terça-feira, maio 10, 2005

Por em causa

Ouvi ontem o Sr. Presidente dizer que nos devíamos virar e questionar outros, para não serem sempre os dos costume.
Virou-se então para as taxas de reprovação no ensino superior, para a avaliação deste e para o colocar em causa os professores do ensino universitário e politécnico.
Estou no ensino superior há alguns anos, primeiro como aluno e hoje como docente e aluno.
Não sei porque é que o Sr. Presidente virou para ali. Se foi porque era o único lado da cama livre, ou se foi porque os filhos não estão a ter o aproveitamento que queria, ou se por qualquer outra razão.
Mas posso relembrar o Sr. Presidente de que, quem tem sucesso aqui costuma-o ter também fora de portas. Os inúmeros jovens da minha geração (tenho 30 anos) que estão a dar cartas a nível internacional são disso exemplo. E não voltam. E sabe o Sr. Presidente porquê?
Não, não é por ter professores que os reprovassem (que não os estimulassem talvez, mas que os reprovassem, não crei).
Sobretudo é porque não têm condições. Porque o ensino universitário em Portugal é extremamente desmotivante. Porquê? Porque teriam de ocupar parte do seu tempo a dar aulas e sabe o Sr. Presidente a quem. A uma maioria que tem um nível de conhecimentos baixíssimo, habituam-se a fazer copy-paste do Google desde cedo, não lêem e tantos outros maus hábitos.
Infelizmente já há tempo que me deixei de espantar que as Faculdades tivessem mais patrocínios de marcas de cerveja do que de editores livreiros (é fácil os alunos gastam bem mais dinheiro num do que noutro). As cervejeiras de certo patrocinaram de bom tom o argumento de que “Divertir-se é preciso”.
Sr. Presidente, lembra-se do anúncio em que um aluno sonhando com a festa do dia anterior acorda na aula para exclamar o resultado certo? Pois é, mas no ensino superior é difícil que o resultado certo seja sempre três cervejas pedidas no bar no dia anterior.
A não ser que comecemos a ter como base do ensino universitário a matemática das equações de 2 grau.
Todos bebemos cervejas e vamos a bares e divertimo-nos, mas não fazemos disso o ensino superior.
Porque quando a “ave rara” é aquele que vai à Biblioteca, o que mostra interesse, o que sabe, dificilmente conseguiremos ter taxas de aprovação superiores.
Mas podemos sempre começar a ter testes cervejeira.
Não foi o Sr. Presidente que se referiu uma vez à “cultura da exigência”?

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