Esta conversa do défice…
É verdade que em Portugal temos défice de muita coisa (de Educação, de Saúde, de Cultura) mas parece-me que claro que esta conversa do défice orçamental é um argumento encapotado. É o mais claro ataque do liberalismo económico desenfreado. Menos Estado, melhor estado (é o argumento).
Ontem na SIC Noticias (Jornal de Negócios), dois especialistas advogavam, pela enésima vez, o emagrecimento do Estado.
Faz lembrar a história do cavalo do inglês. Há que cortar na despesa maior.
No caso do cavalo já se sabe, deu mau resultado, o cavalo morreu…de fome.
Simples consequências:
- aumento do desemprego (curioso que foi o tema deixado para último no dito programa) – o tecido económico português no quadro actual não tem capacidade de absorver + 300.000 pessoas.
- menos recursos
- piores serviços (quando se pensa em sectores como a saúde, ou a segurança, onde existe já falta de efectivos, já se está a ver onde isto vai dar).
Na trilogia de gestão Eficiência, Eficácia, Vantagens competitivas, ficamos nas eras dos 60 ou 70, ou seja Eficiência (fazer mais) Eficácia (com menos). Onde está o pensamento de tirar partido das nossas vantagens competitivas. Não há?? Tem de haver.
O discurso da competitividade vai assim substituir o do défice, já se está a ver porquê.
Está lá no horizonte. Mas resta saber como. Que competitividade? Como fazer crescer a economia? O Milagre é o Estado Anoréxico?
Pois é. Infelizmente de futuro ainda vamos ouvir pregar contra o bem-comum para bem-comum.
A melhor caricatura desta conversa (que foi toda aquele anedota chamada Jornal de Negócios) foi no final quando o Presidente da SIBS (quem gere o Multibanco) fala dos custos da educação.
A pergunta foi relativa ao facto que os alunos do ensino particular serem subsidiados pelo Estado, aumentando assim os gastos da Educação. A resposta foi divinal:
- Os Pais dos alunos no ensino particular são taxados duas vezes, ao pagarem as ditas propinas e ao descontarem impostos.
Esqueceu-se o Sr. de que de facto essas propinas recebem em parte o apoio do Estado, sendo a opção única e exclusivamente sua, de não querer que os seus filhos frequentem o Ensino Pulico. Ou seja, nós todos é que acabamos por pagar por essa sua opção.
Será que a resposta a Ensino Público de qualidade é ensino privado? Acho que as nossas Universidades respondem bem a essa questão. Mas isso é uma outra conversa.
sexta-feira, maio 20, 2005
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