções. A consideração sobre a mudança de vida ajuda a ilustrar também um pouco a noção que tenho de calendário. Lembro-me por exemplo de como a minha mãe a cada Primavera decidia mudar a disposição dos móveis, afirmando "Isto agora vai mudar cá em casa". A intenção era boa, mas com o fluir do tempo... a peça seguia e apenas o cenário mudava. Também a cada ano lectivo lá apareciam os novos livros, os cadernos, as canetas, tudo muito organizado em Outubro, para logo se começar a perder Outono a dentro.
A meia-noite que marca a passagem do ano, sempre me pareceu apenas a desculpa para uma noite de festa. Os votos e os desejos que nesse momento se fazem... acabam mortos como vãs intenções repetidas.
Trata-se de algo diferente da transformação a que a religião apela. Veja-se a Pascoa Cristã. Ela é uma mudança, aprofundada, matura, meditada em jejum na Quaresma. Existe uma via-sacra pessoal, que hoje poucos mantêm (Recomendo as "Meditation pour la Careme" de Charpentier, recentemente editadas pela alpha). Também é certo que provavelmente em jejum e abstinência torna-se difícil fugir de um mero pensamento asceta, mas…
Existem mais exemplos desta passagem para um Homem novo, a recriação do mundo do tempo cíclico (Durkheim). Essa transformação levou por exemplo à morte do capitão Cook como Deus Lono sacrificado (Sahlins 1987).
A cada transformação temos assim a celebração da vida pela morte ("O Rei morreu! Viva o Rei!"), a contradição que permite a afirmação.

Este post não anuncia uma morte, nem uma ressurreição. Anuncia de qualquer modo o nascimento de algo novo (uma Natividade). Passem pois pelo novo blog Trans-ferir, um projecto conjunto com o Vìtor Oliveira Jorge.

O Gundisalvus continua. Já pensei muitas vezes em encerrar este blog, mas ele tem sempre singrado e no final acabou por se tornar verdadeiramente naquilo que um blog deve ser. O Gundisalvus é um espaço pessoal onde sobretudo eu vejo um caminho e reconheço uma série de momentos da minha vida. O íntimo e o pessoal estão invisíveis perante uma máscara de aparente transparência. Sempre achei interessante como o crítico pensa ter entrado na intimidade do autor ("A vida e a obra de..."). Contudo a intimidade existe em último análise no próprio e naquilo que ele assente partilhar. A intimidade roubada é no fundo a intimidade violada, permanecendo intimidade no próprio e sendo apenas roubo e exposição para os outros. Quando ela é exposta publicamente por vontade de Ego torna-se publi -cidade.
Aqui num cantinho da Internet não reside a intimidade. O Gundisalvus é apenas um mero caderno de apontamentos público, um Web-log. Vejo-o como uma espécie de data-log da Enterprise que abre este post.
Ciclicamente:

"Space, the final frontier. These are the voyages of the starship Enterprise. Its five-year mission: To explore strange new worlds. To seek out new life and new civilizations. To boldly go where no man has gone before."
Star Trek (retirado de WIkipedia)

Sem comentários: